Muito provavelmente, nenhum outro Ferrari das suas primeiras décadas reúne tanto carisma como o 250 GT berlinetta Competizione, que contou com diversos triunfos na clássica prova Tour de France entre 1956 e 1959 (não confundir com a prova velocipédica que tem lugar naquele país anualmente).

Aliás, o sucesso foi tanto que recebeu mesmo a denominação honrosa TdF. Como é o caso deste que será leiloado pela RM Sotheby’s e do qual foram produzidos apenas 72 exemplares, motivo pelo que se estima que poderá render qualquer coisa entre os sete e os nove milhões de euros. Contudo, havendo atualmente uma imensa procura por Ferrari clássicos e atendendo à exclusividade deste exemplar, poderá mesmo atingir uma quantia superior a dez milhões de dólares, o que o tornaria no carro clássico de valor mais alto de 2018.

O exemplar que será leiloado é o 15º de 17 exemplares produzidos na carroçaria de 1957, com três saídas de ar laterais e faróis cobertos para melhoria da aerodinâmica. Com a produção a iniciar-se no final de 1957, o motor foi equipado com árvores de cames de competição (tipo 130) e pistões de elevada compressão. A partir de 2 de janeiro de 1958, o motor foi terminado e testado no banco de ensaios dois dias depois. Nessa data, confirmou-se a sua potência: 261.7 CV às 7200 rpm. A caixa de velocidades derivava também da competição, estando associada a um diferencial autoblocante. As janelas tinham aberturas deslizantes e no para-brisas três escovas para limpeza, sendo depois substituído por um defletor no capot.

Vida na Alemanha

O 250 GT foi vendido ao piloto alemão Wolfgang Seidel, conhecido na época como ‘Urso Dourado’, que competiu com um 250 TR pela Scuderia Ferrari durante 1958, contando nas suas fileiras com o bem mais conhecido Wolfgang Von Trips, que viria a ser piloto de Fórmula 1. Seidel dispunha de um outro 250 GT TdF, mas Von Trips destruiu-o num acidente enquanto corria no traçado germânico do Nürburgring. Já o modelo com o número de chassis 0879 GT sobreviveu sem danos. Em 1964, passou para outros donos, também alemães, primeiro com Manfred Ramminger e, depois, para um estudante chamado Manfred Mahnke. Dois anos depois, passou para as mãos de Gary Schmidt, um militar americano que também era professor nas bases aéreas da Alemanha. O motor foi reconstruido na Suíça por uma oficina com apoio da Ferrari. Em 1973, foi vendido em 1973 a Christer Mellin, um sueco entusiasta pela marca e também fundador do Ferrari Club Svezia.

CONHECE O FERRARI QUE FEZ MÓNACO-MARANELLO EM MENOS DE 2h30M?

Em 1974, sempre em contacto com a fábrica, encomendou o restauro desta unidade, com peças de fábrica, as quais ia buscar muitas vezes a Maranello. Demorou quase 20 anos até concluir o processo de restauro do 250 GT TdF, dando muita atenção ao carácter do modelo de forma a ficar o mais original possível. Mantendo o máximo possível da carroçaria original, material e componentes, o trabalho de restauro ficou concluído com um acabamento metalizado com uma faixa preta no capot, igual a uma que Seidel havia aplicado em 1959.

Em 1997, o carro foi vendido por Mellin ao seu atual proprietário, que tratou de manter o carro em ótimas condições, participando com o seu modelo em diversos eventos como os de aniversário da Ferrari em 1997, 2007 e 2017. Muito recentemente, o chassis 0879 GT foi autenticado pela Ferrari Classiche, que confirmou a presença do V12 original, bem como a caixa de velocidade de série e do eixo traseiro, mantendo-se como um dos poucos Ferrari de competição da década de 1950 a manter a integridade nos seus componentes de origem.

O leilão irá decorrer em Monte Carlo no evento da RM Sotheby’s a 12 de maio.

Crédito das imagens: RM Sotheby’s

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.