A história da Dacia reveste-se de pequenos passos de sucesso, estando presente na Europa há 16 anos, valorizando-se de forma significativa para lá da simples ideia de marca de baixo custo. Tanto que entre os clientes particulares, o Sandero é o mais vendido tanto na Europa, como em Portugal. A nível mundial, estando presente em 44 países, a marca romena já vendeu mais de sete milhões de unidades, num valor que não deixa de impressionar.
O passo seguinte – que a Dacia apresenta como a sua terceira revolução – assenta no degrau da mobilidade 100% elétrica, com o pequeno Spring a prometer afirmar-se como a solução de acesso democrático aos elétricos. Um modelo de baixo custo, naturalmente, mas que não perde de foco os paradigmas de alegria, simplicidade, robustez, otimismo e pragmatismo que são transversais à marca, entretanto aliada à Lada na unidade de negócio dentro do Grupo Renault.
Mas, mais relevante é o facto de a Dacia ter acesso aos mais recentes avanços em termos de tecnologia de eletrificação do grupo gaulês, assumindo-se ao mesmo tempo como o elétrico mais acessível do mercado, num epíteto que era até aqui atribuído ao Renault Twingo elétrico.
Visual SUV irreverente
Tal como sucede com os novos Sandero e Logan (este não disponível em Portugal), o novo Spring incorpora a mais recente filosofia de estilo da Dacia, aqui aplicada numa carroçaria curta e de aspeto SUV, numa combinação que não é ‘inocente’: a marca espera capitalizar a tendência de crescimento dos SUV, com um visual robusto para um citadino de segmento A, assente na plataforma CMF-A. O novo Spring mede 3734 mm de comprimento, 1516 mm de altura e 1770 mm de largura, dispondo ainda de 151 mm de distância ao solo.Na dianteira, a grelha simulada dá o mote para uma identidade única que é sublinhada pela divisão dos grupos óticos, com a assinatura DRL em LED na parte superior. Na traseira, de configuração simples, os farolins têm o desenho de ‘Y’ que já se viu no Sandero.
Já o interior é simples e essencial, mas não deixa de oferecer bons apontamentos de funcionalidade e de correção na construção – sem fugir à ‘ditadura’ dos plásticos rijos que povoam todo o habitáculo. O condutor tem direito a um ecrã digital TFT de 3.5” ao centro do painel de instrumentos (com controlo por botão no painel e não no volante), não havendo ajuste em altura e alcance da coluna da direção, nem em altura do banco do condutor. Há 23,1 litros de espaços de arrumação a bordo e 290 litros de capacidade de bagageira, subindo para os 620 litros com o rebatimento (em bloco) do encosto do banco traseiro.
O espaço nos bancos traseiros é modesto, mais para as pernas do que em altura. Nada surpreendente, atendendo às suas dimensões compactas.
Tecnologia à Dacia
Quanto a carregamentos, sendo a bateria arrefecida a ar, a carga máxima admitida em DC é de 30 kW, um valor modesto, mas que chega para uma carga completa de zero aos 100% em 1h30m ou menos de uma hora para chegar aos 80%. Já em AC, numa ‘wallbox’ de 7.4 kW, demora menos de cinco horas para uma carga completa, enquanto numa tomada de 2.3 kW leva menos de 14 horas.
A aplicação My Dacia permite controlar alguns destes parâmetros de forma remota, como o estado de carga da bateria, o envio de uma rota do smartphone ou a ativação da climatização de forma remota.
Aços de alta resistência foram utilizados para reforçar a carroçaria em torno da célula do motor e do habitáculo (em especial no pilar B e nas travessas das portas). A zona inferior da carroçaria também foi especialmente reforçada para proteger a bateria de impactos. Para facilitar o acesso aos serviços de emergência em caso de necessidade, esta zona vem equipada com um sistema de desconexão das baterias e um sistema de abertura rápida que permite aceder, mais facilmente, ao interior da bateria.
Três formas de ser Spring
Regressando à versão ‘Cargo’, esta distingue-se pela maior capacidade de carga, 1100 litros (325 kg de peso admissível), e pela rede divisória no habitáculo. Disponível apenas em 2022, esta versão comercial beneficia da isenção de IVA, entre outros benefícios fiscais reservados para os veículos elétricos.
Equipamento simplificado
A gama do Spring tem apenas dois níveis de equipamento, ‘Comfort’ e ‘Comfort Plus’, com poucas opções de equipamento, destacando-se a pintura metalizada (400€) e o cabo de carregamento DC de 30 kW (550€). A primeira tem um custo base de 16.800€, enquanto a segunda remete para os 18.300€, valorizando-se pelo equipamento mais completo.
O sistema de entretenimento Media Nav e os retrovisores elétricos estão disponíveis em função do nível de equipamento selecionado. Esse sistema multimédia inclui um ecrã tátil de 7.0″, navegação GPS, rádio DAB (digital), compatibilidade sem fios para os sistemas Apple CarPlay e Android Auto, dispondo até de reconhecimento vocal (embora através do smartphone) com botão localizado no volante. Com este, pode ativar por voz e controlar os sistemas iOS ou Google do seu smartphone.
No lançamento, terá um extrovertido “pack” colorido com espelhos, barras de tejadilho, acabamentos das portas e as molduras das entradas de ar em laranja ou com apontamentos no mesmo tom. No interior, os revestimentos dos bancos, assim como as molduras das saídas de ventilação e do ecrã multimédia, também são em laranja, enquanto os painéis das portas são em cinzento brilhante.
A bateria tem uma garantia de oito anos ou 120 mil quilómetros, enquanto o automóvel em si tem uma garantia de três anos ou 100 mil quilómetros.
PRIMEIRO CONTACTO COM O DACIA SPRING
Numa operação centrada no Porto, a Dacia permitiu aos jornalistas efetuarem um primeiro contacto com o Spring, colocando à prova este pequeno elétrico em condições reais de utilização, retribuindo algumas surpresas para quem esperava um modelo mais limitado em autonomia.
Começando pelo visual e apesar do estilo mais robusto, o Spring é um modelo de segmento A, não só pelas suas dimensões compactas, mas também pelos materiais utilizados – plástico rijo, mas de construção rigorosa em bom ambiente geral. Honesto, mas cumpridor e agradável. Por outro lado, a falta de ajustes da coluna da direção e do banco do condutor são pontos menos agradáveis. Porém, ótima visibilidade em todos os ângulos.
Passando pelos detalhes técnicos, se é um facto que o novo Spring apresenta valores modestos para os cânones usuais de um elétrico, com apenas 33 kW/44 CV de potência, o binário de 125 Nm compensa largamente esse facto, permitindo-lhe manter ritmos de forma bastante fácil, ajudando naturalmente pelo baixo peso.
Essa agilidade de andamento faz com que o Spring ande ‘alegremente’ em cidade a velocidades de até 50 km/h ou 60 km/h sem dificuldades, apenas demonstrando alguma limitação quando é preciso acelerar mais depressa a partir desse patamar de velocidade, por exemplo, ao entrar numa autoestrada. Ainda assim, o binário faz com que seja mais competente do que muitos rivais com motores de combustão. Depois, há uma boa naturalidade de reações em curva. A direção, sendo leve, é direta q.b., ajudando a uma dinâmica que é bem composta e até surpreendente. Na combinação das prestações com a estabilidade direcional, o Spring acaba por ser divertido.
Já em autoestrada há a tal dificuldade em aceleração pura, mas é algo que se pode esperar para um modelo que, tendencialmente, quer ser usado em cidade. Dito isto, viajar a 110 ou 120 km/h não é preocupante, embora tenha como contrapartida um gasto ligeiramente maior de energia da bateria. Mas, também aqui o Spring revela um dado muito positivo – é eficiente.
No total, percorremos pouco mais de 100 quilómetros, numa primeira metade com caminhos por estradas nacionais e, na segunda metade, por autoestrada e via rápida quase por inteiro. O resultado da primeira viagem retribuiu uma média energética de 11.4 kWh/100 km. Após a segunda viagem, o combinado apontou uma média de 12.5 kWh/100 km, com uma autonomia restante de 134 quilómetros. Ou seja, a sua taxa de esforço em autoestrada não nos pareceu tão penalizadora quanto seria de imaginar antecipadamente. Ou seja, o Spring não se ‘fecha’ no ambiente urbano e revela até energia para outras paragens.
Nesta combinação de elementos, o Dacia, mantendo os valores de otimismo e de robustez, assume-se como uma ótima solução. Será este o elétrico que o povo precisava para a afirmação da mobilidade elétrica? A resposta parece muito mais virada para o lado afirmativo…
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