A cada nova geração, os lamentos quanto à continuidade estética do Golf repetem-se. No entanto, sendo o automóvel mais vendido da Europa, a receita parece funcionar. Sendo assim, para quê mudar? No entanto, o foco da nova geração do Volkswagen não está no desenho, mas sim nos pontos ocultos ao olhar, sendo aí que promove uma verdadeira revolução face ao modelo precedente. Mais e melhor conectividade, maior funcionalidade e aposta na eficiência pela eletrificação são os fundamentos de modelo que já leva mais de 35 milhões de unidades vendidas desde que o primeiro Golf saiu da linha de montagem, em 1974.

Fundamental para a Volkswagen, o Golf traduz, nesta sua oitava encarnação, um espírito tecnológico muito mais evidente, promovendo aquilo que a marca apelida de revolução digital para a era moderna. Tendo por base a plataforma MQB, de créditos firmados, o Golf muda pouco nas suas dimensões, ainda que apresente algumas diferenças evidentes face ao anterior Golf. A fita métrica dita um comprimento de 4284 mm, uma largura de 1789 mm e uma altura de 1456 mm, com uma distância entre eixos de 2636 mm.

Melhora ligeiramente a habitabilidade, sobretudo nos lugares posteriores, enquanto a bagageira mantém idênticos 380 litros com os cinco lugares operacionais, chegando aos 1237 litros com os encostos rebatidos.

Se os traços gerais não mudaram muito, importa referir que existiu muito trabalho de aprumo aerodinâmico, com a Volkswagen a reduzir o coeficiente de arrasto (Cd) de 0.3 para 0.27. Objetivo: uns gramas a menos na tabela de medições WLTP e Real Driving Emissions (RDE).

Eletrificação em nível superior

A gama de novos modelos do Golf terá opções para quase todos os gostos, havendo forte aposta na eletrificação – apenas o elétrico (e-Golf) desaparece, vagando espaço para o novo ID.3 da marca alemã, que será afinal, uma espécie de concorrente interno –, desde logo pela aplicação de tecnologia mild-hybrid de 48 volts nos motores a gasolina 1.0 TSI e 1.5 TSI. Ganham a letra ‘e’ agregada ao nome e passam a ser eTSI.

O primeiro terá 110 CV, perdendo 5 CV de potência face ao motor atual (sem sistema mild-hybrid, refira-se), enquanto o segundo surgirá no mercado com duas potências disponíveis: 130 CV (200 Nm de binário máximo) e 150 CV (250 Nm de binário máximo). Em ambos os casos, existirão igualmente variantes convencionais sem o sistema de 48 volts, que serão mais acessíveis, com a seguinte ordem em termos de posicionamento: 1.0 TSI de 90 e de 110 CV e 1.5 TSI de 130 CV e de 150 CV.

O sistema ‘mild-hybrid’ permite redução nos consumos e nas emissões que é, seja qual for o ângulo de abordagem, importante para atingir as metas de emissões poluentes na União Europeia já a partir de janeiro de 2020 (95 g/km de CO2 para a média da gama). Na prática, o sistema consiste num pequeno alternador/gerador elétrico por correia que permite recuperar energia das fases de desaceleração para acumulação numa pequena bateria de 250 Wh, a qual permite auxiliar o motor de combustão interna nos arranques e alimentar alguns dos sistemas acessórios para assim ganhar eficiência. Ao mesmo tempo, garante também maior refinamento na atuação do sistema start-stop, sobretudo na fase de reativação do motor térmico.

Todos os motores são sobrealimentados e de injeção direta e, assim que todas as variantes tiverem sido lançadas (oito no total), o leque de potências irá variar entre os 90 CV (1.0 TSI) e mais de 300 CV (2.0 TSI para o Golf R).

Além dessas mecânicas a gasolina, a marca terá ainda opções Diesel, saindo de cena o 1.6 TDI em benefício de um 2.0 TDI com dois níveis de potência. A versão de acesso tem 115 CV e 300 Nm de binário máximo, enquanto a outra oferece 150 CV e 360 Nm de binário. A Volkswagen refere que estes novos motores turbodiesel foram alvo de um enorme trabalho de afinação para redução de consumos e emissões (menos 17% de consumos do que nas versões equivalentes do anterior Golf), destacando-se aqui a tecnologia utilizada para cortar nas emissões de NOx e outras partículas nocivas. A marca alemã recorre a um sistema de tratamento duplo dos gases de escape por via de Redução Catalítica Seletiva (SCR), injetando AdBlue em dois momentos de funcionamento. Batizado ‘Twin dosing’, este sistema injeta AdBlue numa primeira fase logo à saída dos gases de escape junto à cabeça – numa temperatura mais alta – e, depois, já na saída dos coletores para a linha de escape, aqui mais frio. A diferença de operação térmica entre os dois patamares é de cerca de 100 graus centígrados. As alterações técnicas foram tantas que o bloco, o EA 288 ganhou expressão Evo associada (EA 288 Evo).

Noutra linha de eficiência, serão propostos dois sistemas Plug-in híbridos, um mais orientado para a economia, com 204 CV, e outro, na forma do desportivo GTE, com 245 CV, sendo uma evolução do modelo atual. Os dois Golf de ligar à tomada dispõem de uma nova bateria de iões de lítio de 13.4 kWh para maior autonomia elétrica.

A nível de chassis, a marca aponta como grande destaque a aplicação do sistema de modos de condução DCC, aprimorado para oferecer uma maior diferenciação entre os diferentes tipos de condução oferecidos. O condutor pode optar entre o ‘ECO’, ‘Comfort’, ‘Sport’ e ‘Individual’, sendo este personalizável ao gosto de quem vai ao volante. As melhorias feitas no chassis permitem que o Golf de oitava geração seja mais ágil e eficaz de conduzir, melhorando substancialmente o seu comportamento face ao Golf anterior. O sistema DCC também atua sobre o diferencial eletrónico XDS, adequando-o ao estilo de condução pretendido. Mas há um pormenor interessante: no nível de acerto personalizado, o condutor pode fazer ajustes intermédios ou mais extremos. Isto é, o modo Comfort pode ser ainda mais propenso para o lado do conforto e o Sport ainda mais apurado, havendo liberdade para lá de cada um dos modos pré-definidos.

Revolução tecnológica

Verdadeiramente alvo de uma revolução, o interior corta radicalmente com o conceito visto até aqui em termos de ergonomia, levando agora em conta o foco da digitalização agarrada à simplificação, numa trilogia ‘S’ a que se juntam surpreender e seduzir. Isto porque a aparência geral do habitáculo do novo Golf é muito limpa, mas ao mesmo tempo moderna e adaptativa, seduzindo uma grande faixa dos clientes. Assim, os comandos físicos são reduzidos ao mínimo e indispensável, com a Volkswagen a colocar no ecrã central de 8.25 polegadas (ou de 10” nos sistemas de infoentretenimento mais evoluídos Discover Media e Discover Pro, opcionais) a grande maioria das funções e configurações num conceito integrado Innovision Cockpit.

Logo abaixo do ecrã central existe uma pequena barra com comandos táteis embutidos numa solução que, embora moderna, não nos pareceu totalmente intuitiva na condução. Nessa barra estão inseridos apenas os comandos do volume do áudio e atalhos para a temperatura da climatização, sendo que a grande ‘central’ de utilização para o ar condicionado é acessível também a partir do ecrã tátil (com diferentes modos e configurações possíveis). O mesmo é aplicável para o ajuste de elementos como a luminosidade ou a posição do head-up display (quando disponível). Para o condutor está reservado o painel de instrumentos digital, que é de série em todas as versões, com um ecrã de 10 polegadas.

Mais abaixo, na consola central, as saídas de ventilação ganham formato horizontal, para conferir uma sensação de maior largura ao habitáculo (com um centro de atalhos no meio da consola central, incluindo-se aí os modos de condução ou o assistente de estacionamento). No túnel central, botão de ignição e, no caso de caixa automática DSG, pequena alavanca estilizada para o seu controlo, aproveitando o facto de ter agora tecnologia ‘Shift-by-Wire’.

O tablier tem revestimento macio ao toque na sua parte superior e também na parte superior das portas, combinando com plásticos duros na parte inferior de ambas as zonas. Aparenta qualidade, robustez e construção sem mácula.

Inteligência ativa e reativa

Permanecendo ainda no foro tecnológico, o novo Golf dispõe de sistema com controlo por voz através da frase ‘Hello Volkswagen’, podendo ainda receber a assistente online da Google, a Alexa, para tirar qualquer dúvida por via daquele motor de busca: sem tirar os olhos do volante, o condutor pode pedir que a Alexa passe música, controle objetos em sua casa (desde que compatíveis e ligados em rede) ou leia notícias. Na apresentação, o sistema apenas respondia aos comandos em inglês, mas no futuro irá também falar na língua portuguesa. Também para o futuro está reservada a possibilidade de aceder ao carro a partir de um smartphone, fazendo com que as chaves tradicionais se tornem desnecessárias.

Mas há ainda mais notícias tecnológicas para o Golf de oitava geração. No campo da segurança, passa a ter uma série de funções de assistência englobadas no Travel Assist, podendo auxiliar na tarefa da condução a velocidades até 210 km/h. A Volkswagen aponta que o Golf pode manter o controlo da direção, acelerador e travões até àquela velocidade, assegurando a permanência na faixa de rodagem e a distância para os outros veículos. Ao mesmo tempo, pode até imobilizar o veículo caso detete, por ausência de comandos por parte do condutor, que este tenha adormecido ou sentido algum problema de saúde incapacitante. Fá-lo após alertas sonoros e acústicos, ativando de pronto os pré-tensores dos cintos de segurança e os indicadores de perigo, vulgo quatro pistas. Por fim, trava até se imobilizar.

Conectividade 3.0

A possibilidade de estar ligado em rede com outros elementos da via é igualmente uma novidade. O Golf é o primeiro Volkswagen a estar ligado ao seu ambiente envolvente graças à funcionalidade de série Car2X, que recebe a informação de veículos num raio de até 800 metros além de alertas da infraestrutura para avisar os condutores sobre eventuais perigos ou avisando os outros utilizadores. Com recurso a um cartão integrado eSIM, o automóvel pode estar igualmente ligado em rede aos serviços e funções ‘We Connect’ e ‘We Connect Plus’, fornecendo por exemplo informações úteis de pontos de interesse no caminho definido na navegação.

A marca de Wolfsburgo destaca ainda o potencial avançado da solução de iluminação proporcionado pelo sistema IQ Light LED que permite diversificar o foco consoante as condições da estrada ou até, no futuro, emitir alertas para outros utilizadores da via por intermédio das luzes. Mas, também dará espaço para o negócio: uma das possibilidades lançadas por este novo sistema é o de personalizar o desenho da iluminação de circulação diurna ou os farolins, mediante um custo. No entanto, ainda não há detalhes muito concretos sobre esta possibilidade.

Passagem de nível

A linha de equipamentos até aqui utilizada pela Volkswagen para o Golf vai ser completamente reformulada, com o desaparecimento as linhas de equipamento anteriores “Trendline”, “Comfortline” e “Highline”. No seu lugar surgirão as linhas “Golf”, “Life” e “Style”, secundada por uma versão desportiva “R-Line”. No equipamento base a lista já é folgada: faróis e grupos óticos traseiros em LED, ignição ‘keyless’, instrumentação digital, ecrã de 8.25 polegadas, serviços online e funções ‘We Connect’ e ‘We Connect Plus’, volante multifunções, cruise control adaptativo, ar condicionado automático, sistema de manutenção na faixa, travagem em curva caso venha um veículo de frente, Front Assist com monitorização da área envolvente com travagem de emergência e proteção de peões e ciclistas, bem como o sistema de conectividade Car2X.

O novo Golf chegará o mercado nacional em março de 2020, surgindo com as versões 1.0 TSI de 110 CV (com e sem Mild Hybrid), 1.5 TSI de 150 CV (com e sem Mild Hybrid) e 2.0 TDI de 115 CV e 150 CV. Mais tarde, em junho, chegará o PHEV GTE de 245 CV, chegando no mês seguinte as variantes GTI de 245 CV e GTD de 200 CV, além da mais potente R de 333 CV. Haverá ainda uma versão carrinha ao longo de 2020, mas o mesmo já não acontecerá com o três portas, que faz definitivamente parte do passado.

O preço estimado para o modelo de entrada neste caso, o 1.0 TSI de 110 CV, ronda os 26.000€, sendo o mesmo do Golf atual, mas com bastantes mais conteúdos. Já a expectativa de vendas aponta para um crescimento da importância das versões a gasolina, aumentando dos atuais 30% para perto de 50%.

Golf 1.5 TSI

Golf 1.5 TSI

Golf 1.5 eTSI

Golf 2.0 TDI

Golf 2.0 TDI

Potência (CV)

130

150

150

115

150

a rpm

5000 – 6000

5000 – 6000

5000 – 6000

3250 – 4000

3500 – 4000

Binário máximo (Nm)

200

250

250

300

360

a rpm

1400 – 4000

1500 – 3500

1500 – 3500

1750 – 3200

1750 – 3000

Cilindrada

1498 cc

1498 cc

1498 cc

1968 cc

1968 cc

Caixa de velocidades

Manual, 6

Manual, 6

DSG, 7

Manual, 6

DSG, 7

Vel. máxima

214 km/h

224 km/h

224 km/h

202 km/h

223 km/h

0-100 km/h

9,2 s

8,5 s

8,5 s

10,2 s

8,8 s

Comprimento

4284 mm

largura

1789 mm

Altura

1456 mm

Distância entre eixos

2636 mm

Mala

380 – 1237 litros

 

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