Clara de la Torre, diretora-geral adjunta para a Ação Climática na Comissão Europeia, lembra que compromisso na transição para uma mobilidade com emissões zero requer mudança na forma de atuar. E lembra grandes benefícios, como criação de novos empregos no setor dos transportes

A diretora-geral adjunta para a Ação Climática na Comissão Europeia pede uma ação imediata e alinhada internacionalmente na indústria e no setor dos transportes para atingir a neutralidade climática em 2050. Clara de la Torre crê que a nova legislação da União Europeia e os programas de incentivo a combustíveis descarbonizados podem ter sucesso e até permitir à Europa liderar o mercado de combustíveis verdes.

“O mundo mudou dramaticamente, e a Europa em particular, mas tem de ser climaticamente limpo até 2050. Para enfrentar a atual crise económica, o Green Deal [da Comissão Europeia] vai simultaneamente reconstruir a economia europeia, a nossa vida de uma forma mais sustentada e deixar o planeta em melhor estado do que aquele em que o encontrámos antes da crise pandémica”, analisou a diretora-geral adjunta para a Ação Climática na Comissão Europeia.

“Alcançar a neutralidade climática em 2050 exige que aumentemos a nossa ambição na política climática”, prosseguiu Clara de la Torre, que foi muitos anos responsável na Comissão Europeia pelas políticas do setor de transportes.

“Os transportes são um setor em que infelizmente o aumento de emissões é muito relevante. Temos sido ineficazes em diminuir estas emissões”, admite a responsável europeia.

“Sabemos que o setor contribuiu largamente para a economia europeia, mas também sabemos que é responsável por um quarto do total das emissões. Para atingirmos o objetivo em 2050, temos de reduzir em 90% as emissões do setor dos transportes”, assume. “Transportes rodoviários, ferroviários, aéreos e marítimos: todos somos responsáveis por contribuir para estes objetivos e isto requer uma profunda alteração da mobilidade no setor”, juntou.

“Lançámos recentemente um plano de inovação em que investimos 10 mil milhões de euros, oriundos do sistema de comércio europeu. Abrimos candidaturas para propostas que possam implementar tecnologias que possam limpar o nosso sistema. Ao mesmo tempo, muito em breve, vamos lançar uma comunicação para lidar com uma estratégia de mobilidade mais sustentável e mais verde”, recordou Clara de la Torre.

“Quanto aos veículos elétricos, que são uma parte importante deste sistema de mobilidade, a comissão está a trabalhar num regulamento mais efetivo num novo enquadramento temporal para implementar um sistema para melhorar o desempenho, ter melhores padrões de baterias, por exemplo, para promover inovação nos carros em geral e criar uma cadeia de valor circular e mais forte de baterias seguras num novo e competitivo mercado europeu”, pormenorizou a diretora-geral adjunta para a Ação Climática na Comissão Europeia.

Mas há mais: “O hidrogénio limpo será crucial nesta transformação, especialmente quando estamos a descarbonizar os transportes pesados, e que serão também cruciais para os transportes aéreos e navais. Mas tanto para os transportes elétricos como a hidrogénio, construir as necessárias infraestruturas é instrumental”, alertou.

Propomos que em 2025 à volta de um milhão de novos pontos de recarregamento e de reabastecimento estejam prontas em toda a Europa. Vão também suportar a renovação e a limpeza das novas frotas de transportes para cidades e empresas. Isto será feito ligando as todas as nossas instalações na Europa”.

“Além disto, a Comissão Europeia vai continuar a trabalhar em nova legislação para impulsionar a produção e utilização de novos combustíveis alternativos”, prosseguiu Clara de la Torre.

“Reduzir as emissões precisa que também sejam incentivados os combustíveis com melhores desempenhos, em termos de intensidade dos gases com efeito de estufa e, muito importante, travar o uso de combustíveis fósseis”, contextualizou.

“Na Europa, estou convencida que podemos criar mercados líderes de combustíveis descarbonizados”, disse sobre muitos dos benefícios desta transição energética.

“O nosso compromisso na transição para uma mobilidade com emissões zero requer também uma mudança na forma como fazemos as coisas. Isto vai trazer grandes benefícios. Para o setor dos transportes, vai criar novos empregos na produção de novas baterias, na produção de veículos elétricos e na instalação destes novos sistemas de mobilidade”, enumerou.

“Em paralelo, temos de voltar a treinar e aumentar as competências dos trabalhadores da indústria automóvel”, lembrou a diretora-geral adjunta para a Ação Climática na Comissão Europeia.

E concluiu: “A Europa não pode resolver por si própria as alterações climáticas. Limitar o aquecimento global a 1,5 graus é uma tarefa que requer cooperação internacional, trazendo para bordo a indústria europeia, os estados membro, mas também os parceiros internacionais. Só podemos remediar as alterações globais se atuarmos em conjunto e fico feliz por constatar que há inúmeras iniciativas em que os parceiros internacionais já estão a aliar forças”.

Texto: António Pedro Pereira