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As versões icónicas da Renault 4L: ‘Carro’ para toda a obra

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Na comemoração dos 60 anos daquele que é o Renault mais vendido de sempre, com mais de oito milhões de unidades produzidas entre 1961 e 1992, a marca levou-nos até França para ficarmos a conhecer alguns exemplares especiais que ajudaram a criar a lenda da 4L. Entre os modelos de competição e os de trabalho na área da segurança, eis dez modelos emblemáticos que estão em exposição na Renault Classic, em Flins.

Para uma marca com um passado tão extenso e com um legado de cerca de 850 automóveis, causa alguma estranheza o facto de a Renault não ter um museu dedicado a contar a sua história. Sobretudo, quando se tem em conta a longevidade da companhia, os seus sucessos e a coleção de veículos históricos que está entre as maiores do mundo – se não mesmo a maior, de acordo com os responsáveis daquele departamento.

Porém, Dominique-William Jacson, um dos responsáveis do departamento de automóveis clássicos da Renault, explica que o objetivo da companhia não é ter os veículos parados, inertes no seu movimento. Ao invés, o seu trabalho é manter os automóveis em perfeito estado de funcionamento, com capacidade de andar na estrada sempre que necessário, obedecendo a processos de restauro muito específicos consoante o modelo. Sem museu, a marca organiza, ciclicamente, áreas de exposição especiais consoante a época, seja no espaço de Flins, seja através de parcerias com museus.

No total, são cerca de dez as pessoas que se dedicam a cuidar deste acervo histórico da indústria automóvel, com essa equipa apta a trabalhar num amplo leque de veículos, desde as 4L da exposição atual – em comemoração dos seus 60 anos – aos motores dos antigos monolugares de Fórmula 1. Por vezes, por uma questão de facilidade na obtenção de peças, há até duas unidades do mesmo carro, sendo uma utilizada como ‘dadora’ de órgãos para que o outro continue a rolar. Outra valência deste centro técnico é o de digitalização dos arquivos, um processo moroso e delicado que pretende tornar mais fácil a documentação dos automóveis do passado, em mais de 120 anos de feitos.

No caso dos Renault 4L da exposição, todos contam uma história e têm uma importância digna de registo para a marca, como o primeiro modelo a ser apresentado – curiosamente, um Renault 3, igual em tudo ao 4 e 4L, menos na potência fiscal para taxação – ou o último de um total de 8.135.424 unidades.

Eis os modelos mais interessantes desta exposição.

Renault 4L Expedition Michèle Ray (1965)
Com a popularidade do 4L a subir, a Renault também começou a usar o modelo em competições e expedições para demonstrar a sua fiabilidade e robustez. Um dos exemplares da exposição protagonizou a Expedition Michèle Ray-Terre de Feu-Alaska, que levou quatro modelos da ‘Elle’ a percorrer um longo trajeto pelo continente americano em 1965 numa época arriscada – não só com riscos no percurso, mas também pela própria vertente política, nem sempre pacífica.

Em duplas divididas por duas 4L, Michèle Ray, Eliane Lucotte, Betty Gérard e Marline Libersart cumpriram o percurso e o exemplar na coleção da Renault evidencia todas as agruras por que passaram no trajeto – a carroçaria não esconde as amolgadelas e há até um pequeno suporte à frente para a instalação de uma câmara. A versão exposta tinha a alcunha ‘Fossette’.

Renault 4L ‘Haute Couture’ (1963)
Uma versão um pouco mais requintada e direcionada para as cidades e, sobretudo, para as mulheres. Ao longo do desenvolvimento deste modelo houve uma frota utilizada em test-drives de 48 horas por cerca de 6000 mulheres, que depois tiveram de relatar os pontos mais positivos na sua experiência.

O grafismo da carroçaria foi um dos pontos mais elogiados, tornando-se assim imagem de marca da versão ‘Parisienne’. Pintura preta com as decorações na carroçaria, portão traseiro e elementos cromados destacam a variante Parisienne, embora a versão exposta seja uma ‘Haute Couture’. Atrás, o vidro da bagageira podia ser baixado independentemente, para acesso mais simples, uma vez que o processo de abertura do portão traseiro era mais complicado, com dois passos diferentes.

Renault 4L E-Plein Air Concept (2019)
Este concept era uma reinterpretação do Plein-Air original, que não foi propriamente um sucesso, tratando-se se uma versão que pretendia competir com o Citroën Méhari. Ainda assim, foi um ícone.

Desta forma, em 2019, a marca procedeu a uma reinterpretação do modelo descapotável, recebendo a motorização elétrica do Twizy e a instrumentação desse igualmente. Produzido com base no chassis JP4, com a mesma distância entre eixos. O concept foi revelado no encontro internacional de 4L de 2019.

Renault 4L Parisienne Electrique (2021)
Para assinalar o seu compromisso com a mobilidade elétrica, a Renault efetuou uma conversão de seis unidades para versões elétricas, com um motor elétrico de 25 kW ligado à caixa de velocidades original, o que garante as mesmas prestações que o modelo original.

Duas baterias são colocadas no compartimento dianteiro do motor e no espaço do depósito de combustível para uma autonomia de 110 quilómetros. A unidade configurada na exposição em formato Parisienne (com grafismos na carroçaria, pintura preta e elementos cromados, tinha por base uma versão GTL, a mais bem-sucedida do 4L.

Renault 4L ‘Gendarmerie’
Exemplo de sucesso deste modelo entre serviços de administração ou de segurança, com muitos modelos vendidos para serviços como os correios, bombeiros ou polícia, como o das imagens, utilizado pela ‘Gendarmerie’.

O motivo para a escolha desta unidade é curiosa: o 4L foi escolhido por ser mais fácil de sair com o chapéu da polícia na cabeça… No total, a polícia francesa utilizou mais de 14.500 unidades do Renault 4L, a grande maioria de equipamento básico. Outros modelos cumpriram o seu serviço nos bombeiros.

Renault 4 ‘Rallye Dakar (1980)
Também no desporto o Renault 4 deu cartas, com os irmãos Claude e Bernard Marreau a participarem no desafiante Rali Dakar de 1980, uma prova ainda recente que levava os competidores pelo ‘coração’ do continente africano.

Depois de uma participação que lhes deu o quinto lugar à geral, a edição de 1980 proporcionou um pódio, com a dupla a obter o terceiro lugar. O Renault 4 utilizado contava com um motor do Renault 5 Alpine Gr2, com um depósito de 140 litros.

Renault 4 ‘Saline4Fun’ (2011)
Em 2011, na celebração do 50o aniversário do modelo, a Renault Classic levou uma versão muito peculiar do 4 ao deserto do lado salgado de Bonneville, nos Estados Unidos. O 4L de 1983 foi convertido para atingir a velocidade máxima possível. Reduzida altura ao solo, saída de escape lateral em posição elevada, caixa de velocidades baseada na dos 21 Turbo e 25 GTX, enquanto toda a suspensão foi refeita para lidar com o aumento da velocidade. Com a adição dos componentes de segurança, o peso total deste modelo chegou aos 780 kg.

O motor era o 1.4 turbo de quatro cilindros derivado de um Renault 5 Turbo, com uma potência de 285 CV, enquanto os pneus foram também renovados, utilizando pneus especiais Goodyear Long Speed Racing, valendo-lhe uma velocidade máxima de 237 km/h. O passado da Renault também encontra uma referência na decoração, com uma menção gráfica no capot ao primeiro (e único) carro da marca a tentar estabelecer um recorde de velocidade em terra, o Étoile Filante.

Renault 4 Torpédo SINPAR (1971)
O Renault 4 4×4 SINPAR (Société Industrielle de Production et d’Adaptation Rhodanienne) foi uma conversão pensada inicialmente para utilização pelo exército francês, ganhando tração integral para lidar com terrenos de menor aderência. Porém, o plano de utilização não chegou a ser cumprido, pelo que o modelo acabou por ser vendido a particulares.

Ilustração por ©Greg2021
(@gregillustrateur (Instagram / Facebook) ou @GregLegende (Twitter))

Com maior distância ao solo, tração integral e configuração descapotável, este modelo tinha por base a variante comercial F4, dispondo de duas alavancas a bordo para controlo de tração a um ou dois eixos. A unidade exposta, embora decorada com vinil verde e grafismos que evocam a participação na série de televisão ‘Les Chévaliers do Ciel’, tem cor branca, pertencendo a um dos responsáveis da Renault Classic.

Renault 4L ‘Jogging’ (1985)
Ao longo da sua vida comercial, a gama 4L foi conhecendo edições limitadas especiais que procuravam manter o apelo para os clientes. Entre as versões especiais, houve a ‘Jogging’ com decoração específica, ou a ‘Sixties’, que prestava homenagem aos anos 1960. Lançado em três cores distintas (vermelho, amarelo ou azul), teve uma produção de apenas 2000 exemplares.

Com base no GTL, diferencia-se pelos dois painéis panorâmicos no tejadilho e pela decoração em preto mate da grelha, para-choques, puxadores das portas e espelhos. No caso do ‘Jogging’ em exposição, tratava-se de mais uma conversão para veículo elétrico, sendo igualmente uma réplica. Estimam-se que existam menos de dez unidades em França pelo que encontrar um modelo original tornou-se ‘missão impossível’.

Renault 4L Plein Air
O modelo que deu origem à reinterpretação de 2019 foi desenvolvido pela SINPAR, como alternativa ao Citroën Méhari, apostando numa abordagem irreverente e despreocupada para utilização dentro e fora de estrada. Lançado em maio de 1968 – uma coincidência interessante –, o Plein Air teve uma produção muito limitada até abril de 1970, quando deixou de ser produzido.

 

Na sua essência, é um Torpédo, mas mais simples com uma carroçaria desprovida de portas laterais, guarda-lamas e tejadilho, o que obrigou a um reforço da sua estrutura. Curiosamente, como método de ‘segurança’ lateral, contava com um simples cabo no lugar das duas portas.

Renault 4 F4 ‘Darty’ (1986)
Utilizado por entidades particulares, a Renault 4 teve também necessidade de adaptação para fins específicos, como é o caso da variante comercial F4. Com uma capacidade de carga em redor dos 300 kg e 2 metros cúbicos de volume, a versão comercial dispunha ainda de suspensão de barra de torsão reforçada atrás, painéis laterais e uma porta traseira com dobradiças laterais para a sua abertura mais simples.

Inovadora era também a sua solução engenhosa de painel traseiro superior que poderia ser levantado e que permitia transportar objetos mais altos – como escadotes –, o que lhe valeu a alcunha ‘Girafone’, uma vez que os anúncios da época até apontavam para a possibilidade de levar uma girafa com a cabeça de fora. Essa solução não terminou no Renault 4, uma vez que nas décadas de 1980 e 1990, o comercial Express utilizou mecanismo semelhante. Aquela carroçaria era também usada pelos serviços de correios.