Ecokart Portugal revela primeiro kart elétrico com engenharia do ISEL

21/03/2018

António Gonçalves Pereira é o primeiro a reconhecer a ousadia e alguma loucura pela sua aposta na Ecokart Portugal, a primeira companhia ibérica capaz de desenvolver karts elétricos. Mas, é por esse mesmo motivo que o fundador daquele projeto não esconde a sua satisfação e grande orgulho pela materialização de um novo kart elétrico, concebido em parceria com os alunos do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), apropriadamente denominado G2 ISEL.

Aproveitando a mais recente edição do Estoril Experience, que teve lugar no passado fim de semana no Autódromo do Estoril, a Ecokart Portugal revelou a sua nova proposta de veículo de diversão sustentável, o qual servirá para dar a conhecer aos atuais proprietários de kartódromos a validade da transição para uma forma de competição ‘verde’ com recurso aos karts elétricos.

O percurso da Ecokart Portugal tem sido de crescimento paulatino, como reconhece António Pereira, valendo-se de uma cada vez maior notoriedade e dos apoios crescentes para fazer vingar uma forma de diversão para todas as idades. Assim, até ao momento, a atividade da Ecokart Portugal passou muito por dar a conhecer este tipo de veículo e as emoções de pilotar um kart destes, graças ao bi-lugar que tem dado ‘Voltas Solidárias’ por vários pontos do país.

Para o ISEL, o envolvimento em competições elétricas não é, de todo, uma novidade, já que esta instituição leva já diversos anos de participação na Fórmula Student (FS), modalidade em que diversas universidades competem na projeção e conceção de monolugares, que depois são sujeitos a avaliação internacional. A cada ano, um novo projeto da FS funciona como trabalho de fim de curso, sendo também uma forma de aplicação dos conhecimentos angariados ao longo dos anos, tanto a nível de engenharia, como de eficácia aerodinâmica. Assim, o novo Ecokart beneficia de muita da sabedoria e engenho dos universitários que também ‘abraçaram’ este projeto.

No Estoril, falámos com o fundador e principal responsável da Ecokart Portugal, que nos confessou a sua satisfação por mais uma etapa cumprida.

Motor24: O projeto da Ecokart Portugal tem agora este seu primeiro kart elétrico desenvolvido em parceria com o ISEL. De quem é que partiu a iniciativa para a realização deste novo kart elétrico?

António Gonçalves Pereira: A abordagem foi nossa. A resposta do ISEL foi fantástica, nós gostamos muito de aproveitar a inteligência universitária e nós sabíamos que o ISEL tem gente particularmente interessada na área da mobilidade. Aliás, eles já converteram vários veículos para elétricos, que é a finalidade última da Ecokart. Nós começámos pelos karts mas a ideia é, se possível, reciclar todo o tipo de veículos de combustão para elétricos. Portanto, abordámos o engenheiro Paulo Almeida, do ISEL, e a resposta foi fantástica. Fizemos um protocolo, para já, para este carro, mas outras coisas estão já na forja nesta área.

M24: Qual é que será o passo a dar agora que este kart elétrico está pronto? As corridas urbanas fazem parte dos planos?

AGP: Uma das vertentes que espero conseguir com este protótipo é dar origem à primeira frota ibérica de karts elétricos que vamos construir a seguir. Essa frota servirá para o primeiro kartódromo sustentável de Portugal que nós queremos construir. Este kart anda realmente muito depressa. Aliás, por isso é que fizemos o kart de dois lugares para sermos nós a guiar, porque anda mesmo muito e assim mostrar isso às pessoas. Além do primeiro kartódromo sustentável, estes karts servirão também para fazemos as ‘Ecokart races’, que são eventos nos centros das cidades em que queremos convidar empresas, gente conhecida e jornalistas para fazer corridas urbanas, para levar isto às pessoas porque a sensibilização é uma parte importante da nossa missão, mas também para propor aos kartódromo reciclar as frotas. Nós, com este protótipo, vamos agora dar uma volta a Portugal com o Ecokart, indo aos kartódromos para que eles percebam que podemos reciclar as frotas. A nossa ideia não é deitar fora o velho e fazer novo. Isso não é sustentável. A ideia é aproveitar as frotas que eles já têm, em que os motores e toda a parte de combustão vai para reciclar e nós fazemos uma adaptação deste sistema àquele chassis e reciclamos as frotas.

M24: Sobre essa abordagem aos kartódromos, já houve alguma demonstração de interesse por parte deles? Como é que está a decorrer até aqui?

AGP: Temos uma série de kartódromos à espera que lá possamos ir. Só não o fizemos antes por uma razão simples: até aqui só tínhamos o kart de dois lugares, preparado para fazer estas ações de andar à volta dos pinos. Ou seja, não é um kart interessante. Ou melhor, seria, bastando mudar a relação de transmissão, mas se assim fosse iríamos passar a vida a fazer essas alterações,. Assim, esperámos até termos este, que, em termos de rentabilidade, é mais avançado. Este kart é de baterias amovíveis de remoção rápida. Ou seja, quando a que está a andar chega ao fim da sua carga, troca-se por outra já carregada de forma rápida. Isso é importante para a rentabilidade de um kartódromo. Estes karts já são um bom bocado mais caros – por enquanto –, pelo que ter um investimento destes parado a carregar seria incomportável. Isso agora já não acontece.

M24: Ao longo destes meses e através das ‘Voltas Solidárias’, qual tem sido a resposta do público?

AGP: É sempre muito boa. Naquele banco do lado direito já se sentaram mais de cinco mil e tal pessoas e a reação é positiva. Sobretudo, é engraçada, uma vez que as pessoas que estão habituadas a andar com karts a gasolina sentam-se aqui e ficam absolutamente espantadas. Nós temos vários eixos de comunicação, digamos, consoante o tipo de cliente alvo. Para o pessoal das corridas, que é o pior [para convencer sobre os elétricos], argumentamos com a diversão. Para o comum cidadão, serve para lhe demonstrar que o elétrico é uma alternativa já. Quando nos veem uma manhã inteira sem precisar de mudar de bateria ou pôr o kart a carregar, percebem que a autonomia já não é assim um grande problema. Quando veem que arrancamos e ficamos logo virados ao contrário, percebem que a potência é muito mais interessante. É um veiculo muito mais eficaz.

M24: Qual é a autonomia aproximada destes karts?

AGP: Depende sempre da configuração. Em testes, sem sair do mesmo kart, ando em 20 karts diferentes. De cada vez que lhe ligamos o computador, mudamos a configuração e temos outro kart. Temos como termo de comparação um kart a gasolina tradicional dos kartódromos – de 270 cm3 de embraiagem centrifuga – a fazer os mesmos tempos e a andar como esses. O kartódromo consoante o tipo de investimento, pode escolher o número de packs de baterias que quer e com isso ter mais ou menos potência ou maior autonomia. O nível intermédio, aquele que propomos como base, tem uma autonomia de 40 minutos em indoor e de 30 minutos em outdoor. Dá para fazer dois, três ou quatro alugueres e depois muda-se a bateria e continua-se.

M24: Qual é o tipo de custo para estes novos veículos elétricos?

AGP: Posso dar um valor indicativo. Até ao ano passado, o valor indicativo que dávamos era de 10 mil euros. Mas já baixou. Atenção, que não vendemos o chassis. Será sempre com um chassis reciclado ou novo. O sistema, ao qual depois se acrescenta o chassis, pode ser proposto aos kartódromos por um valor em redor dos 6500 euros.

M24: Quanto ao projeto do primeiro kartódromo ecológico, há mais algum desenvolvimento a esse respeito?

AGP: Há várias hipóteses de locais… Na realidade, estamos dependentes de haver investimento. Em termos de missão, é preciso ver que a Ecokart não é uma empresa para já. Vai ter de ser quando fizermos o kartódromo e os eventos. Vamos ter de abrir empresa e parte da missão social vai passar por uma associação, mas somos uma plataforma que tem andando a gastar o seu tempo e dinheiro a fazer isto. Felizmente, já temos parceiros que fazem com que a coisa neste momento já seja financeiramente sustentável. Isto não é para dar lucro… Todo o dinheiro e patrocínios que conseguimos, por exemplo, o da OK! Teleseguros, serviu para fazermos mais ‘ecovoltas’ e para este kart. Outros parceiros que entrarão agora servirão para os mesmos efeitos. Portanto, neste momento, a nossa capacidade de investimento está no limite. De tempo também. Eu praticamente não faço mais nada na vida. Isto que era um projeto de missão social, que me é muito caro… Felizmente, estou rodeado de outras pessoas que me vão chamando à razão, porque se nós morrermos de fome não vamos conseguir sensibilizar ninguém. Se calhar, se fosse só eu, morria de fome. Mas feliz e a dormir descansado, porque já conseguimos ajudar muita gente a evoluir um bocadinho, quer as mentalidades, quer os comportamento e é isso que interessa.

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