A ‘besta’ da Fiat que cuspia fogo e gasolina

16/07/2019

Os primórdios da indústria automóvel são exemplares na quantidade de projetos fora de série que nos dias de hoje seriam de difícil existência. Enquanto exemplos de aventura e arrojo, muitos dos carros que moldaram a indústria de hoje desafiavam a lógica racional e até a própria segurança dos seus condutores, numa época em que cintos de segurança estavam longe de ser uma realidade.

Um dos melhores exemplos desse arrojo desmedido é o Fiat S76, de 1911, que foi restaurado por completo recentemente e que se demarcava por características técnicas capazes de espantar atendendo à era em que foi criado. Com um motor de apenas quatro cilindros este Fiat apresentava uma capacidade de 28.4 litros de cilindrada, o qual oferecia uma potência de 300 CV para 1650 kg de peso. A caixa era manual de quatro velocidades.

Com um ruído quase ensurdecedor e labaredas emanadas dos escapes, o Fiat S76 rapidamente ganho o epíteto de ‘Besta de Turim’ pelas suas capacidades, concebidas essencialmente para perseguir recordes de velocidade em terra. Na época esse era detido pelo Blitzen-Benz de 21.5 litros de cilindrada, havendo registo de apenas dois Fiat produzidos, mas sem que nenhum conseguisse, efetivamente, açambarcar para si o recorde de velocidade oficial. Isto porque, embora tenha alcançado efetivamente uma velocidade de 135 mph (217 km/h) em Ostenede, na Bélgica, o recorde não foi oficializado por não ter cumprido a segunda parte da volta na hora especificada.

Depois da primeira Guerra Mundial, um dos modelos foi desmantelado pela Fiat para evitar que caísse nas mãos de rivais, numa atitude pragmática comum na época, sem olhar para os saudosismos que hoje levam as marcas a reservar uma unidade de cada gama em museu. Também Enzo Ferrari, por exemplo, era adepto dessa prática, o que fez com que alguns dos modelos mais icónicos da sua história apenas revivam como réplicas, como é o caso do 156 F1.

Regressando ao S76, a unidade que ‘sobreviveu’ acabou por ser encontrada na Austrália pouco depois do primeiro conflito mundial, adquirido pelo aristocrata russo Boris Soukhanov, que o modernizou e competiu com ele como ‘Fiat Racing Special’.

No entanto, o motor original desaparecera, trocado por um Stutz. Muito mais tarde, em 2003, o britânico Duncan Pittaway apaixonou-se pela ‘Besta de Turim’, adquirindo o número 1. Contudo, da unidade que a Fiat desmantelara, encontrou-se o motor original, embora em muito mau estado, com Pittaway a levar a cabo a tarefa um intenso restauro para o recolocar a funcionar.

No final de 2014, mais de 100 anos depois de ter nascido, este exemplar ‘bruto’ voltou a dar sinais de vida, mantendo-se ao longo dos últimos quatro anos a marcar presença nalguns dos mais reputados festivais de clássicos do mundo, como é o Festival de Velocidade de Goodwood, aonde voltou a mostrar a sua rebeldia este ano.

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