A ideia aponta para uma revolução da mobilidade. Sem ser um veículo, o Citroën Skate é um robô autónomo e 100% elétrico que teria o condão de permitir o acoplamento de estruturas em cima – denominadas cápsulas ou ‘Pods’ em inglês –, as quais poderiam incentivar a um diferente aproveitamento do tempo durante uma viagem. Se hoje, o tempo que se perde atrás do volante em engarrafamento urbanos é literalmente isso – um desperdício –, a intenção da equipa da Citroën que desenvolveu este conceito é lançar uma discussão sobre como a mobilidade urbana pode mudar, indo além do conceito de transporte público. Os primeiros projetos foram revelados recentemente em Paris, num esforço coletivo que envolveu a Citroën e duas outras marcas francesas, a hoteleira Accor e a fornecedora de mobiliário urbano JCDecaux.
“Temos visto muitos concepts nos últimos anos, todos eles muito automóveis, de autocarros, ou com designs [próximos] de automóveis. O máximo que permitiam fazer com a autonomia é recostar e ver um filme [durante a viagem], mas, se tivermos a tecnologia autónoma – e podemos tê-la num robô que vai trabalhar 20 horas por dia –, o que é que farão com o tempo que vos damos? Hoje perdemos duas horas no trânsito e o carro já não é a melhor solução para este tipo de trânsito”, começa por explicar Pierre Leclercq, justificando de seguida o conceito de um Citroën que está longe de tudo o que é automóveis da marca. A ideia de reinvenção de negócios foi uma das centrais neste conceito que ficou conhecido por ‘The Urban Collectif’.
“Se vos dermos essas duas horas [desperdiçadas] no trânsito vão fazer o quê? Só ver filmes ou fazer muitas outras coisas? O conceito do formato do carro tradicional já não se adequa. Por isso pensámos em desenvolver um robô como se fosse um Uber da mobilidade. Depois, decidimos que íamos trabalhar com parceiros e eles iriam reinventar o seu negócio e reinventar a forma como vamos do ponto A ao B. Parece um conceito de mente muito aberta [mas], ao falar assim com os nossos designers eles criaram mais de 60 conceitos em apenas dois dias. Escolhemos alguns de entre os mais de 60 desenhos que a nossa equipa criou e fomos procurar parceiros: falámos com a Accor e com a JC Decaux e quando lhes mostrámos o conceito e lhes explicámos o que queríamos fazer, eles tinham os olhos brilhantes. Ficaram tão contentes com a ideia e ficámos com a sensação de que poderiam reinventar a experiência de viajar além da simples ideia de ver um filme”, complementa Leclercq.
Apesar de ter sido um projeto idealizado pela marca automóvel, o ponto principal foi passar a mensagem de que este esforço seria conjunto, ou seja, uma parceria em que todos poderiam jogar os seus pontos fortes.
“Trabalhámos bastante com eles. Na Citroën, desenhamos carros e não é todos os dias que trabalhamos com a indústria da hotelaria ou a fazer paragens de autocarros. É super-interessante para nós e para eles. Tivemos de ter em atenção o seu ADN de design e os seus requisitos e adaptar o nosso design às suas necessidades. Nós somos a Citroën, mas aquilo [NDR: aponta para o Citroën Skate] não é um Citroën, é uma parceria”, assegura.
A filosofia intemporal da Citroën
Contudo, ainda que visualmente distante dos automóveis, este robô autónomo em forma de skate com as suas rodas esféricas não está assim tão longe da filosofia da Citroën de encontrar soluções para necessidades de mobilidade.
“Penso que a Citroën sempre deu respostas a problemas da sociedade em diferentes momentos. Nas décadas de 1930 e 1940, logo após a guerra, surgimos com o 2CV. [Naquela época] existiam soluções de mobilidade para as pessoas da cidade e nenhuma para as do campo e assim nasceu o 2CV com um propósito diferente de design. Foi uma solução. Agora, trouxemos o Ami: por 6000€ trouxemos uma possibilidade de mobilidade para todos. Aqui temos também uma solução que é disruptiva e que é muito própria da Citroën. Se pensarmos na Stellantis e nas 14 marcas, penso que somos a única marca que pode fazer algo assim. Agora… claro que não quer dizer que não vamos fazer mais carros. Para mim, é preciso encontrar soluções nos centros da cidades, porque em cidades como Paris é verdadeiramente doloroso estar ao volante e perder todo este tempo. Assim, o carro já não faz sonhar. Mas, fora das cidades, sim, fazem sentidos e a Citroën continuará a fazer carros porque os adoramos e porque ainda existe desejo por eles”.
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