Um estudo da Federação Europeia dos Transportes e do Ambiente (FETA) revela que as marcas automóveis anunciam consumos de combustível bastante inferiores aos conseguidos em utilização real. No estudo daquela entidade, a construtora com maior divergência entre dados de laboratório e reais é a Mercedes-Benz, que acusam de ter consumos mais de 50% superiores aos obtidos em homologação.

Num relatório duro, a FETA aponta que a Mercedes-Benz é a líder das marcas que “fazem batota” no que aos consumos diz respeito, dando como exemplos os Classe A e E, com consumos em média 56% acima do que é homologado. Outros modelos, como o Volkswagen Passat, também são visados, adiantando que este consome mais 46% do que o anunciado. A Audi é a marca com o segundo maior desvio, com um valor de 49%.

Segundo este estudo, denominado T&E’s 2016 Mind the Gap, os testes de eficiência levados a cabo em laboratório são passíveis de manipulação por parte dos construtores automóveis, ainda que a FETA demonstre preocupação com o facto de, apesar dessa possibilidade e da existência de ‘vazios’ e de flexibilidade que as marcas podem utilizar a seu favor, o consumo ser até 50% superior ao anunciado.

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O estudo aponta para desvios sempre acima dos 35%, estando a média a crescer “exponencialmente nos últimos anos”, com a média da indústria a cifrar-se nos 42%, acima, portanto, dos 28% de 2012 e dos 14% de há uma década. Essa manipulação dos dados de consumos pode representar, aponta ainda a Federação Europeia dos Transportes e Ambiente, para um gasto acessório de 450 euros por ano face ao que seria de supor com os consumos anunciados pelos fabriantes.

Novo ciclo em preparação

A questão não é nova: os consumos homologados pelas marcas cumprem uma fórmula de testes denominada NEDC (New European Driving Cycle), atualizado pela última vez em 1997 e que, embora padronizado, não repercute as condições reais de utilização de um veículo em estrada aberta.

Contudo, reconhecida a sua incapacidade de lidar com os números reais de consumos, em virtude da falha na replicação da condução real, está-se já a trabalhar num novo ciclo de testes para os veículos novos, que seja mais fidedigno, denominado Worldwide harmonized Light vehicles Test Procedures (WLTP), além de outro padrão, o Real Driving Emissions (RDE), ambos com o intuito de mitigar a questão dos desvios entre as emissões poluentes e os consumos de laboratório e os reais.

Algumas marcas, como as do grupo PSA e a Opel, têm vindo já a apresentar também consumos reais juntamente com os obtidos em ciclo NEDC.