Skoda Karoq: Um SUV que vai ser caso sério

26/10/2017

Conduzir na Sicília – e em Itália de forma mais ou menos geral – é um caso dramático de subversão das regras de trânsito tal como as conhecemos. Com leis meramente “indicativas”, os traços contínuos transformam-se em símbolos irrelevantes no chão (mesmo quando são duplos), os sinais de sentido proibido perdem qualquer validade e mesmo as raias na estrada são para pisar ostensivamente desde que se queira ultrapassar o carro da frente. Raro é apanhar quem cumpra o código da estrada.

É neste ambiente quase surreal que o novo Skoda Karoq se apresenta aos jornalistas, surgindo como a segunda aposta da marca checa no segmento SUV, juntando-se ao Kodiaq numa gama que, sem surpresa, irá contar com um terceiro elemento dentro de dois anos. O que é natural atendendo ao crescimento que se espera para este segmento de modelos em todo o mundo e, sobretudo, na Europa.

Um certo visual familiar

É também sem surpresa que nos deparamos com um modelo de desenho agressivo e tipicamente Skoda, com os faróis dianteiros bipartidos (com assinatura luminosa forte) e a grelha de grandes dimensões, linhas vincadas no perfil e farolins traseiros também com uma presença marcante, mas que não escondem uma certa aproximação ao Kodiaq e a outros modelos da marca, como o Octavia ou o Fabia.

A inserção da Skoda no Grupo Volkswagen traz-lhe muitos benefícios, o primeiro dos quais passa pelo aproveitamento de componentes de alto valor, como é o caso da plataforma MQB, que é aqui utilizada para um SUV compacto com medidas concisas (4328 mm de comprimento, 1841 mm de largura, 1605 mm de altura e 2638 mm na distância entre eixos) que escondem um habitáculo amplo e com boa capacidade nos bancos traseiros. Desde logo, no espaço para as pernas dos ocupantes, que é, tal como é apanágio, da Skoda, um atributo forte, assim como a altura ao tejadilho. No Karoq viajam bem cinco adultos, mesmo os de elevada estatura. É na bagageira que encontramos, por outro lado, mais um atributo de destaque graças aos 521 litros que são referenciais no segmento. Com o rebatimento dos encostos dos bancos traseiros, a capacidade amplia-se para os 1630 litros.


1. Compartimento de arrumação nas portas dianteiras com espaço para garrafas de 1,5 litros;
2. Espaço para arrumação do lado do condutor sob o lado esquerdo do volante;
3. Arrumação no tablier;
4. Arrumação para smartphones à frente da alavanca da caixa (carregamento por indução Phone box como opção);
5. Arrumação ‘Jumbo’ na consola central;
6. Porta-luvas;
7. Arrumação para óculos;
8. Local para guardar bilhetes de estacionamento;
9. Arrumação para chapéus de chuva debaixo do banco dianteiro do passageiro.

Mais interessante ainda é o sistema, também opcional, denominado VarioFlex que permite uma maior amplitude de carga, replicando a funcionalidade própria de uma viatura comercial com três bancos individuais com possibilidade de rebatimento dos encostos em capacidade 40:20:40. Aliás, no limite, permite mesmo uma função de remoção dos bancos traseiros criando assim uma capacidade de 1810 litros de carga máxima na bagageira.

Nota também muitíssimo elevada, até de forma algo surpreendente, para os padrões de qualidade interior, batendo neste capítulo muitas outras propostas do segmento. O Karoq exibe, assim, materiais que revelam uma maior atenção ao detalhe, tanto na parte superior do tablier, como na consola central e nas portas.

O desenho, porém, não foge ao que é tradicional na marca (há quem goste e há quem não aprecie…), com separação de funcionalidades bem evidente – sistema multimédia na parte superior, climatização na parte central e arrumação para smartphone (com carregador por indução) e tomadas USB mais abaixo. Seja como for, o Karoq tem uma enorme mais-valia na sua conceção interior, tanto por medida da construção, como dos materiais que utiliza. Falta, ainda assim, alguma cor e personalização no habitáculo, naquela que é uma arma cada vez mais utilizada pelas marcas nos dias que correm. Essencialmente, a constatação deste ambiente de qualidade e rigor na construção serve para mostrar que a Skoda cumpriu um longo caminho em termos de notoriedade de marca.

TSI dá conta do recado

No evento de apresentação, o ‘ataque’ inicial (perante os ‘gladiadores’ locais que brandem o volante como se de uma espada se tratasse…) às estradas sicilianas fez-se com o evoluído motor 1.0 TSI de 115 CV e 200 Nm de binário, um bloco de três cilindros e turbo que revela enorme disponibilidade numa ampla faixa de binário, mostrando energia mais do que suficiente para as solicitações de um condutor comum que procure respostas corretas por parte do motor. Além disso, nunca revela – mesmo nas retomas em subida – falta de energia, o que é um atributo muito valioso para este motor a gasolina. Surpreende mesmo na maneira desenvolta como leva o Karoq para velocidades elevadas sem grande esforço.

A caixa de velocidades manual de seis relações também é útil para manter esse ritmo interessante, tanto pelo escalonamento acertado, como pelo manuseamento, que é suave. Após 130 quilómetros de viagem, a média de consumo foi de 6,4 l/100 km, a qual foi obtida sem grandes preocupações com o doseamento do acelerador.

Por outro lado, também ensaiado foi o Karoq com motor 1.6 TDI e 250 Nm de binário, igualmente de 115 CV, que deverá ser o mais vendido no mercado nacional, atendendo à ‘fome’ Diesel que é comum em Portugal (mas que já começa a mudar). Tradicionalmente enérgico desde muito baixas rotações, mostra-se progressivo na subida de regimes, sendo que no caso da unidade ensaiada contávamos com a caixa automática DSG de sete velocidades, a qual tem como atributo o máximo aproveitamento do binário em cada momento, com passagens rápidas entre relações e possibilidade de comando manual/sequencial por intermédio de patilhas atrás do volante. Beneficiam, pois, as prestações, deste melhor aproveitamento do binário.

Estes serão os motores que a Skoda terá à venda em Portugal numa fase inicial, quando o Karoq chegar ao nosso país no final do primeiro trimestre de 2018, pelo que também não existem preços a apontar para este novo SUV checo. Só mais perto do lançamento oficial, garantiu fonte oficial da marca, mas atendendo ao que se vê com modelos de dimensões semelhantes como o SEAT Ateca, é previsível que ronde os 23.000-24.000€ no caso do motor de entrada TSI.

Outras escolhas

Além daqueles dois motores de acesso às respetivas gamas gasolina e Diesel, a Skoda terá ainda outras opções de motorização: na vertente a gasolina há ainda que contar com o motor 1.5 TSI de 150 CV e 250 Nm de binário com desativação de cilindros (com poupança possível de até 0,5 l/100 km) para maior eficiência, ao passo que nas opções Diesel contam-se ainda o 2.0 TDI de 150 CV e de 190 CV (exclusivamente com caixa DSG7 e tração integral), todos estes reservados para uma fase posterior de comercialização e, como tal, ainda sem preços de venda.

LEIA MAIS: PORQUÊ KAROQ?


Da gama de cinco motores, apenas o Diesel de entrada (1.6 TDI) não poderá contar com a opção de caixa DSG7, sendo apenas associável a caixa manual de seis velocidades. A tração integral pode ser associada a três motores: 1.5 TSI e aos 2.0 TDI de 150 CV e de 190 CV. Caso seja dos que precisa de um carro para reboque, dependendo do motor, este Karoq pode ‘mover’ até duas toneladas, contando ainda com um gancho de reboque retrátil.

Habilidade na estrada

Curva bem, é hábil no mau piso e trata bem dos passageiros. Eis uma forma muito sucinta de abordar o comportamento do Karoq no ensaio em estradas transalpinas, cujo estado deixa muito a desejar. Aliás, muitas delas são um compêndio de remendos e de má conservação.

a carregar vídeo

Volte-se ao Karoq. Fruto de esquema de suspensão evoluído (McPherson na frente e barra de torsão atrás ou multilink, esta última apenas para versões de tração integral) e de chassis bem desenvolvido, o Karoq exibe pisar sólido que conjuga de forma muito boa o dinamismo e a rapidez de respostas com uma absorção de elevado nível das irregularidades do piso mais deteriorado. Até mesmo quando decidimos levar o Skoda para um pequeno percurso de off-road – não muito difícil, mas com uma ou outra dificuldade mais acentuada – o Karoq faz questão de ser suave para com os ocupantes, o que só denota o bom trabalho feito na suspensão. A direção tem boa resposta e bom feedback, o que contribui para esta boa sensação geral ao volante. Fruto da altura, há um natural adornar da carroçaria quando se pretende elevar o ritmo em percursos sinuosos, mas há igualmente uma elevada sensação de aderência e estabilidade que mantém o Karoq bem ‘agarrado’ ao piso.

Se a versão de entrada 1.0 TSI não tinha os modos de condução distintos (Driving Mode Select), a versão 1.6 TDI trazia já este sistema que permite alternar entre perfis de condução com reflexos nalguns parâmetros do veículo, como a assistência da direção, a firmeza da suspensão ou a atuação da caixa automática. Existem quatro modos distintos, como o Normal, Eco, Sport e Individual, sendo que as variantes 4×4 têm ainda uma adenda de dois modos dedicados (Off-Road e Neve).

Bem equipado

Quanto a equipamento, o novo Karoq não inova para o segmento em questão, mas traduz uma filosofia de ‘custo justo’ pelo que oferece, com sistemas multimédia Swing, Bolero, Amundsen e Columbus assentes em ecrã tátil entre os 6.5″ e 9.2″ e painel de instrumentos digital personalizável (que será sempre opcional) como os maiores expoentes de tecnologia ‘visível’ no habitáculo. Como seria de esperar, também a conectividade aos smartphones por via de MirrorLink, Android Auto e Apple iOS, está bem presente, além de diversos sistemas de assistência à condução.

Neste caso, nota para a presença, de série, da função Front Assist com travagem de emergência e do Alerta de Cansaço do condutor, mas que poderá receber outros, em complementaridade, como o Lane Assist (que mantém o veículo na sua via) ou o Alerta de Veículos no Ângulo Morto, este recorrendo aos sensores traseiros.

A marca reserva para uma data posterior a revelação de mais detalhes sobre o preço e equipamentos, mas sabe-se já que a aposta estará nos níveis de equipamento Ambition e Style – intermédio e cimeiro -, sendo dispensado o mais básico Active.

Em suma, o Karoq resume num formato mais compacto os pontos fortes do Kodiaq, afirmando-se como uma proposta que prima por muitos atributos de relevo em termos de dinamismo, resposta dos motores e versatilidade (ou não fosse esta a marca do ‘Simply Clever’), posicionando-se de forma muito firme num segmento em que a luta está em alta e promete ficar ‘brava’ nos próximos tempos. Tão brava quanto a agressividade dos condutores italianos que nos passaram em estradas com duplo traço contínuo e que gesticulam ‘simpaticamente’ quando os atrapalhamos na nossa condução mais ‘tradicional’… Na Sicília, sê siciliano…

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.