A Carbon Engineering quer espalhar fábricas por todo o mundo para capturar o CO2 da atmosfera acumulado desde a Revolução Industrial. Esse é o “maior obstáculo”, diz o CEO da empresa canadiana.

Vinte mil milhões de dólares é o que gastamos todos os anos para retirar o dióxido de carbono da atmosfera. O ar ficou turvo e pesado quando Steve Oldham, CEO da Carbon Engineering, atirou este valor para a plateia virtual da cimeira do Portugal Mobi Summit. É um custo que nem sequer se consegue traduzir para a vida quotidiana, mas poder-se-á ter uma ideia ao se perceber que corresponde a 23% do PIB mundial.

Quem ficou assustado só com esta amostra, tem de se preparar porque o cenário piora, avisa Oldham. Por mais que se continue a limpar os céus da poluição provocada pelos carros, pelas indústrias ou pela agropecuária, estaremos sempre a correr atrás do prejuízo: “Cerca de 95% do CO2 permanecerá na atmosfera por mais dinheiro que se gaste.” Essa é a herança que se acumulou desde o início da Revolução Industrial, no final do século XIX, e “é o maior desafio que temos pela frente”, defende o especialista canadiano.

E é aqui que entra agora o papel da Carbon Engineering, da qual Steve Oldham é CEO. Em 2015, esta empresa, sediada no Canadá, construiu uma tecnologia capaz de extrair o dióxido de carbono da atmosfera. Todo esse CO2 capturado poderá ser depois armazenado no subsolo ou convertido em combustível líquido sintético e neutro em carbono. A mais-valia dessa solução está em eliminar não apenas as emissões deste presente, como as que estão há décadas depositadas na atmosfera do planeta.

Esta é a boa notícia que Steve Oldham guardou para finalmente desanuviar o ambiente: “O custo da remoção do dióxido de carbono reduz-se para cinco mil milhões de dólares.” Ainda é muito dinheiro – reconhece ele -, mas representa um quarto dos 20 mil milhões gastos atualmente e, melhor do que isso, é uma solução permanente.”

De volta ao subsolo

Todo esse legado poderá, com a tecnologia da Carbon Engineering, regressar ao solo, ficando armazenado sem riscos de vazamento ou da contaminação. Na bacia Premian, no oeste do Texas (EUA), a empresa canadiana tem, por exemplo, espaço suficiente para enterrar 100 anos de emissões do planeta, apesar de este não ser forçosamente o seu destino final.

O CO2 retirado da atmosfera poderá ser aplicado na produção de combustível sintético neutro em carbono, que pode ser usado nos transportes pesados e mesmo como uma alternativa temporária ao combustível usado nos automóveis até se atingir a eletrificação total da mobilidade: “Precisamos de uma solução para este presente, ou seja, não podemos esperar por 2030 ou 2050 porque à medida que os anos passam, mais difícil se torna a sua remoção.”

Daí a urgência em ganhar escala. Isto é, licenciar e espalhar a tecnologia por todo o planeta para que empresas e entidades públicas possam usá-la no tratamento da poluição que cada qual produz. “Estamos perante uma tecnologia que usa os recursos já existentes só que de forma diferente e que pode ser instalada em qualquer parte do mundo.” E até em Portugal, diz Oldham, assegurando que o país tem a localização ideal e as energias renováveis para se transformar num grande produtor europeu de combustível sintético neutro em carbono.

Eliminar as emissões de CO2 é um desafio global que todos os países têm saber responder, avisa o CEO da Carbon Engineering: “Tal como no passado fomos capazes de encontrar as soluções para combater as doenças que se propagavam pela água – a cólera ou a tifoide – teremos agora de encontrar respostas conjuntas para fazer o mesmo com o ar”, remata.

Texto: Kátia Catulo | Foto: Ricardo Gonçalves /Global Imagens