Será o hidrogénio o futuro da mobilidade?

06/02/2017

Na batalha pela tecnologia de mobilidade de futuro, o hidrogénio tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos, assente na aposta também mais vincada de diversos construtores automóveis. Com efeito, numa tendência crescente, têm vindo a revelar cada vez mais empenho no desenvolvimento de modelos movidos a hidrogénio, enquanto solução ecológica alternativa aos tradicionais combustíveis fósseis derivados do petróleo, mas também aos elétricos.

O ‘segredo’ das células de combustível a hidrogénio está na forma como é gerada a energia, sendo essa proveniente de reação eletroquímica a partir do hidrogénio. Cada célula de combustível conta com um electrólito, um ânodo e cátodo podendo assim gerar eletricidade para um motor elétrico com a única consequência daí resultante a ser calor e água. Assim se percebe o seu apelo para os construtores automóveis, que procuram reduzir a sua pegada ecológica. Além disso, prometem autonomia semelhante à dos carros atuais e, muito mais importante, tempos de recarga idênticos aos de um posto de combustível dos nossos dias, para um posicionamento mais versátil face aos elétricos e ao seu método de carregamento mais longo.

Contudo, face aos modelos elétricos convencionais, os carros movidos a hidrogénio apresentam igualmente algumas peculiaridades que podem fazer com que a sua implementação se torne mais demorada.

Tal como sucede com qualquer momento de inovação tecnológica, soluções distintas apresentam-se em rivalidade. No caso da mobilidade, o conceito subjacente é idêntico, havendo quem aposte nos modelos movidos puramente a eletricidade e quem acredite que o futuro está no hidrogénio. Ambas têm vantagens e desvantagens, mas é de acreditar que a próxima década trará uma maior definição no caminho a seguir.

O futuro começa hoje

Entre as marcas, a atenção começa a estar agora mais orientada para o hidrogénio: a Toyota lançou no final de 2014 o seu Mirai, cujo sucesso surpreendeu a própria companhia nipónica, estando à venda em diversos mercados mundiais onde as redes de abastecimento de hidrogénio têm alguma aplicação. Com uma autonomia superior a 500 quilómetros, o empenho da Toyota nesta tecnologia fica bem patente no facto de ter como meta a venda de cerca de 30.000 modelos por ano em 2020.

Mais recentemente, para combater o Mirai (que no japonês quer dizer ‘futuro’), a Honda lançou o FCV Clarity, também movido a hidrogénio e com lotação para cinco ocupantes, surgindo também numa série de mercados selecionados com uma vantagem importante – a autonomia de 589 quilómetros e tempo de reabastecimento entre os três e os cinco minutos. A demonstrar também o empenho da marca nesta tecnologia, foi assinado recentemente um acordo de parceria com a General Motors, que irá promover a utilização de sistemas do género de forma conjunta nos próximos anos.

Mas outras marcas começam a olhar para o hidrogénio como uma solução duradoura: a BMW está a trabalhar na tecnologia (tendo no mais recente Série 5 Gran Turismo Fuel Cell uma experiência prática para avaliar o sistema), o mesmo se aplicando à Hyundai, que nos Estados Unidos da América tem vindo a disponibilizar em sistema de leasing um Tucson de célula de combustível a hidrogénio. A marca sul-coreana chama-lhe “potencialmente, a fonte de combustível mais revolucionária na Terra”.

Também a Mercedes-Benz está a apostar no hidrogénio e na célula de combustível, tendo um Classe B F-Cell em ensaios nos Estados Unidos da América e um foco de desenvolvimento acelerado na Alemanha.

Dificuldades na infraestrutura

Um dos principais problemas na implementação do hidrogénio como combustível do futuro passa pela necessidade de uma infraestrutura de abastecimento, que pode ser dispendiosa. Ainda assim, o recente acordo no Fórum Económico de Davos entre diversos integrantes da indústria automóvel – como a Shell e a Total, em parceria com cinco dos principais fabricantes, como BMW, Daimler, Honda, Hyundai e Toyota – pode ajudar a acelerar o processo.

Contudo, essa pode até nem ser a sua principal dificuldade associada: os construtores terão de encontrar uma forma simples e eficiente de produzir hidrogénio e, depois, de armazená-lo em tanques de alta pressão nos veículos.

Em relação à primeira, existe a dificuldade de produzir o hidrogénio de forma totalmente ecológica do metano, uma vez que no processo da sua separação dos compostos naturais de que deriva (seja água ou biomassa) é necessária a utilização de energia, logo, produção de dióxido de carbono. Contudo, o mesmo é válido para as baterias dos veículos elétricos, que se alimentam da rede elétrica: apenas se for obtida de forma 100% renovável é totalmente ecológica. Face ao segundo, a dificuldade inerente está na compressão e armazenamento, que exige uma forma de o tornar liquefeito. A eficiência das baterias elétricas é também uma vantagem face ao hidrogénio, fazendo com que os carros elétricos sejam mais eficientes em termos energéticos.

Vantagens face ao BEV

Considerem-se os veículos elétricos tradicionais (BEV: Battery Electric Vehicles), os sistemas de hidrogénio podem oferecer um peso mais reduzido, já que as baterias elétricas são um elemento bastante pesado e uma maior autonomia pode equivaler a baterias maiores, logo, mais pesadas. Além disso, ao contrário dos elétricos, em que a bateria perde rendimento em climas frios, o sistema de hidrogénio é menos atreito a sofrer desses efeitos. A produção das baterias elétricas, a extração de lítio para o seu fabrico e o processo de reutilização ou reciclagem são outras questões prementes na abordagem ao panorama global dos elétricos na atualidade.

Seja como for, se cada uma das tecnologias apresenta algumas desvantagens, ambas partilham o mesmo objetivo de mobilidade sustentada com o mínimo de impacto ambiental, embora para isso seja necessária a geração de energia totalmente renovável para que ambas tenham sucesso.

Contudo, um estudo recente, apresentado pela Information Trends, sediada em Washington, dá conta de que os veículos com célula de combustível a hidrogénio se preparam para apanhar e superar as vendas dos elétricos devido aos seus tempos mais curtos de reabastecimento e maiores autonomias.

De acordo com Naqi Jaffery, diretor do estudo Global Market for Hydrogen Fuel Cell Vehicles, aquela tecnologia de mobilidade “representa o futuro do automóvel”, prevendo um crescimento substancial da rede de abastecimento e um aumento nas vendas. A este respeito, o mercado mundial de FCV deverá ser rondar os 20 milhões de veículos a célula de combustível em 2032 para uma receita de cerca de 1.2 triliões de dólares para a indústria automóvel.

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