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Teste Mercedes-Benz EQS 450+: O elétrico no ‘clube dos 700’ km

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A era dos elétricos de longo alcance já não está no futuro. Inscreve-se já no presente, com o novo EQS a ser um dos poucos com um argumento de alcance superior a 700 quilómetros. Ferramenta de marketing ou possibilidade real? Uma boa surpresa que nos dedicámos a descobrir ao longo do ensaio ao novo EQS 450+, versão que surpreende pela funcionalidade e pela tecnologia de bordo, sendo a de entrada na gama deste modelo de luxo.

O novo EQS foi apresentado com ‘pompa e circunstância’ pela Mercedes-Benz como o dealbar de uma nova era, uma abordagem totalmente focada na eletrificação, que preferiu partir de uma folha em branco ao invés de optar pela reconversão direta de um Classe S. O caminho seria bem mais fácil, à partida, mas a Mercedes-Benz quis demonstrar todas as potencialidades disponíveis com a dedicação de um modelo criado exclusivamente com a matriz da eletrificação presente em todos os aspetos – do aspeto visual à ergonomia, passando pela tecnologia de bordo.

Começando pela aparência, o visual imponente deste EQS é desde logo um chamariz, tirando partido da arquitetura avançada para uma superfície vidrada bastante ampla e pelo formato quase em ‘gota’, traçado pela aerodinâmica bastante avançada que fazem deste modelo o automóvel de produção em série com melhores qualidades neste capítulo. A ampla distância entre eixos (3210 mm) permite o desafogo de primeira classe a bordo, sendo possibilitado pela colocação entre os dois eixos da grande bateria elétrica, mas também pelo afastamento das rodas rumo às extremidades.

A grelha tapada (podendo receber o tema padrão das estrelas da marca em fundo) conjuga-se com os faróis esguios de alta tecnologia para uma visão distinta que, tal como os demais EQ, tem ainda uma barra luminosa LED a toda a largura entre os dois grupos óticos. A traseira evidencia de forma bem evidente o formato de ‘gota’, com secção curta e elevada, não faltando grupos óticos ligados por uma faixa horizontal e um pequeno spoiler na longa tampa da bagageira para fins aerodinâmicos.

Tecnologia de outro nível

O EQS tem na componente tecnológica um dos seus pontos fortes. Aliás, basta olhar para o interior para se perceber isso mesmo, oferecendo deslumbramento com os seus três ecrãs naquilo que a marca alemã denominou de ‘Hyperscreen’, um painel envidraçado que atravessa quase todo o tablier na horizontal com uma superfície de 141 cm e que alberga, então, os três ecrãs – o da instrumentação, o central de 17.7 polegadas e o do passageiro, independente e que só se ativa quando é detetado um passageiro no banco do lado direito.

Tudo simples e intuitivo, como num smartphone, a utilização do sistema MBUX Hyperscreen eleva a funcionalidade do habitáculo para outro patamar, tendo como contrapartida o facto de ser opcional, inserindo-se num conjunto com o módico custo de 8850€. No entanto, só com este opcional se percebe o grande passo em frente dado na conectividade e no sistema de infoentretenimento.

O espaço a bordo é referencial, não havendo constrangimentos para nenhum dos ocupantes, mesmo não tendo a unidade ensaiada elementos adicionais de requinte, como ventilação nos bancos ou massagem nos bancos dianteiros. A bagageira é impressionante pela sua capacidade, com 610 litros, dispondo de um portão enorme de abertura elétrica. De resto, níveis altíssimos de qualidade, tanto na escolha dos materiais, como na construção, não havendo praticamente falhas a apontar. O luxo está ao seu mais alto nível.

Motor progressivo

Nesta versão, há apenas um motor elétrico, colocado na traseira, oferecendo assim tração traseira e uma potência de 333 CV/245 kW e 568 Nm de binário máximo. Concede uma condução folgada para o conjunto em questão, movimentando este EQS com aprazível competência, tanto em aceleração, como nas recuperações (sobressaindo nestas), embora não seja ‘explosivo’ nas suas reações. Nota-se que o EQS 450+ é mais progressivo do que impulsivo, obedecendo também à ideia de conforto para os ocupantes, mas sem nunca lhe faltar energia para impor ritmos mais fortes.

A aceleração dos zero aos 100 km/h cumpre-se em 6,2 segundos, o que é um valor já com bastante interesse (curiosamente, o mesmo valor da versão S 350 d 4MATIC com o seu bloco Diesel de seis cilindros em linha), atingindo uma velocidade máxima (limitada) de 210 km/h.

A bateria de nova geração tem uma capacidade útil de 107.8 kWh, que permite então a autonomia superior a 700 quilómetros, sendo evidente neste ensaio que o valor referido é realista e até facilmente alcançável sem grandes preocupações com o ritmo. Utilizado como qualquer outro modelo com motor de combustão, o EQS 450+ ofereceu-nos um consumo médio de 17.7 kWh/100 km, num registo bastante bom para um modelo de quase 2.5 toneladas.

A condução pode ser ainda ajustada com três modos de regeneração, variando entre intensidade nula (permite assim deslizar por inércia), a normal (de melhor equilíbrio) e a forte, sendo que, nesta última, não ficámos particularmente adeptos da movimentação autónoma do pedal do travão, que graças à função de regeneração mais forte, ‘afundava’ por vezes sob o pé quando, autonomamente, incrementava a desaceleração. Dá alguma sensação de que algo nos foge sob o pé… e efetivamente é o caso.

Desde a versão de base, o EQS surge com suspensão AIRMATIC com firmeza variável (ADS+), conseguindo também reduzir automaticamente a altura ao solo em 10 mm quando supera a fasquia dos 120 km/h, o que beneficia a eficiência aerodinâmica. Em sentido oposto, pode também elevar a distância ao solo em até 25 mm por exemplo em lombas ou desníveis.

O EQS privilegia toadas mais tranquilas e cómodas, obedecendo de forma correta aos comandos do volante, com excelente precisão em curva. Naturalmente talhado para longas viagens e para o conforto dos ocupantes, este EQS 450+ não faz esquecer os quase 2500 kg de peso total, sobretudo quando se abordam percursos mais sinuosos, mesmo com o modo ‘Sport’ do Dynamic Select selecionado. As respostas do motor são mais intensas, mas a carroçaria volumosa não passa despercebida, ainda que o trabalho do chassis seja muito competente para conter as transferências de massas. Se é um facto que o EQS é seguríssimo, também parece evidente que não é o automóvel ideal para ser agressivo de curva para curva (em comparação, um Classe S pareceu-nos mais ágil em curva).

Por outro lado, o conforto é imperial. A insonorização está muito bem conseguida e os ocupantes viajam numa espécie de cápsula de conforto, com amortecimento tremendamente eficaz, sobretudo quando em modo ‘Comfort’. É um automóvel senhorial e imperturbável, mesmo em mau piso.

Nota ainda para a mais-valia do sistema de direção do eixo traseiro, de série com um ângulo da direção de até 4,5° nas rodas traseiras. Em alternativa, a direção do eixo traseiro com um ângulo da direção de até 10° pode ser encomendada ou subsequentemente ativada através de uma atualização remota de software. Efetivamente, as manobras de estacionamento tornam-se bem mais simples, aí sim quase fazendo esquecer os seus mais de cinco metros de comprimento.

Graças à sua arquitetura elétrica de nova geração, o EQS permite carregamentos ultrarrápidos de até 200 kW em DC, bastando 15 minutos ligado à tomada para recuperar até 300 quilómetros. O carregador de bordo de série é de 11 kW, podendo receber um de 22 kW opcionalmente. Assim, no caso de ligação AC a uma ‘wallbox’ de 11 kW o tempo de carregamento completo é de 10 horas, baixando para as cinco horas no caso de uma ‘wallbox’ de 22 kW. Quanto à tomada doméstica… esqueça! Qualquer carregamento num ponto de carga de 2.3 kW servirá apenas para repor meros quilómetros numa viagem em situações de extrema necessidade, mas nunca será solução.

Sendo uma proposta de luxo, o seu preço é condizente. De base, o EQS 450+ tem um custo de 121.550€, mas a lista de opcionais usualmente recheada e com preços sumarentos torna o valor final a pagar bem mais alto. A unidade ensaiada estava já nuns voluptuosos 140.000€, graças à adição de extras como o MBUX hyper screen (8850€), à combinação da linha interior Electric Art com a Linha Exterior AMG (5400€) ou das jantes AMG multi-raios de 21 polegadas (1450€).

VEREDICTO

Não passa despercebido por onde passa e exala uma aura senhorial, mas também vanguardista, como se fosse uma visão mais ligada ao futuro do que ao presente, mas o novo EQS é efetivamente um sinónimo da atualidade da indústria automóvel. Totalmente elétrico e valendo-se de trabalho afincado ao nível da eficiência e da aerodinâmica, sobressai pela impressionante autonomia superior aos 700 quilómetros que, mais do que nunca, é um valor realista.

As prestações não são esfuziantes, mas agradam bastante, mais pela sobriedade e pelo refinamento geral, o que também é de esperar atendendo a que se trata de uma versão de entrada na gama EQS. Outras mais potentes trarão a emoção suplementar de prestações desportivas.

O EQS 450+ rejeita sensações como a ansiedade de autonomia, termo que é atirado em definitivo para o passado, substituindo-a pelo requinte de viagem, pela noção de bom gosto tecnológico e pela maturidade de uma tecnologia que parece ter dado um passo significativo num curto espaço de tempo. Não será para todos, definitivamente, nem o preço do EQS o permitiria, mas é um exemplo do que está para vir.


MAIS
Conforto referencial
Aparato tecnológico
Autonomia realista
Eficiência de condução
Estilo vanguardista
Espaço a bordo
Prestações adequadas

MENOS
O peso total influencia a agilidade
Atuação da regeneração no pedal do travão
Preço dos opcionais

Ficha Técnica
Mercedes-Benz EQS 450+
Motor Elétrico, síncrono de íman permanente, traseiro
Potência 245 kW (333 CV)
Binário máximo 568 Nm
Bateria Iões de lítio, 107.8 kWh (úteis)
Transmissão Tração traseira, caixa de 1 vel.
Acel. 0-100 km/h 6,2 segundos
Vel. máxima 210 km/h (limitada)
Consumo médio (WLTP) 16,7 kWh/100 km
Emissões CO2 (WLTP) 0 g/km
Autonomia (WLTP) 741 km
Tempo de carregamento DC (200 kW): 31 min. de 0-80%; AC (11 kW): 10h de 0-100%
Dimensões (C/L/A) 5216/1926/1512 mm
Peso 2480 kg
Bagageira 610-1770 litros
Pneus 255/45 R20
Preço 121.550€
Gama desde 121.550€