Uma volta ao Circuito do Mónaco ao volante da nova coqueluche da Peugeot, o 508, para descobrir se a marca francesa está mesmo a entrar no mercado upa! upa!

Rui Pelejão, no Mónaco

Não é fácil um Peugeot dar nas vistas no Mónaco, o local do mundo onde há mais Ferraris, Bentleys e Rolls por metro quadrado. A cidade joia da Cote D`Azur parece uma passerele de luxo e estilo, com obras de alta costura automóvel a desfilar nas ruas pejadas de impecáveis baronesas austro-húngaras a passear os seus lulus e os seus Bentleys, como num anúncio da Ferrero Rocher: “Ambrósio, apetece-me algo”.

Provavelmente a última vez que a Peugeot deu nas vistas em Monte Carlo foi na era de ouro dos ralis com o mítico Peugeot 205 Turbo 16 de Kankkunen, Salonen e companhia limitada. Ou, anos mais tarde e pelas piores razões, com o Peugeot 307 CC de ralis de Marcus Gronholm, um autêntico bacalhau com asas e sério candidato ao título de carro mais feio da história dos ralis.

Agora é outra história. À porta do Casino, três austeros polícias monegascos, não escondem a curiosidade e mandam-me parar pedindo as restritas autorizações para filmar e fotografar, que obviamente não tenho.

Desconfio que esta improvisada operação Stop foi mais para ver o carro, como fazem tantas vezes os polícias em Portugal, do que para ver documentos. Enquanto me fazem perguntas e vão apagando do rosto os vincos marciais, o Artur, cameraman astuto, vai filmando e fotografando. “Belle voiture”, diz um – “Oh la, la, un Mustang!”, aponta outro, descortinando algumas semelhanças entre este novo leão e o corcel da Ford. “Superb”, conclui outro, e lá nos deixam ir à nossa vida. E a nossa vida, boa por sinal, é ir dar umas voltas ao traçado de 3,3 km do circuito citadino do Mónaco, palco do mais icónico Grande Prémio da História da F1.

E para isso tenho nas mãos o novo Peugeot 508, o mais belo carro que a marca francesa desenhou desde o Peugeot 406 Coupé (1997), com a assinatura de Pininfarina ou do fantástico Peugeot 504 Coupé de 1978, provavelmente o mais bonito Peugeot de sempre, e que é notória inspiração para este novo modelo, especialmente no capot e grelha dianteira.

Peugeot 508 quer entrar na alta sociedade

Desconfio que não foi inocente a escolha do Mónaco como palco da apresentação internacional à imprensa do novo Rei Leão.

Por um lado, um bom teste de popularidade e notoriedade nas ruas mais competitivas do mundo para “carspotters”, por outro, uma forma da Peugeot insinuar que se quer transformar numa marca upa-upa, para começar a entrar lentamente no restrito território das marcas premium, ou pelo menos, estar no topo das referências das marcas ditas generalistas, que é como quem diz – chega-te para lá VW.

Este 508 é uma afirmação dessa ambição. E a julgar pelo sucesso no teste de gira-cabeças nas ruas do Mónaco, uma ambição justificada.

O design arrebatador é sem dúvida um dos trunfos do topo de gama da marca. O desafio colocado aos designers da Peugeot, foi claro: O mercado das berlinas familiares está ser devorado pelos SUV`s, precisamos de arriscar e conceber um carro que faça a diferença, que aumente o valor percetível e que tenha custos de utilização mais baixos sem sacrifício da qualidade e recheio tecnológico.

Para isso, Gilles Vidal e a sua equipa de design decidiram romper com a filosofia das tradicionais berlinas de três volumes que dominam o parque automóvel do segmento D, e criaram um carro cuja silhueta sugere um coupé, quando na verdade se trata de um fastback, ou seja, um carro em que a mala do portão traseiro é a traseira. Em relação à geração anterior, o 508 está mais curto 8 centímetros, mais baixo 6 centímetros, o que conjugado com uma frente muito agressiva e uma traseira “à Mustang”, lhe confere uma forte identidade visual.

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De acordo com os responsáveis da Peugeot, a opção por vidros das portas sem molduras permitiu baixar o peso e dar-lhe um toque de Midas na integração das várias secções. Tudo isto foi feito, garantem os mesmos responsáveis, sem sacrifício da habitabilidade ou da capacidade da bagageira que oscila entre os 487 litros de volume, que podem chegar aos 1.537 litros com os bancos rebatidos.

Os bancos traseiros acomodam três passageiros, já que o túnel central mal se nota e a qualidade geral dos materiais e dos bancos é uns bons furos acima da anterior geração.O apuramento estilístico é ainda mais acentuado na versão topo de gama GT, aquela que melhor exprime a elegância do 508, graças aos led`s em forma de sabre no grupo ótico frontal e a um conjunto de outros detalhes distintivos.

Outros trunfos importantes no novo 508 são a completa dotação tecnológica, com reforço do nível de equipamento e também uma versão mais evoluída do i-cockpit, a assinatura exclusiva da Peugeot, que nos transporta imediatamente para um ambiente aero-espacial.

Esta versão mais high-tech do i-cockpit e de todo o espaço dianteiro do habitáculo foi inspirada no concept Exalt e destaca-se por um painel mais vertical, novas saídas de ar e uma consola central com mais teclas que um piano, a partir das quais é possível tocar o Frère Jacques ou comandar as diversas funções do Peugeot 508, desde a climatização, aos sistemas multimédia e de navegação. Outra novidade é o i-cockpit digital de 8 ou 10 polegadas colocado por cima do teclado.

Relativamente ao equipamento, é possível optar por vários pack`s para os diversos níveis de equipamento, desde o degrau de acesso Active até ao mais completo GT, que inclui, entre outras coisas jantes de 19 polegadas, montados nos pneus Michelin Pilot, especialmente desenvolvidos para afiar as garras do novo Rei Leão.

Apresentações feitas, mãos no volante e tudo a postos para a partida do GP do Mónaco ao volante do Peugeot 508 1.6 Puretech de 225 Cv com caixa automática de oito velocidades. O GT por excelência.

Do espião francês a Ayrton Senna

O GP do Mónaco é considerado o maior anacronismo da F1, hoje dominada por circuitos permanentes, modernos, rápidos, mas por vezes demasiado “higiénicos” ou pouco desafiantes.

Disputado nas ruas abertas ao trânsito durante a semana, o Mónaco constitui um desafio puro de precisão na pilotagem com o seu traçado estreito e enclausurado entre rails de proteção, com zonas muito lentas, raros pontos de ultrapassagem e uma passagem chiaroscuro no túnel que liga a parte alta da cidade ao porto.

LEIA A HISTÓRIA DE AYRTON SENNA NO MÓNACO

A prova disputa-se desde o início do século, mas só em 1938 foi elevada à categoria de Grande Prémio, numa edição vencida por William Grove-Williams no seu Bugatti pintado com um verde escuro que viria a ser a cor dominante em carros de competição ingleses – o British Racing Green.

W. Williams, como gostava de ser chamado, foi daquelas personagens cuja vida dava um filme. Durante a II Guerra Mundial e graças à sua fluência em francês foi lançado pelos serviços secretos britânicos de pára-quedas sobre a França ocupada com a missão de apoiar a criação de uma rede de resistência, em 1943 foi capturado pelos nazis e preso num campo de POW (Prisioneiros de Guerra), onde foi fuzilado pelos alemães. Uma versão mais romântica defende que o piloto foi libertado pelo Exército Vermelho e que acabou por se retirar no anonimato para os EUA.

Em 1950, o GP do Mónaco foi uma das provas incluídas no primeiro Campeonato do Mundo de F1 com a vitória a ser conquistada por Juan Manuel Fangio. A estátua do maestro argentino na entrada da reta da meta lá está a assinalar a história.

Na história louca do GP de Mónaco de F1 apenas um mártir e vários heróis. O mártir, Lorenzo Bandini, que em 1967 perdeu a vida nas chamas do seu Ferrari, ao embater nos rails de proteção da chicane do porto, o preciso local que o piloto italiano tinha aconselhado John Frankenheimer para realizar a cena de um acidente no seu filme “Grand Prix”.

Na galeria de heróis, Graham Hill, o “Sr. Mónaco” que venceu o grande prémio monegasco cinco vezes. O recorde estabelecido por Graham Hill nas ruas do Mónaco na década de 60, só seria batido pelo companheiro de equipa do seu filho Damon Hill na Williams, o brasileiro Ayrton Senna que em 1984 fazia a sua estreia no circuito em que todos os pilotos de F1 sonham deixar a sua marca pessoal.

Quando chegou ao Mónaco Ayrton Senna confessava ao seu chefe de equipa na Toleman Alex Hawkridge: «Se me deixarem sozinho, com certeza me perco. Nunca estive aqui nem mesmo para ver corrida.»

Era a primeira vez de Ayrton no Mónaco, circuito onde o brasileiro deixaria a sua marca imortal, vencendo seis dos dez Grande Prémios que ali disputou, cartografando todo o circuito com memórias inesquecíveis para a legião de fãs. A história de Senna no Mónaco dava um livro, aliás deu vários, um deles, por acaso, escrito por mim. Foi aqui no Mónaco que Ayrton Senna fez a qualificação perfeita, a volta divina, onde afirma ter visto Deus.

Eu cá não tenho um McLaren, não espero ver Deus, nem a polícia monegasca de luva branca para passar um multa, por isso vamos a uma volta de reconhecimento com o Peugeot 508, e desculpem os leitores deste demorado warm-up histórico, afinal os meus amigos apenas querem saber como é que o 508 se comporta na estrada.

Uma volta ao Circuito do Mónaco com o Peugeot 508

No arranque, o Peugeot 508, mostra que a caixa é rápida e com relações correctas, permitindo uma aceleração vigorosa, mas suave. Rapidamente chego à primeira curva, Saint Devote, rápida, antes da longa subida para a parte alta da cidade. O 508 é uma força tranquila, progride sem hesitação, com o motor a responder de forma enérgica e linear à pressão do acelerador. Os pedais são firmes e rápidos, a travagem na entrada para a curva do casino, deixa antever um sistema de travagem doseado e eficaz, sem brusquidão.

Ainda que a uma velocidade lenta, como só pode ser no Mónaco, os comandos da caixa permitem-me desmultiplicar na medida certa, já que em modo puramente automático se podem perceber algumas hesitações nas oscilações repentinas de acelerador/travão. Inicio o carrossel de Mirabeau de alto a baixo, embalado na descida para a curva em cotovelo do Grand Hotel. Aqui nota máxima para a brecagem do Peugeot 508, o seu ângulo de viragem permite encarar qualquer manobra citadina sem esforço.

A brecagem deste 508 é superior à de um F1, o que também não é dizer muito, porque quase todos os carros normais têm essa vantagem, afinal um F1 não foi feito para estacionar na garagem do Corte Inglês.

Mas a saída da curva em aceleração até Mirabeau Bas mostra que a motricidade do Peugeot 508 é trunfo para a sua dinâmica. Segue-se a apertada curva Portier de entrada para o túnel, onde não posso deixar de ver o “fantasma” de Senna, a sair do seu McLaren em 1988, irritadíssimo, depois de ter batido nos rails e abandonado a prova que comandava confortavelmente há 67 voltas.

Mais uma vez, a brecagem do Peugeot 508 impressiona e entro no túnel, onde apetece libertar os cavalos para ouvir o bramido e o som mais emblemático da F1. Mas, a insonorização do Peugeot 508 é excelente, mesmo não tendo molduras nas portas e nem mesmo em aceleração bruta emite mais do que um som sibilino a furar o ar. Ao fundo a mítica chicane, preparo já a travagem, mas vejo um semáforo e homens das obras.

A partir daqui está tudo em obras, parece Lisboa, e em vez de fazer o slalom entre rails, onde os homens da F1 aparam os pneus em pequenas lâminas, sigo diretamente para as piscinas. Aqui, na zona do Porto estão ancorados alguns dos mais opulentos iates da bacia mediterrânica, propriedade de multimilionários, estrelas de cinema e cabeças coroadas da Europa.

Depois desta pequena distração turística ataco a curva Rascasse a uma velocidade que me permite ler os preços da ementa de um dos mais exclusivos restaurantes do principado, e entro na reta da meta, cumprindo o circuito do Mónaco em exatamente 8 minutos e 33 segundos. Daniel Ricciardo, vencedor da última edição do GP do Mónaco fez isto em 1 minuto e 10 segundos, mas vá, ele corre com Red Bull e aquilo dá-lhe asas.

ataco a curva Rascasse a uma velocidade que me permite ler os preços da ementa de um dos mais exclusivos restaurantes do principado

O que importa reter é que neste seu teste citadino, o Peugeot 508 saíu com doutoramento honoris causa. Confortável, banco cómodo e com bom apoio lateral, comandos intuitivos e fáceis de manejar, direção leve e com brecagem impressionante, suspensão muito eficaz a filtrar irregularidades e boa qualidade de vida a bordo e a dar nas vistas na terra dos Bentleys. Agora é preciso apertar um pouco mais com ele e para isso há aqui umas etapas do Rali de Monte Carlo mesmo aqui ao lado, desta vez poupo-vos ao Canal História.

Ronin e o juízo final

Em estrada de montanha percebe-se bem o rigor aplicado na construção do Peugeot 508 e no equilíbrio alcançado entre conforto dinâmico e apelo desportivo. Os 225 Cv deste motor são mais do que suficientes para enfrentar recuperações em subida de montanha, mas a caixa em modo automático continua a sofrer crises de identidade e o melhor é recorrer ao comando manual e sermos nós a mandar nisto.

Em modo Sport, nota-se uma maior vivacidade, resposta do acelerador, amortecimento mais duro, direção ligeiramente mais firme (o que se agradece, porque ela é de facto demasiado leve). O chassis beneficia da nova plataforma EMP2, mais leve e ágil, o que conjugado com a arquitetura da suspensão (eixo traseiro multibraços e sistema de amortecedores pilotados), oferece ao Peugeot 508 excelentes aptidões dinâmicas, sem beliscar o conforto de rolamento.

Em modo Sport, nota-se uma maior vivacidade, resposta do acelerador, amortecimento mais duro, direção ligeiramente mais firme

Não é um desportivo, mas as suas reações são precisas e previsíveis e a inserção em curva pode ser feita de forma rápida e segura. Tem aquilo a que se pode chamar um comportamento fluído, uma certa souplesse, capaz de ser competente e se adaptar aos diversos ecossistemas – cidade, estrada e autoestrada.

No global é não só um dos mais belos automóveis da sua classe, mas uma das propostas mais homogéneas e diferenciadas do momento. A gama, extensa e versátil, inclui para já dois motores a gasolina – o 1.6 PureTech a gasolina com 180 ou 225 Cv e três unidades Diesel – o 1.5 BlueHdi de 130 Cv ou o 2.0 BlueHdi de 166 ou 177 cv. A caixa automática está disponível em toda a gama (custo adicional de 2500 a 3000 euros) e o carro chega ao mercado nacional em novembro.

Mais tarde, em janeiro de 2018 chega a versão carrinha – o Peugeot 508 SW e também é de esperar para o próximo ano uma versão híbrida plug-in. A Peugeot Portugal deposita grandes esperanças nesta sua nova coqueluche, especialmente no mercado empresarial, que espera atacar com uma versão especialmente apetrechada para o efeito (business line) e com um trabalho intenso na valorização da retoma do 508.

Estaciono o belo exemplar numa pequena vila na serra onde foi gravada uma das cenas do filme com algumas das perseguições automóveis mais espetaculares da história do cinema, em que uma das estrelas era precisamente um Peugeot 406, conduzido por Robert De Niro (ou melhor, por um duplo), em perseguição de um BMW M5 nas ruas de Paris. Curiosamente acho que é isto que a Peugeot quer fazer com o novo 508 – perseguir as BMW´s da vida.

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PREÇOS

Active

1.5 BlueHDi 130 cv – 35.300 €

2.0 BlueHDi – 160 cv – 37.300 €

Business Line (para empresas)

1.6 PureTech 180 cv – 39.700 €

1.5 BlueHDi 130 cv – 36.100 €

2.0 BlueHDi – 160 cv – 42.500 €

Allure

1.6 PureTech 180 cv – 41.700 €

1.5 BlueHDi 130 cv – 38.100 €

2.0 BlueHDi – 160 cv – 44.500 €

GT Line

1.6 PureTech 180 cv – 44.500 €

1.5 BlueHDi 130 cv – 40.900 €

2.0 BlueHDi 160 cv – 47.300 €

2.0 BlueHDi 180 cv – 48.300 €

GT

1.6 PureTech 225 cv – 49.200 €

2.0 BlueHDi 180 cv – 51.800 €