Para uma marca com mais de 100 anos de história, surpreende que a Renault não tenha um museu dedicado ao seu passado. No entanto, isso não quer dizer que a companhia francesa não tenha um dos maiores acervos automóveis do mundo: com efeito, no centro de clássicos de Flins, em França, a Renault dispõe de uma das maiores coleções do mundo, com mais de 850 automóveis que, como condição suplementar, estão quase sempre prontos para andar.

O legado da Renault é longo e vasto, mas não há forma de ter, num único espaço, uma noção concreta de tudo o que a marca do losango conquistou durante a sua existência. Pelo menos, para os visitantes comuns. Ocasionalmente, para eventos especiais, o centro da Renault Classic, em Flins, coloca alguns dos seus exemplares de novo à vista, como foi o caso recentemente com as exposições de comemoração dos Renault 4 (2021) e Renault 5 (2022).

Foi precisamente durante uma dessas visitas a Flins que Dominique-William Jacson, um dos responsáveis do departamento de automóveis clássicos da Renault, explica que o objetivo da companhia não é ter os veículos parados, contando uma história silenciosa apenas pelo simples facto de existirem.

Ao invés, o objetivo da Renault Classic é manter os automóveis em perfeito estado de funcionamento, com capacidade para andar na estrada sempre que necessário, obedecendo a processos de restauro muito específicos consoante o modelo. Sem museu, a marca organiza, ciclicamente, áreas de exposição especiais consoante a época, seja no espaço de Flins, seja através de parcerias com museus.

Para este fim, a Renault Classic tem no seu enorme armazém (e oficinas) uma coleção vastíssima de automóveis e veículos que podem ser de novo postos na estrada para eventos especiais.

A equipa que trabalha na divisão de clássicos é curta, mas apaixonada pelos seus afazeres, como nos contou Jacson aquando da nossa visita ao centro de Flins por ocasião das celebrações dos Renault 4 e 5, nos dois últimos anos. São centenas de exemplares guardados em condições de circulação que contam as suas histórias de formas distintas, entre veículos de carácter desportivo, familiar ou, até, militar. O departamento cuida também da recolha de documentação histórica de cada modelo e na obtenção de peças que podem ser utilizadas para se manterem os veículos em funcionamento.

Nalguns casos, a história dos veículos conta-se também com as suas mazelas de ‘vida’, como são os casos dos Renault 4 e 5 que cumpriram longas provas de resistência durante aventuras da sua época e que permanecem agora guardados no centro histórico da Renault com amolgadelas, por exemplo. “Cicatrizes da época” que contam uma história, dizem-nos os responsáveis da companhia francesa.

Na oficina, onde os automóveis são cuidados, há uma confluência de eras e de tipologias. Tão depressa se vê um Renault 5 GT Turbo, como um tanque de guerra da Primeira Guerra Mundial, o FT-17, que foi um dos primeiros veículos do género no mundo, ajudando a decidir o primeiro grande conflito militar do Século XX para o lado dos franceses e seus aliados.

A Renault admite ter mais de 850 modelos no seu centro clássico de Flins

Contrariamente a todos os tanques militares daquela época, maioritariamente experimentais, como os do Reino Unido, que eram grandes e lentos, o FT-17 era ágil e manobrável, ao mesmo tempo que era fiável e robusto para os terrenos muito difíceis daquela guerra.

Em destaque está também o primeiro automóvel da Renault alguma vez produzido pelos irmãos Louis, Marcel e Fernand Renault, o ‘Voiturette’, de 1898. Adornado com a placa evocativa do primeiro veículo Renault da história, produzido entre 1898 e 1903, tornou-se um marco da história automóvel francesa, dando assim início para um caminho de sucesso que hoje ainda perdura.

Por outro lado, também há muitos símbolos da competição presentes nestas oficinas, numa prova de que também aqui há um esforço para perdurar o seu legado, como o Tyrrell 015 Renault pilotado por Philippe Streiff, ou o Renault RE40 de 1983 pilotado pelo lendário Alain Prost. Tapados estão outros modelos da marca, sendo também fácil de descortinar a silhueta do Renault R26 de Fernando Alonso tapado por uma coberta verde.

Há ainda modelos de ralis e outros de estrada, espalhados por um espaço que ajuda a manter vivos estes pedaços de história da Renault. Sempre sem museu.

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