Foi um dos locais mais emblemáticos para a indústria automóvel italiana. A espetacular pista de testes criada no topo da fábrica de Lingotto, em Turim, era utilizada pela Fiat para ensaiar os seus automóveis uma vez produzidos mas, abraçando a nova era da sustentabilidade, foi agora convertida no maior jardim suspenso da Europa, com mais de 40.000 plantas.

Uma sucessão de flores e cores de acordo com as estações do ano, jogos de folhagem, luz e sombra, espaços cheios e vazios, aromas infundidos no ar: eis a descrição da Fiat para o seu novo jardim ‘La Pista 500’, definido ainda como uma “grande injeção da natureza na cidade, um exemplo de arquitetura verde construída num edifício simbólico para Turim e na sua história, agora aberto a todos os seus cidadãos, como uma fuga da metrópole que os rodeia. La Pista 500 foi criado como um espaço para todos”.

Mas o projeto La Pista 500 embarca também numa nova estrada de arqueologia industrial, dando um exemplo de cultura naturalista, trazendo os mais recentes valores ambientais: desde a ecologia e poupança energética até à componente social.

Um trabalho do arquiteto Benedetto Camerana – assistido na vertente botânica por Cristiana Ruspa, especialista da firma Giardino Segreto – o projeto desenvolve-se ao longo de todo o anel de 1,2 quilómetros, mas não se satisfaz com a mera criação de um jardim a 28 metros de altura. De facto, a história do local é salvaguardada e retrabalhada: a pista do passado foi agora revitalizada, exclusivamente para veículos movidos a eletricidade, bem como para bicicletas e scooters.

Concebida em áreas temáticas, esta versão moderna propõe novos espaços, cada um diferente do seguinte: há locais dedicados à meditação e Yoga, uma pista de atletismo e uma área de fitness, infografias sobre a paisagem e monumentos da cidade e espaços de arte partilhada com a Pinacoteca Agnelli. Atualmente em exposição nesta última está uma antevisão de nove esculturas de grande dimensão de alguns dos maiores escultores do século XX, como amostra para a exposição temporária “The Maeght Foundation: a studio in the open air”, na Pinacoteca Agnelli a partir de 15 de outubro.

Para além destas zonas, cinco áreas temáticas, divididas, por sua vez, por espécies botânicas nativas: “hazelnut grove”, “educational and dye plants”, “kitchen garden”, “herbaceous borders” e “meditation”.

O jardim em detalhe

O jardim apresenta-se como um parque moderno e linear, com 28 grandes ilhas que cobrem pouco mais de 7000 m2 da área total de 27.000 m2. Acolhe mais de 40.000 espécimes de 300 espécies e variedades de plantas, selecionadas segundo critérios ecológicos: alguns são retirados da região do Piemonte e áreas vizinhas, dispostos de acordo com variações sazonais de cor. Estas são na sua maioria plantas herbáceas perenes, plantas que crescem muito rapidamente e com um elevado rendimento. Basta pensar nas pastagens alpinas que florescem espontaneamente numa profusão de flores, texturas e diferentes volumes, assim que a neve derrete.

Para as cultivar, foram adotadas novas técnicas conceptuais para reduzir drasticamente o consumo de água e a utilização de fertilizantes; esta decisão foi também ditada por critérios de sustentabilidade. Apenas alguns meses depois, o jardim já é habitado por inúmeras espécies de borboletas e escaravelhos: uma verdadeira injeção de biodiversidade.

A “hazelnut grove”, a aveleira, é dotada de uma área temática própria. A região do Piemonte é rica em avelãs, arbustos decíduos com folhagem vermelho-púrpura, que crescem muito rapidamente em todos os solos, mesmo secos, pobres e calcários. Esta planta frugal e nobre é utilizada para produzir o famoso creme de gianduia, à base de chocolate e de avelãs.

A “educational area” abriga espécies tintoriais. Outrora a única forma de colorir o tecido, os corantes naturais estão agora a voltar a estar na moda pelas suas propriedades ecológicas e criativas. Cada planta tem a sua própria relação com o solo e com a luz, resultando em tonalidades originais.

Uma lição de jardinagem a partir da área temática “kitchen garden”: estas espécies precisam de terra bem drenada com areia e pedra britada e apenas um pouco de irrigação no verão. Uma vez plantadas e concluído o período inicial de recuperação, habituam-se a não serem regadas e tornam-se cada vez mais resistentes a doenças e pragas. Na área “herbaceous shrubs”, os arbustos herbáceos, o jogo de cores e volumes que se sucedem à medida que as estações do ano mudam, superam, inclusivamente, o das flores. A zona “meditation” concentra-se no cheiro das aromáticas que induz ao relaxamento e coloca as pessoas e a natureza em contacto profundo.

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