A necessidade de reduzir as emissões de CO2 de forma rápida e eficaz leva diferentes empresas a pesquisarem caminhos paralelos, mas não mutuamente exclusivos, para esse fim. Além da tendência confirmada de eletrificação e a inclinação para a utilização do hidrogénio como combustível do futuro, face à quantidade massiva de veículos de combustão interna que ainda circulam, existe uma outra opção que está a ser trabalhada por companhias como a Audi ou a Bosch.

Os combustíveis sintéticos renováveis são cada vez mais encarados como uma solução alternativa eficaz para alimentar os milhões de automóveis e motos nas estradas, mas também com a capacidade de baixar as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, atingindo-se assim uma dupla conquista em termos ambientais e em termos de versatilidade de aplicação, uma vez que praticamente não necessitam de alterações técnicas nos veículos.

Uma das empresas que está mais avançada neste campo é a Bosch, a qual argumenta que “tecnicamente, já é possível fabricar combustíveis sintéticos” de forma eficiente e com neutralidade de emissões de CO2. “O processo começa com a aplicação da eletricidade gerada a partir de fontes renováveis para obter hidrogénio da água. Posteriormente, é adicionado carbono. Finalmente, é combinado CO2 e H2 para produzir gasolina sintética, Diesel, gás ou querosene”.

Os combustíveis sintéticos renováveis são fabricados exclusivamente com energia obtida de fontes renováveis, como o sol ou o vento, com este processo a mostrar-se ainda mais ‘verde’ pelo facto de os fabricantes captarem o CO2 necessário para produzir esse combustível a partir do ar na atmosfera, transformando um gás de efeito estufa num recurso. Isto cria um ciclo produtivo em que o CO2 emitido pela queima de combustíveis sintéticos renováveis é reutilizado para produzir novos combustíveis.

A Bosch argumenta mesmo que “os veículos na estrada, quando movidos a combustível sintético, são em última análise neutros para o clima”. As estruturas químicas e as propriedades básicas da gasolina permanecem intactas, não afetando o funcionamento dos veículos mais antigos.

Sem mudanças, tudo a mudar

O processo Fischer-Tropsch produz combustíveis sintéticos renováveis que podem ser utilizados com recurso à infraestrutura e motores que existem atualmente. Os especialistas chamam-lhe combustíveis sintéticos “drop-in” porque podem ser utilizados sem necessidade de modificar a infraestrutura e os veículos, tendo um impacto imediato e proporcionando resultados mais rápidos. Além disso, podem ser adicionados ao combustível convencional para ajudar a reduzir as emissões de CO2 dos veículos já em circulação.

Este processo de produção é perfeitamente viável, mas falta ainda capacidade produtiva que permita também reduzir os seus custos. Esses tornar-se-ão mais reduzidos assim que as capacidades de produção aumentarem e o custo da eletricidade gerada a partir de fontes renováveis diminuir. Estudos atuais apontam para que o preço possa rondar 1,20 e 1,40 euros por litro (excluindo impostos especiais de consumo) até 2030 e menos de um euro até 2050.

Mesmo no futuro, quando todos os carros e camiões forem movidos a baterias ou células de combustível, os aviões, navios e outros veículos de transporte de mercadorias pesadas, continuarão a depender dos combustíveis convencionais. Os motores de combustão movidos a combustíveis sintéticos neutros em carbono são, portanto, um caminho crucial a explorar.

Recursos preservados

A Bosch explica também que não existe obrigação para se efetuar uma escolha entre combustível no depósito ou comida no prato, uma vez que na sua produção têm como base eletricidade. Os biocombustíveis, atualmente produzidos a partir de resíduos, são úteis, mas o seu fornecimento é limitado. Em contraste, se na base da produção estiverem energias renováveis, os combustíveis sintéticos poderão ser produzidos em quantidades ilimitadas.