Os últimos anos têm trazido consigo um aumento considerável nos preços dos automóveis novos, potenciado pelos constrangimentos causados inicialmente pela pandemia de Covid-19 (que se mantêm nalguns pontos do planeta, como na China), mas também pela guerra na Ucrânia. O passo seguinte no aumento do custo dos automóveis novos será dado com a implementação da regulamentação Euro 7 de normas anti-poluição.

Num momento em que o setor automóvel atravessa um momento delicado de transição para a eletrificação, os motores de combustão interna deverão também ser alvo de um aumento no seu custo de desenvolvimento que poderá tornar os veículos muito menos acessíveis.

Com muitas marcas a abdicarem já dos segmentos mais básicos por uma questão de rentabilidade, como é o caso do dos citadinos, no qual existem cada vez menos representantes, a implementação da norma de emissões Euro 7 que aperta ainda mais o cerco às emissões poluentes independentemente do tipo de combustível utilizado tenderá a tornar os custos de desenvolvimento dos automóveis com motor de combustão ainda mais elevados. Efetivamente, poderão mesmo tornar-se incomportáveis para os fabricantes, sabendo-se também que muitos estão já completamente focados no desenvolvimento de soluções elétricas.

Porém, a grande dificuldade será a de oferta de automóveis 100% elétricos a um preço acessível e que consiga ter uma bateria capaz de oferecer uma autonomia até 400 quilómetros.

A proposta para a norma Euro 7 apresentada esta semana simplifica os processos de análise de emissões poluentes entre automóveis ligeiros de passageiros e os demais veículos a motor de combustão, independentemente, também da sua tipologia; ou seja, a nova regra pretende ser neutra na tecnologia, cingindo-se apenas a impor limites aos veículos, sejam eles a gasolina, Diesel ou eletrificados.

Entre as alterações estão regras para o controlo dos microplásticos e partículas emitidos por pneus e travões, que até aqui não tinham controlo, mas também uma ampliação nas situações em teste para assim tornar o controlo das emissões mais real com um melhor reflexo da utilização diária real em temperaturas de até 45ºC.

A norma Euro 7 irá também abranger um maior controlo das emissões dos automóveis por um período mais longo, mais concretamente até aos seus 200 mil quilómetros ou dez anos de idade, um aumento face aos atuais 100 mil quilómetros e cinco anos de idade da norma Euro 6 para os automóveis de passageiros. Para tal, está prevista a utilização dos sensores internos do veículo para controlar as emissões do veículo ao longo do seu ciclo de vida, impedindo também um controlo mais apertado pelas autoridades.

De um ponto de vista dos fabricantes, o receio é de um aumento dos custos de produção e desenvolvimento dos automóveis com motor de combustão para patamares que se tornem inacessíveis aos cidadãos de classe baixa e média enquanto as alternativas realistas alimentadas a eletricidade não chegam ao mercado de forma acessível.

O mesmo é adiantado por Oliver Zipse, Presidente da Associação Europeia de Construtores Automóveis (ACEA) e CEO da BMW, que destaca o empenho e compromisso dos fabricantes para com o lado ambiental e critica a proposta elaborada pela Comissão Europeia.

“A indústria automóvel leva muito a sério o seu papel na redução do CO2 e das emissões poluentes. Com efeito, no ano passado, elaborámos uma proposta muito construtiva para o novo Euro 7 que traria uma redução significativa nos poluentes, assim melhorando a qualidade do ar. Infelizmente, os benefícios ambientais da proposta da Comissão são muito limitados, ao mesmo tempo que aumentam pesadamente o custo dos veículos. Foca-se em condições de condução extrema que dificilmente se refletem na vida real”, adiantou em comunicado.

Antes, também já figuras como Carlos Tavares, CEO da Stellantis, ou Akio Toyoda, CEO da Toyota Motor Group, demonstraram posições nesse mesmo sentido, apontando que o caminho cada vez mais estrito no desenvolvimento de soluções técnicas tenderá a limitar o acesso dos cidadãos aos automóveis como meio de liberdade pessoal.

Sabe-se, por outro lado, que as marcas estão a investir fortemente no desenvolvimento de novos modelos elétricos mais acessíveis, mas que poderão tardar até ao final da década para se tornarem paritários em termos de aquisição em relação a um automóvel equivalente com motor de combustão com vista à democratização da mobilidade sem emissões.

Setor dos pesados pode ser mais penalizado

Mas, a maior penalização poderá recair sobre os camiões, já que a proposta da norma Euro 7 passa a não fazer distinções para esse tipo de veículo. Sendo uma área em que a questão da rentabilidade é ainda mais escrutinada, havendo atualmente um imenso investimento no desenvolvimento de soluções elétricas, mas ainda sem cobrir totalmente o leque de funções exigidas aos veículos pesados de transportes, “os fabricantes de camiões terão de transferir recursos financeiros e de engenharia substanciais da pesquisa de veículos elétricos e a pilha de combustível de volta para os motores de combustão interna”, como afirma Martin Lundstedt, CEO da Volvo Group e porta-voz da divisão de veículos comerciais da ACEA.

“Vai afetar severamente a nossa transição para os veículos de zero emissões. Não é bom para o clima, nem para a saúde das pessoas, nem para a indústria”, garantiu.

Da parte das organizações ambientalistas, o pedido vai no sentido oposto ao dos construtores, apelando a um controlo ainda maior e a um estreitamento ainda mais vincado nas emissões poluentes com vista a uma aceleração da descarbonização.

As previsões da Comissão Europeia apontam para a entrada em vigor das novas medidas Euro 7 a 1 de julho de 2025 para os automóveis ligeiros de passageiros e comerciais e a 1 de julho de 2027 para os pesados de mercadorias e de transportes de passageiros.