Do escape para o papel: a tinta feita a partir da poluição

06/07/2018

Alexandra Beny
Alexandra Beny
Jornalista
Eliminar os malefícios da poluição instalada depois de séculos de emissões de CO2, é um processo desafiante e hercúleo que terá resultados num futuro longínquo. Enquanto isso não acontece, há empresas que se focam na adaptação ao presente. Como a Graviky Labs, uma start-up com sede em Bangalore que decidiu converter o ar poluído… em tinta.
Alexandra Beny
Alexandra Beny
Jornalista

Uma equipa de engenheiros industriais e automóveis, cientistas da computação e entusiastas do design desenvolveu um dispositivo especial para colher os resíduos poluentes provenientes dos tubos de escape. O Kaalink, é acoplado ao silenciador para filtragem de resíduos que são depois quimicamente tratados para produzir um pigmento de carbono purificado. Daí é transformado no produto chave da Graviky Labs: a tinta Air-Ink.

India, o território mais poluído do mundo

Segundo um relatório emitido pela Greenpeace, 90% das cidades pesquisadas na Índia excedem os limites de poluição recomendados. A análise dos dados de 2015 mostra que a taxa de partículas poluentes excede o padrão nacional em 154 das 168 cidades do estudo. Em nenhuma dessas cidades a qualidade do ar corresponde ao nível prescrito pela Organização Mundial de Saúde.

Nova Delhi destaca-se como a mais poluída dessas cidades, com uma poluição média de 268 microgramas por metro cúbico, mais de quatro vezes o limite do padrão nacional de qualidade do ar.

Foi este maleficio que inspirou Anirudh Sharma, um dos co-fundadores da Air-Ink .

“Pensámos ‘ Por que não usar a fuligem como pigmento?’ Reunimos designers, artistas, químicos e especialistas em automóveis para dar vida à ideia. Desde então, temos trabalhado arduamente para tornar o conceito em realidade “, disse.

Numa entrevista publicada na revista Wired Technology em fevereiro, Sharma disse que a empresa instalou 75 kits e colheu quase 100 quilos de partículas, que podem produzir até mil litros de tinta. “Se apenas 15% da tinta preta no mundo fosse substituída pela Air-Ink, travaríamos uma boa quantidade de poluição”, diz ele. A empresa afirma já ter capturado 1,6 mil milhões de microgramas de partículas, purificando 1,6 mil milhões de litros de ar.

Transformar a poluição em arte

Além da “purificação do ar”, a Graviky Labs promete revolucionar a arte. Para já, a empresa tem um gama de canetas de feltro de diferentes espessuras, cuja tinta representa 40 a 130 minutos de poluição de um motor diesel.

Registadas as patentes, a start-up planeia expandir a colheita de fuligem dos tubos de escape dos automóveis para outras fontes de poluição, como chaminés e geradores.

Alem de mais limpo, o futuro adivinha-se inspirador.

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