Volta ao mundo sustentável da produção da BMW em dois dias

06/09/2022

O Motor 24 visitou as linhas de produção da marca alemã e ficou a conhecer a sua estratégia 360 para “apagar” a pegada ambiental. Oportunidade para privar, pela primeira vez, com o Vison Circular, um concept-car que será corpo e rosto da BMW no futuro.

 

Durante dois dias, a BMW deu uma volta de 360 graus para mostrar ao mundo – e ao grupo de órgãos de comunicação presentes, entre os quais o Motor 24, a sua essência sustentável. Desde o momento em que idealiza o seu futuro, através do concept-car Vison Circular, passando pelas linhas de produção, até terminar no prolongamento da vida útil dos seus produtos e materiais. Como explicou, Matthias Junghanns, responsável máximo pelo design da BMW e dos concepts, a grande aposta do grupo pode traduzir-se em quatro formas de conjugar o “re”: “(re)pensar; (re)duzir; (re)utilizar, (re)ciclar”.

“A grande aposta do grupo BMW pode traduzir-se em quatro formas de conjugar o “re”: “(re)pensar; (re)duzir; (re)utilizar, (re)ciclar”.

Explicado por palavras simples, “repensar significa criar sempre com a ideia de circularidade em mente em tudo o que desenvolvemos; reduzir passa por fazer mais com menos recursos, sempre que possível; reutilizar será estender o valor dos produtos BMW o máximo possível; e, por fim, reciclar, que, corresponde ao objetivo de manter os recurso dentro do ciclo durante o tempo que possível”.

Apesar da BMW continuar a produzir e a acreditar nos motores a gasolina e Diesel, como tem deixado bem claro, o construtor germânico fez questão de mostrar tudo o que está a fazer para inovar no campo elétrico (e no hidrogénio, já agora..) como pretende tornar as suas linhas sustentáveis de uma ponta a outra. Uma volta de 360 graus, sim, mas sem pretender voltar ao ponto de partida.

BMW i Vision Circular

Não há volta a dar. Quando se fala “ambiente” e “descarbonização, no universo deste gigante germânico, todos os olhares estão centrados no BMW i Vision Circular: um concept-car que representa tudo o que o grupo pretende ser em matéria de mobilidade sustentável.

Este show-car, se quisermos, já havia sido mostrado à comunicação social no Salão de Munique, ainda com as devidas distâncias e reservas de informação. Desta feita, a BMW desvendou um pouco mais (não tudo) deste compêndio de tecnologias presentes e futuras. Toda a produção do grupo – como veremos, adiante – beberá do que for experimentado e desenvolvido no Vision Circular. Esta será a visão da BMW em todos os modelos que venham a ser lançados nos próximos anos, mesmo antes da estreia deste pequeno compacto 100% elétrico, cuja produção em série apenas acontecerá em 2040.

Como recordou Matthias Junghanns, na sua apresentação, o BMW i Vision Circular “é um modelo otimizado para ciclos fechados de materiais” e o objetivo final passa por “utilizar componentes 100% reciclados”. Para isso, importa recordar os quatro “re” atrás mencionados: ((re)pensar; (re)duzir; (re)utilizar, (re)ciclar.
“o BMW i Vision Circular “é um modelo otimizado para ciclos fechados de materiais” e o objetivo final passa por “utilizar componentes 100% reciclados”

O visual deste concept-car não podia ser mais vanguardista. Uma antecâmara onde se pode espreitar o futuro. E a vista é, diga-se, bastante atrativa e interessante, sendo de destacar o minimalismo e a simplicidade elevados a um patamar raramente visto na indústria. Quase nada o identifica como um BMW, admitamos, em termos de design. As formas são as de um pequeno monovolume com umas enormes superfícies vidradas e despojado de tudo o que é supérfluo. Os materiais são “puros” e o número de peças e componentes foi reduzido ao mínimo possível. A carroçaria do Vision Circular consiste quase exclusivamente de materiais reciclados, de aço, alumínio, plástico e vidro. Se a proporção de componentes reutilizados nos veículos BMW ronda, hoje, os 30%, prevê-se que, a médio-prazo, seja já de 50%.

A grande e tradicional – e nem sempre amada, também… – grelha frontal em forma de duplo rim não existe nesta versão futurista da BMW, dado que esta se funde harmoniosamente com elementos óticos algo radicais.

Na traseira também existe uma faixa transversal iluminada que percorre toda a largura do veículo e que contorna o logotipo da marca alemã. Por cima deste existe um óculo vidrado com uma antena “barbatana de tubarão”, esta sim, ponte de ligação com outros tempos.

O interior é ainda mais arrojado e futurista, embora não esconda também alguns pormenores vintage. O banco traseiro, por exemplo, tem a imagem de um sofá antigo e as cores do habitáculo também são “clássicos eternos”. Conta com quatro portas, mas as traseiras além de minúsculas abrem ao contrário, permitindo uma maior amplitude de movimento para quem entra e sai.

Será totalmente elétrico, obviamente, e destinar-se-á a ambientes urbanos. Mas ainda não há informações técnicas deste BMW i Vision Circular, apontado para 2040. Resta saber o que se passará nos próximos 18 anos numa indústria que parece mudar de “quadro mental e legal” todas as semanas. Mas, até lá, toda a produção do grupo fará o esforço da reinvenção – acrescentamos mais um “r” – para fazer parte de um mundo descarbonizado.

Produção “reciclada”

Os locais de produção do grupo já “são um exemplo de eficiência de recursos em termos de redução de emissões de CO2”, garantem os responsáveis da BMW. “Porque não queremos apenas fazer parte de um futuro sustentável, mas sim ser a força motriz que o governa. Definimos, portanto, as metas mais altas do setor para o ano de 2030. Para monitorar e analisar nossas medidas avançadas, introduzimos sistemas de gestão ambiental em todos os nossos locais de produção, que estão sendo continuamente desenvolvidos e otimizados. Só assim podemos cumprir a ambição de poder demonstrar a eficácia das nossas normas e regulamentos”, explicam.

“Além da contínua expansão e uso de energia renovável e matérias-primas regenerativas na nossa produção, também estamos estabelecemos um importante caminho através das nossas operações de reciclagem. Atualmente, 99% dos resíduos gerados em todo o mundo na nossa produção interna de 2,5 milhões de veículos por ano são reciclados e reutilizados. Estamos constantemente a trabalhar para elevar ainda mais esse nível”, sublinham.

A reciclagem é um dos pontos mais importantes neste contexto. “Além do planeamento inteligente dos nossos produtos, a reutilização de materiais na forma de materiais secundários também está firmemente estabelecida na nossa cadeia de valor agregado. Em suma, já podemos reciclar os resíduos gerados na nossa produção interna a um nível de 99%”, contam os responsáveis na apresentação aos jornalistas.

 

Significa isto que, mesmo quando chega o fim da “jornada” para um BMW, este continua a ser um componente importante na cadeia de valor agregado. “Afinal, não consideramos os nossos veículos em fim de vida, nem os seus componentes e materiais individuais como resíduos a serem descartados, mas como uma fonte essencial de matérias-primas secundárias”, sublinham.

Matérias secundárias

“Em 30 países, e em conjunto com as suas empresas nacionais de vendas, já introduzimos regras para a devolução de veículos em fim de vida e oferecemos reciclagem compatível com o ambiente em mais de 3.000 pontos de recolha. Acima de tudo, queremos garantir que os nossos veículos elétricos sejam reciclados de forma transparente. No longo prazo, a mobilidade elétrica não pode depender apenas de materiais primários, sendo, portanto, necessário alterar o processo inerente aos recursos. Os nossos clientes têm assim a oportunidade de entregar os seus veículos no Centro de Reciclagem e Desmantelamento (RDZ). Neste Centro, para além da receção de viaturas em fim de vida, trabalhamos constantemente em novos conceitos e medidas para podermos continuar a desenvolver os nossos processos de reciclagem”, reforçam os mesmos responsáveis da BMW.

“Atualmente, 99% dos resíduos gerados em todo o mundo na produção interna de 2,5 milhões de modelos BMW, por ano, são reciclados e reutilizados”

A produção da BMW recorre, hoje em dia, a matérias-primas secundárias e renováveis ​​“onde quer que faça sentido técnico, ecológico e económico – e pretendemos aumentar significativamente a proporção desses materiais até 2030”, garantem. “Atualmente, usamos cerca de 25% de aço secundário, até 50% de alumínio secundário em alguns componentes e até 20% de termoplásticos secundários. Desta forma, estamos comprometidos com a engenharia do ciclo de vida para uma reciclagem eficiente, pois o uso de materiais secundários reduz consideravelmente a pegada de CO2”, justificam.

 

No caso das baterias que ultrapassaram sua vida útil como armazenamento estacionário, “também estamos a alcançar uma taxa de reciclagem com um crescimento constante em relação aos recursos valiosos”, dizem os responsáveis da BMW. “Isso possibilita a produção de materiais reciclados de alta qualidade para a produção das nossas novas baterias de íons de lítio. Fizemos uma parceria com o especialista alemão em reciclagem Duesenfeld para desenvolver um método que atinge uma taxa de reciclagem de materiais de 96% – incluindo grafite e eletrólitos. Atualmente, apenas os termoplásticos amolecidos com eletrólito permanecem após o processo. Atualmente, apenas os termoplásticos amolecidos com eletrólito permanecem após o processo”, garantem ainda os responsáveis da BMW.