O mercado frotista está a abandonar os diesel e a render-se aos veículos elétricos e plug-in. O diretor comercial da LeasePlan acredita que o renting tem espaço para crescer nas PME e nos particulares.

Ricardo Silva é o novo diretor comercial da LeasePlan em Portugal. Um cargo que assumiu em fevereiro, num cenário particularmente adverso do país (e do mundo), devido à pandemia, depois de uma longa experiência em gestão de frotas e mobilidade. Sempre na multinacional que abraçou em 2001. A palavra “mobilidade” não surge por acaso no currículo e tem muito a dar no contexto da transição energética.

As tendências de mobilidade mudaram muito. De que forma podem essas alterações afetar o mercado frotista?
Essa mudança favorece-nos. Houve movimentos que contribuíram para isso. A utilização do transporte individual cresceu, por razões óbvias. E quem tem condições financeiras foge dos transportes públicos. Não é necessariamente bom, porque um maior número de carros na estrada corresponde a mais poluição. Mas, para o nosso negócio, tem esse aspeto positivo. Depois, num momento de incerteza, como o que vivemos, se olharmos para a média do parque automóvel nacional, já vai a caminho dos 12 anos. Um particular, quando compra um automóvel, pensa em utilizá-lo durante sete anos. E uma empresa, por quatro ou cinco anos, por causa da quilometragem. Se não sabemos o que acontecerá daqui a dois ou três anos, que sentido é que faz comprar um carro? Não só as empresas, também os particulares. Nos particulares, sentimos um boom quando o mercado abriu. Muitos particulares. Acredito que as pessoas ganharam maior consciência para o impacto que as suas escolhas têm no ambiente. A pandemia acabou por acelerar uma tendência que já vinha em crescimento.

No contexto da transição energética, como é que os clientes empresariais estão a adaptar-se aos elétricos? A procura tem crescido? Ou a combustão interna ainda está no centro das suas opções?
Está em mutação. E acelerada. Por várias circunstâncias. O veículo elétrico e o plug-in (mais este), apesar de o governo insistir em castigá-los. Verifica-se uma aceleração grande da procura de elétricos e de plug-in e a queda do peso dos motores diesel. Os veículos elétricos padecem de um problema que os plug-in não têm tanto: a diversidade de oferta, embora comecemos a ter mais. Nos plug-in, há muita oferta. O diesel era preponderante nas frotas há três anos. Não digo que já não o seja, porque temos de esperar que as frotas sejam renovadas, o que demora mais um pouco. Mas, nas novas encomendas, os veículos diesel já não têm a maioria. O mix está muito distribuído: plug-in a crescer muito, elétricos também e depois os motores a gasolina nas gamas mais baixas. Começa a ser muito diversificado e esta tendência acelerou muito neste último ano.

A LeasePlan publicou um estudo neste ano onde conclui que a Europa nunca esteve tão preparada para veículos elétricos, apesar de constatar que há atraso nas infraestruturas de carregamento…
Os atrasos nas infraestruturas ainda são o maior problema. A oferta de modelos era um problema, mas tem estado a crescer. As marcas estão obrigadas a lançar elétricos e plug-in. O maior obstáculo, hoje, é a velocidade lenta a que a rede está a aumentar. Em Portugal, nota-se a evolução, mas tem de ser acelerada. Já não há dúvidas de que deve investir-se nas infraestruturas. A procura de elétricos cresce muito, não se pode adiar. Em vez de castigar plug-in, o foco devia estar na criação de condições para a rede de carregamento crescer mais depressa.

Contradizendo a dificuldade de previsão dos tempos atuais, proponho-lhe um exercício: como antevê a frota da LeasePlan dentro de cinco anos?
A frota crescerá, o renting também. Vê-se pelo movimento dos operadores. As marcas já estão no modelo de subscrição. E todas, de uma forma ou de outra, têm estratégias nesse sentido. Nós já lá estávamos. O modelo de subscrição vingará e a nossa frota vai aumentar. O segmento corporate já é muito maduro no renting. Aí o espaço para crescer é menor. Mas nas PME e particulares há todo um mundo: a penetração de renting e até de leasing é mais baixa. A eletrificação é também uma garantia. A grande questão é a que ritmo. Se é com baterias, com hidrogénio… Mas a eletrificação é uma inevitabilidade.