Renault Clio RS 220 EDC Trophy: Descubra o piloto que há em si

30/07/2017

O Clio R.S. 220 EDC Trophy esticou os limites dos “pocket rocket” da última geração. Entusiasmante e pleno de diversão, mas muito mais exigente que o “irmão” R.S. 200, o “Trophy” é pouco menos que um pequeno carro de competição… vestido à civil!

Vamos ser pragmáticos. Se acha o Renault Clio “bonitinho”, perfeito para as suas “voltinhas” do quotidiano e até “divertidinho” de conduzir, então este artigo não é para si! Não vale a pena perder tempo, porque não é nele que vai descobrir, quantos litros poupa por mês a andar devagar, que “tralha” cabe no porta-luvas ou se três das suas quatro melhores amigas irão comodamente atrás, no passeio que agendaram para o próximo domingo!

… Ainda aí está?… Ótimo! Então é porque sabe o que querem dizer as siglas “R.S.” e tem um considerável respeito pela denominação “Trophy”!

Exterior

“Equilíbrio” é talvez a palavra certa para descrever a fisionomia exterior do Clio R.S. 220 EDC Trophy! Vai encontrá-lo entre o “lobo com pele de cordeiro” e o verdadeiro “lobo com pele de lobo”! Na parte dianteira, o ar de família “Clio” é indisfarçável, mas, um olhar mais atento, acaba com as dúvidas de que este Clio é especial. Se o lettering “R.S.” sob o losango da grelha impõe respeito (e imporá ainda mais, quando ele, rapidamente, estiver quase “entrar” pelo seu retrovisor adentro), a grelha inferior, com ‘lábio’ fluído e os faróis R.S. Vision (luzes de nevoeiro com iluminação em curva, luzes de cruzamento e luzes de estrada, donos de uma iluminação prodigiosa e cujo desenho faz lembrar – e não por acaso – o formato da bandeira de xadrez das corridas) nas extremidades, dão um toque “agressivo” ao mais radical dos Clio.

Lateralmente, o destaque vai para a discreta inscrição “Trophy” (na parte inferior da porta traseira), mas os vidros traseiros escurecidos e os retrovisores exteriores rebatíveis eletricamente e com desembaciamento também tornam o Clio Trophy mais exclusivo.

Já na parte traseira é o design descaído do spoiler traseiro R.S., juntamente com o monograma “Renault Sport” (lado esquerdo) e “R.S.” (lado direito) que marcam a diferença, sobretudo, quando, harmonicamente, combinados com o difusor traseiro e os escapes retangulares Akrapovic (infelizmente, disponíveis como extra).

O único senão é mesmo o facto da carroçaria do Trophy (como também de qualquer Clio dos dias de hoje) estar apenas disponível em cinco portas. Uma traição para os amantes dos carros desportivos, apenas compensada pela maior versatilidade oferecida!

Interior

Abrir a porta do Clio R.S. 220 EDC Trophy não significa entrar no “país das maravilhas”, mas não faltam atrativos que nos fazem esboçar um sorriso, ainda antes de carregarmos no botão “start” que acorda o motor, com um ronco forte e vigoroso. Os bancos dianteiros Renault Sport (com a sigla R.S. nos encostos de cabeça), em tecido, assumem a configuração de “bacquet” (mas só o do condutor tem regulação em altura), oferecendo um notável e muito eficiente apoio lateral, sendo fácil encontrar a posição ideal de condução, bem “afundado” no banco, até porque o volante (com sigla “R.S.” na parte inferior), admite afinação em altura e profundidade.

Depois, os cintos vermelhos, parecem provocar o coração, numa atitude concertada com o punho da alavanca de velocidades e o travão de mão em couro, com posponto vermelho, que incrementam os genes desportivos do Clio e aceleram, por si só, o ritmo cardíaco.

Os pedais em alumínio e as patilhas (em dark metal) para as passagens de caixa no volante completam as emoções do habitáculo, que não estariam completas sem o botão R.S. Drive, instalado na consola inferior e que oferece três modos de condução diferentes: “Normal”, “Sport” e “Race”, mudando, definitivamente a personalidade deste Clio.

Nos lugares traseiros (o banco é rebatível nas configurações 1/3 e 2/3), o espaço não é abundante, mas dois passageiros encontram espaço para viajar minimamente confortáveis… se se conseguirem abstrair, claro, da dureza da suspensão!

Ao volante

Guiar o Renault Clio R.S. 220 EDC Trophy é uma experiência que rapidamente se transforma em paixão. E uma paixão viciante, haja carteira cheia para o sustentar! Com todos os ingredientes de “brinquedo de adulto”, o “Clio Trophy” apresenta, como cartão de visita uma dinâmica ainda mais apurada que, a já se si, bastante satisfatória que “equipa de série” a versão R.S. 200 EDC.

E se o vulgarmente conhecido por “Clio R.S.” já é um hino de sensações, o “Clio Trophy” acrescenta a isso desafios de condução equivalentes ao provocados por carros muito mais potentes.

O segredo está na afinação do chassis efetuado pela Renault Sport, que substituiu o chassis “Cup” por um muito mais rígido chassis “Trophy”, sobretudo, na dureza das suspensões dianteira e traseira, que o tornam um carro ideal para “Track Days”, mas difícil de guiar, para mãos (e pés!) pouco experientes, numa estrada sinuosa, onde seja necessário jogar rapidamente com as transferências de massas. Isto significa, que mesmo sendo um “tração dianteira”, o “Clio Trophy” transforma-se muito facilmente num “tração traseira”, tal a facilidade com que a traseira descola do asfalto, num movimento, perfeitamente passível de controlar, mas a exigir rápidas, e, sobretudo, decisivas correções de contrabrecagem pois, no limite, é pouco perdulário.

Claro que nada disto é necessário com o R.S. Drive no modo “Normal” (pois a eletrónica do ESP resolve praticamente tudo), mas torna-se já preciso ter algumas aptidões de piloto para rodar em modo “Sport” (onde o ESP é bastante permissivo e só mesmo no limite se torna interventivo) e, dir-se-ia, bastantes dotes de pilotagem para rodar no modo “Race”, onde o Clio fica por conta e risco de quem o tem nas mãos!

Mas se é por isso que o Clio R.S. 220 EDC é tão desafiante, também é por isso que é tão apaixonante. Sempre são 220 aguerridos cavalos a disparem energia para o asfalto, ainda que a sua entrega seja feita de forma disciplinada e homogénea, o que, por vezes, nos faz esquecer que estamos ao volante de um carro com um propulsor turbo. Em todo o caso, bastam apenas 6.6 segundos para atingir os primeiros 100 km/h, especialmente se se ativar o sistema “Lauch Control” (sendo o “Clio Trophy” o único carro a dispor deste sistema no seu segmento!).

No modo “Sport” ou “Race” basta travar com pé esquerdo, ao mesmo tempo que se pressionam as duas patilhas por detrás do volante e se acelera a fundo, com o motor a ficar a dar rateres! Tudo pronto para um arranque tipo “bala”, como se se estivesse numa grelha de partida, em 3… 2… 1… e o Clio sai disparado, valendo mais a pena não esgotar a primeira velocidade, metendo quase logo segunda, para otimizar ainda mais o arranque. Depois, é servir-se à vontade da caixa de sequencial EDC até à 6ª velocidade, altura em que o ponteiro já estará perto dos 235 km/h de velocidade máxima anunciadas pela marca. Convém esclarecer, que nesta nova configuração, a caixa EDC está 30 por cento mais rápida que na sua primeira versão, ainda que, por vezes, se “baralhe” e troque automaticamente de velocidade um pouco antes do expectável.

Mas, em jeito de balanço e em matéria de condução, não restam dúvidas, que o Clio R.S. 220 EDC é tão divertido, como exigente na condução, indo buscar à competição muitos dos seus genes, o que, automaticamente, fazem dele uma proposta mais “elitista”.

Sistemas de Assistência à Condução, Conetividade e o fabuloso… R.S. Monitor!

Para além dos mais convencionais ABS com assistência à travagem de emergência (AFU), controlo eletrónico de estabilidade (ESP) e controlo anti-patinagem (ASR), o Clio R.S. 220 EDC Trophy apresenta outros ajudas no capítulo da segurança, como o regulador e limitador de velocidade, sistema de ajuda de arranque em subida ou sistema de controlo de pressão dos pneus. O sistema de ajuda ao estacionamento traseiro (com “bip, bip”, mas sem câmara) também faz parte do equipamento de série, o que não acontece (nem de série, nem como opcional) com o sistema de manutenção de faixa de rodagem que, pura e simplesmente, foi “esquecido”.

Ao invés, um completo computador de bordo (um dos poucos onde é possível saber exatamente quantos litros consume em determinada distância, o que lhe permite calcular o custo efetivo de uma viagem) marca presença, assessorado pelo sistema R-Link Evolution (sistema multimédia Media Nav Evolution 2.1 com écran tátil de 7 polegadas, comando de voz, navegação Tom Tom, Bluetooth, R-Sound, entradas frontais USB e Jack, cartografia Europa).

Mas o melhor mesmo é o R.S. Monitor, versão 2.1., capaz de fazer inveja a muitos superdesportivos (superdesportivos, mesmo, tipo Ferrari, Lamborghinis e afins!) em termos de… telemetria! O fantástico visor apresenta um menu com 13 páginas de dados (e conselhos), num manancial de informação muito próximo do que as telemetrias de competição oferecem! Prático, intuitivo e funcional, é possível, a partir dele, saber o nível de potência e binário (em barra ou gráfico), mas também da pressão de turbo, temperatura do óleo do motor e da caixa de velocidades, temperatura da admissão, da água e da embraiagem, bem como a percentagem de acelerador, travão e derrapagem das rodas, ângulo de viragem do volante (osciloscópio) e forças G sentidas (através de um diafragma).

Depois, o R.S. Monitor também está preparado para oferecer um vasto caudal de medições, como o desempenho dos 0-50 km/h, dos 0-100 km, dos 0-400 m, dos 0-1000 m e a travagem dos 100-0 km/h, sem esquecer o normal cronómetro. Tão bom como ter toda esta informação instantânea disponível, é poder descarregá-la para uma Pendrive e, de seguida, analisá-la ao pormenor no conforto de casa (1 hora de condução corresponde apenas a 3MB). O R.S. Monitor também ajuda na manutenção preventiva, indicando os quilómetros de desgaste dos principais órgãos mecânicos do carro, avisando o tempo que falta para a sua devida manutenção!

Equipamento Opcional

Por se tratar de um carro bem equipado de série, não é vasta a lista de equipamentos opcionais, que poderão contribuir para melhorar ainda mais as qualidades do mais potente dos Clio R.S. Contudo, há pelo menos uma que se destaca: a dupla saída de escape Akrapovic em forma retangular (1.200 €). O som de lá saído, é “música” para os ouvidos de qualquer “piloto”, sobretudo, nas passagens de caixa no modo desportivo, com direito a rateres! Mas, para melhor equipar este Clio será ainda possível optar pelo sistema Easy Park Assist (inclui sistema de ajuda ao estacionamento traseiro/dianteiro e câmara de marcha-atrás), que implica, contudo, a adoção do sistema de ajuda ao estacionamento lateral.

No iten do conforto, poderá também adicionar sistema de aquecimento nos bancos dianteiros e os estofos em couro premium RS (que implica o sistema de aquecimento dos bancos traseiros). Igualmente adaptável ao Clio R.S 220 EDC Trophy é o Pack Conforto, onde o banco de passageiro é regulável em altura, existe iluminação de espelhos interiores e os retrovisores exteriores são rebatíveis eletronicamente).

Consumos

Um dos exercícios mais complicados neste Clio é fazer com que ele tenha consumos contidos. E o problema não está propriamente no apetite do motor 1.6 litros sobrealimentando, mas na dificuldade em que é conter o peso no pedal do lado direito do condutor! Em ritmos normais, os 5.9 l/100 km anunciados pela marca em trajetos mistos facilmente “escorregam” para uns aceitáveis 7.1 litros reais, mas a questão só se torna verdadeiramente “assunto” quando o propulsor desenvolvido pela Renault Sport “abre a goela” e os consumos disparam para valores entre os 12/13 litros, de média! As boas notícias são que por mais que “esprema” este Trophy, os valores também dificilmente ultrapassarão esses números.

Preço

32.470 € é quanto custa o Renault Clio R.S. 220 EDC Trophy, valor que sobe para os 33.670 € se adicionarmos o condimento picante do sistema de escape Akrapovic (praticamente essencial). É muito? Depende sempre do ponto de vista. Se pensar que, para todos os efeitos, está ao volante de um Renault Clio, acreditamos que seja complicado passar o cheque, mas se o preconceito não faz parte da sua maneira de viver, então será difícil encontrar uma melhor razão para apostar mais de 33.000 € neste carro. Sim, e a palavra “apostar” não foi dita por acaso. É que, por se tratar de uma edição especial, “Trophy”, no dia em que decidir que “já não tem vida” para andar a “brincar aos pilotos” com este Clio, ele terá valores de retoma bastante simpático. E isto senão quiser guardá-lo durante mais de 25 anos, quando o seu estatuto de clássico, lhe trará outra valorização!

Concorrentes

  • Abarth 500 1.4T-jet 180 Competizione (1.4 litros, 180 Cv, 225 km/h, 6.7s 0-100 km/h, 6.0 l/100 km, 139 g/kg, 29.600 €)
  • Audi A1 Sportback Quattro S1 2.0 TFSI (2.0 litros, 231 Cv, 250 km/h, 5.9s 0-100 km/h, 7.1 l/100km, 166 g/kg, 41.660 €)
  • MINI John Cooper Works (2.0 litros, 231 Cv, 246 km/h, 6.3s 0-100 km, 6.7 l/100 km, 147 g/kg, 36.250 €)
  • Peugeot 208 1.6 e-THP CMV6 GTi (1.6 litros, 208 Cv, 230 km/h, 6.5s 0-100 km, 5.4 l/100 km, 125 g/kg, 25.250 €)
  • SEAT Ibiza 1.8 TSI Cupra (1.8 litros, 192 Cv, 235 km/h, 6.7s 0-100 km, 6.2 l/100 km, 145 g/kg, 21.827 €)
  • Volkswagen Polo 1.8 TSI GTI (1.8 litros, 192 Cv, 236 km/h, 6.7s 0-100 km, 140 g/kg, 28.422 €)

Não faltam concorrentes ao Clio R.S 220 EDC Trophy, com mais ou menos cilindrada, potência, performances, consumos e até preço mais económico ou mais elevado. Mas no nicho dos pequenos desportivos, as medições fazem-se também com o “coração” e pela capacidade e “feeling” que cada um destes “enfants terribles” transmitem. E, aí, esta versão mais apurada do Clio é praticamente imbatível, tal o desafio de condução em que se transforma a cada curva.

Balanço Final

Ponta de lança da gama Clio, o R.S. 220 EDC Trophy representa uma evolução sólida e até marcante na carreira dos pequenos desportivos da Renault. Os cerca de 1.800 € a mais pedidos face à versão R.S. 200 EDC são perfeitamente justificáveis, não só pelas superiores performances, mas, sobretudo, pelas sensações transmitidas, que são mais “transparentes” e têm menos filtro nesta versão Trophy. Mas, atenção! Este “pocket rocket” já não é para quaisquer “mãos”, exigindo dotes de pilotagem (e não de condução), se o objetivo for explorá-lo até ao limite. Se sentir que há, um piloto dentro de si, então, dificilmente encontrará um melhor aliado de tração à frente, para lhe dar doses massivas de adrenalina, seja numa pista ou numa estrada sinuosa… pelo menos por este preço!

Filipe Pinto Mesquita

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