Escala global: O que vai mudar com a fusão FCA-PSA?

31/10/2019

O acordo de fusão entre a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e a PSA irá dar origem ao quarto maior grupo automóvel mundial, com poupanças na ordem dos 3.7 mil milhões de euros anualmente. No entanto, se a força deste novo gigante da indústria automóvel está já à vista pelos números impressionantes – um total de 8.7 milhões de veículos vendidos à escala global –, também as estratégias de ambos os grupos irão receber uma grande mexida.

Em perspetiva está um plano de desenvolvimento conjunto que procurará acelerar desenvolvimentos e trazer os pontos fortes de cada um dos grupos para diferentes segmentos, entre automóveis e serviços de mobilidade.

Para a PSA, será uma forma de conseguir ganhar estatuto num dos continentes nos quais a sua presença é praticamente nula, a América do Norte. Interessada em colocar as marcas Peugeot, Citroën e DS no mercado americano, a PSA poderá beneficiar com a especialização da FCA nesse aspeto, uma vez que esta dispõe de estruturas dedicadas para os Estados Unidos da América, seja por ação da nativa Chrysler, seja pela presença de marcas como a Alfa Romeo.

De acordo com os dados mais recentes relativos a 2018, a FCA vendeu 4.8 milhões de veículos globalmente, com a PSA (detentora das marcas Peugeot, Citroën, DS e Opel) a acumular um total de 3.9 milhões de veículos vendidos também a nível mundial, sentindo os efeitos do arrefecimento da economia chinesa.

Mas, por oposição, os pontos fortes da PSA na Europa servirão grandemente as ambições da FCA, sobretudo numa fase em que a eletrificação ganha preponderância para cumprir as metas europeias anti-emissões, tratando-se de continente em que esta regulamentação acelera com maior ritmo do que noutros.

A tecnologia de conectividade e de condução autónoma é uma das áreas em que esta fusão também irá dar grandes frutos, com a PSA e a FCA a poderem combinar esforços para acelerar a sua implementação. Se ambas têm estado envolvidas em ensaios de estrada nos últimos meses, a FCA, pela sua marca Chrysler, tem um bom avanço fruto da participação de testes com a Alphabet, da Google (anteriormente Waymo), com os Pacifica autónomos a servirem como modelos de desenvolvimento nos Estados Unidos da América.

Plataformas em foco

Tal como fez com a Opel, adquirida em 2017, as marcas do Grupo FCA terão acesso a uma nova geração de plataformas multi-energia capazes de produzir automóveis a gasolina, gasóleo ou eletrificados para uma ampla variedade de segmentos (Peugeot 208, DS3 Crossback e Opel Corsa partilham plataforma, por exemplo). Além disso, as motorizações do Grupo PSA estão entre as mais eficientes da Europa, dispondo de baixos níveis de emissões poluentes que ajudarão a FCA a cumprir com as metas europeias, ao mesmo tempo, proporcionando uma redução dos custos de desenvolvimento de tecnologias para o seu lado.

Recorde-se que a Fiat, marca de maior volume da FCA, não dispõe de nenhum veículo eletrificado neste momento, embora o mesmo já não se possa dizer da Jeep (que terá híbridos em breve), tendo no seu programa, porém, programa de lançamento de novo 500 unicamente elétrico. A este respeito, note-se, a FCA acordou com a Tesla a compra de créditos de carbono para poder cumprir com as metas de emissões de CO2 na Europa até 2022, numa posição que foi criticada por alguns dos fabricantes rivais.

Outra preocupação para as duas companhias estará na defesa dos interesses laborais e dos envolvimentos estatais, tratando-se de empresas que têm raízes históricas em duas nações nas quais os setores sindicais têm grande peso – Itália, Estados Unidos e França. A este respeito, o comunicado inicial tratou, desde logo, de enfatizar que a poupança esperada e as sinergias da fusão não irão implicar o encerramento de fábricas.

O ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, já veio a público congratular-se com “o início das negociações entre os dois grupos”, mas prometeu que o Estado, acionista em 12% da PSA, vai continuar “particularmente vigilante” sobre o impacto na indústria francesa, de acordo com a agência Lusa.

Carlos Tavares, CEO da PSA e também da futura empresa que terá sede na Holanda, é conhecido pela sua capacidade de rentabilização e redução de custos de produção e logísticos, tendo como missão incrementar também os padrões na FCA sem que tenha impacto nas massas laborais nas marcas da companhia ítalo-americana. O português, responsável pelo volte-face na PSA em momento crítico da sua história, tem conseguido aumentar a importância da sua empresa ao longo dos últimos anos, com o seu maior trunfo – até agora – a ser a aquisição da Opel à General Motors em 2017. Como resultado, em curto espaço de tempo, conseguiu recolocar a marca alemã no positivo no mais recente exercício fiscal.