Como nasceu a grandiosa colecção Bugatti de Fritz Schlumpf

23/05/2020

Fritz Schlumpf, nascido em Itália, mas de nacionalidade suíça, era um homem que adorava a Bugatti e desde sempre quis ter a maior colecção da marca do mundo, reunindo o maior número possível de automóveis. De facto, até e tornou uma obsessão, tendo mesmo andado dois anos a negociar com um coleccionador, para adquiri 30 modelos da Bugatti.

Bugatti e Schlumpf são dois nomes que andaram juntos durante vários e longos anos, tendo Fritz adquirido o seu primeiro Bugatti em 1928, com 22 anos de idade, conduzindo-o ao fim de semana e em corridas, mas a sua “obsessão” pelos Bugatti só se iniciou em 1961.

Em 1935, Schlumpf e o seu irmão mais velho, fundaram a SAIL, Société Anonyme pour l’Industrie Lainière, uma empresa de lãs. Após a Guerra, adquiriram várias fábricas e moinhos de fiação, na Alsácia, até quase dominarem toda a indústria têxtil na França. Em 1957, adquiriram uma antiga fábrica de lã em Mulhouse, para ali criarem um museu automóvel, em homenagem à sua mãe e a Ettore Bugatti, mas principalmente para o próprio Fritz Schlumpf.

Foi então, que a partir de 1961, Fritz começou a comprar todo o tipo de automóveis Bugatti, contactando os próprios proprietários em todo o mundo para lhos vender. Através de Hugh Conway, membro do British Bugatti Owners Club, conseguiu entrar em contacto com um coleccionador americano, John W. Shakespeare, de Hoffman, Illinois, em 1962. Desde os anos 50 que Shakespeare coleccionava automóveis Bugatti, iniciando-se com um Bugatti Type 55 de 1932, seguindo-se um Type 41 Royale Park Ward, seguindo-se doze Type 57, três Type 55 e o próprio automóvel eléctrico de Ettore Bugatti, um Type 56 de 1931. Ao todo, a colecção compreendia cerca de 30 automóveis Bugatti, fazendo dela a maior do mundo, algo que Schlumpf queria mudar.

Schlumpf fez uma oferta pela colecção de 70.000 dólares, mas Shakespeare pediu no mínimo 105.000 dólares. Dessa forma, Schlumpf pediu a um especialista da Bugatti, Bob Shaw, para ir avaliar a colecção, chagando à conclusão que a maioria dos automóveis estava em mau estado, com vidros partidos, sem andar há muito tempo e guardados num local sem condições mínimas, pois entrava água e pássaros. Apesar dos avisos, Schlumpf subiu a sua oferta para os 80.000 dólares, e após muito tempo em negociações, ambos chegaram a um acordo, a colecção seria vendida por 85.000 dólares, algo como 666.280 euros hoje, valor que incluía o transporte para França. Pensando bem, nos dias de hoje, o valor até foi bastante bom, mas na época não se pensava em guardar automóveis antigos, muito menos que estes iriam ver o seu valor aumentar.

A 30 de Março de 1964, 30 automóveis históricos da Bugatti foram carregados num comboio, na Southern Railway, onde iriam até Nova Orleães, para embarcarem num cargueiro holandês. Algumas semanas após o barco chegaria a ao porto francês de Le Havre, onde Fritz aguardava ansiosamente pela chegada do seu tesouro, estando agora perto de conseguir atingir o seu objectivo, de ser o maior coleccionador Bugatti do mundo. Em 1965, os irmãos Schlumpf fizeram uma conferência a mostrar a colecção e indicar que tinham intenções de abrir um museu, mas isso nunca veio a acontecer.

Os irmãos Schlumpf tiveram pouco tempo para apreciar a sua colecção, pois esta só duraria alguns anos. Devido a práticas comerciais pouco claras, os seus trabalhadores iniciaram várias greves e próprio declínio da indústria têxtil em França não ajudou a empresa e os irmãos foram forçados a fugir para a Suíça. Só em 1977, é que a colecção foi descoberta pelos trabalhadores, pois esta era mantida em segredo, e como forma de vingança, queimaram um Austin 7. Em 1978, a colecção foi elevada a património, para impedir que os automóveis fossem destruídos ou vendidos e exportados.

Hoje restam alguns dos modelos mais raros e exclusivos, em exposição no Museu Cité de l’Automobile, em Mulhouse, com a maior colecção de automóveis do mundo, com 400 automóveis mais raros alguma vez produzidos, incluindo cerca de 100 modelos da Bugatti, a maior parte oriundos da colecção de Schlumpf. Outra parte da antiga colecção dos irmãos Schlumpf está no Mullin Automotive Museum, em Oxnard, no estado da Califórnia, EUA. Em ambos os museus, os automóveis estão no estado em que foram encontrados, sem nunca terem sido submetidos a qualquer restauro.

Como curiosidade, a colecção de Schlumpf não era composta só de modelos Bugatti, mas também haviam outros automóveis na colecção. Por exemplo, em 1960, eles compraram 40 automóveis, dos quais somente dez eram Bugatti, os restantes eram três Rolls-Royce, dois Hispano-Suiza e um Tatra, entre outros. A Gordini vendeu dez automóveis de competição aos irmãos e a Ferrari vendeu um monolugar. Além destes, a Mercedes-Benz também vendeu alguns automóveis de competição aos irmãos e o piloto Jo Siffert vendeu-lhes três Lotus de competição.

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