A Free2Move eSolutions é a nova ‘bandeira’ do grupo Stellantis, sob o qual serão propostas diversas soluções para facilitar a adoção da mobilidade elétrica, unindo as competências técnicas e tecnológicas da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e da PSA para criar um novo modelo de oportunidades para o carregamento de automóveis elétricos.

Mais do que uma solução apenas para as marcas do grupo Stellantis, a nova marca Free2Move eSolutions, que nasce da parceria entre aquela entidade automóvel e a especialista Engie EPS, procura responder às necessidades crescentes dos condutores e utilizadores dos automóveis elétricos, mas também dedica a sua atenção ao impacto dessa adoção nas redes elétricas de cada país. Esse é um dos objetivos do Diretor Executivo Carlalberto Guglielminotti (da Engie EPS), garantindo que pensar na mobilidade elétrica sem proteger a rede elétrica nacional não se coaduna com a ideia de sustentabilidade.

Roberto di Stefano, CEO da Free2Move eSolutions, e Carlalberto Guglielminotti, Diretor Executivo, explicaram os fundamentos e objetivos da nova entidade do grupo Stellantis, focado sobretudo na sustentabilidade de todo o processo de posse e de carregamento dos veículos elétricos.

Respondendo à ideia de semelhança entre o que a Free2Move eSolution propõe e outras companhias concorrentes, como a Elli, do Grupo Volkswagen, Guglielminotti reconhece pontos de contacto, mas insere a entidade da qual é responsável numa missão mais ampla.

“A Elli é uma parte de uma companhia grande e respeitável que é a Volskwagen, que tanto quanto sabemos é uma fornecedora séria de ‘wallboxes’, postos de carregamento e soluções de carga. Mesmo que joguemos nas mesmas áreas, o ADN da Free2Move eSolutions é diferente: é é também uma fornecedora de tecnologia que assenta em 15 anos na engenharia elétrica e no desenvolvimento e atribuição de patentes de soluções prontas para integração na rede elétrica, o que nos dá um ângulo diferente”, começa por dizer.

O Diretor Executivo da Free2Move eSolutions, Carlalberto Guglielminotti, explicou ao Motor24 como é que a nova companhia da Stellantis se insere no campo da eletromobilidade.

“Não compramos e vendemos ‘wallboxes’, mas desenhamos soluções e simplificamos a experiência de qualquer condutor de veículos elétricos, aumentando a segurança da rede elétrica. Isto não é um simples detalhe, porque se tivermos em conta o número de automóveis elétricos na Europa em 2030, isso representará 900 GW de potência e cerca de 70% da capacidade instalada na Europa”, prossegue, deixando claro que, na sua ótica, a Free2Move “não está aqui para vender ‘wallboxes’ a serviços para os nossos clientes, mas a nossa ambição é sermos líderes a conceber, desenhar e comercializar soluções que sejam também sustentáveis, não só porque se tem um carro ‘verde’, mas porque tem um carro que quando é carregado está integrado perfeitamente com a rede elétrica e que não irá impactar a rede europeia. Ao invés, poderá gerar uma contribuição positiva para as redes elétricas. É isso que temos em mente quando pensamos em sustentabilidade”, garante o italiano, distinguido no ano passado como ‘Young Global Leader 2020’ do Fórum Económico Mundial.

Nesse sentido, um dos moldes que está a ser fortemente desenvolvido pela Free2Move eSolutions é o da integração Vehicle-to-Grid (comummente denominado V2G), ou seja, com o veículo a devolver alguma da energia presente na sua bateria para a rede elétrica em fases de maior ‘pico’ de consumo. Para Guglielminotti essa solução “não é apenas possível de implementar em toda a Europa, como temos a ambição e a responsabilidade de o fazer, porque a tecnologia V2G, mesmo que não seja a curto prazo mas a longo prazo, pode ser a oportunidade de ter uma rede sustentável e perfeitamente integrada na rede europeia. Por isso, temos de a fazer agora. Nem podemos pensar em ter mais de 70% da capacidade europeia a ser consumida sem que esteja integrada e em constante comunicação com a rede europeia. Ou seja, transformar um possível problema, o de milhares de baterias a carregarem ao mesmo tempo, em baterias que estão em comunicação com a rede”.

“A tecnologia V2G é hoje replicável em toda a Europa. De um ponto de vista de tecnologia estamos prontos. Do ponto de vista legislativo, depende do mercado e da vontade, mas temos o total apoio da Comunidade Europeia (CE) para implementar e difundir esta tecnologia de forma mais eficiente”, complementa.

No entanto, não é desvalorizado o potencial de negócio, havendo aqui não só uma integração óbvia com os automóveis elétricos e plug-in das marcas do grupo Stellantis – que vão da Peugeot à Alfa Romeo, passando por outras como a Citroën ou Opel –, mas também com as de outros construtores, absorvendo como missão a “clara ambição de fornecer soluções a todos os condutores de veículos elétricos, independentemente da marca de carros ou dos fabricantes que peçam as nossas soluções. Está inscrito na nossa missão – não queremos oferecer os nossos serviços apenas aos condutores e clientes da Stellantis, mas chegar a todos para transformar a experiência dos condutores de veículos elétricos para uma viagem mais simples e fácil de forma a acelerar a revolução elétrica”.

Roberto di Stefano, CEO da Free2Move eSolutions.

Sem um número concreto de pontos de carregamento a oferecer em 2030, o Diretor Executivo da Free2Move eSolutions adianta que serão milhões os pontos de carga disponíveis em toda a Europa, abrangendo, por exemplo, a rede IONITY no que diz respeito à agilização de contratos e procedimentos de pagamento.

Mas, dentre essas soluções, há uma que poderá ser importante em países com centros históricos onde as redes de transportes por catenárias se afiguram como soluções interessantes para o carregamento dos veículos elétricos. O ePostCityWay é um posto que usa a rede de elétricos e de ‘trolleybus’ para carregamento ultrarrápido em áreas urbanas sem necessidade de obras na estrada e sem impacto na rede elétrica.

Roberto Di Stefano, CEO da Free2Move eSolutions, olha para esta solução como um exemplo da procura por alternativas inovadoras. “A solução surgiu após uma longa discussão de engenharia para implementar postos de carga rápida na malha urbana onde há muitos constrangimentos – nas cidades e zonas históricas, em locais com possibilidades reduzidas para a ligação de rede DC. Mas, discutindo e andando na rua com os nossos engenheiros, vimos que há já uma rede com uma grande potência em muitas cidades na Europa, que é a rede que apoia os tróleis ou os elétricos que tem uma rede sobredimensionada para as suas necessidades. Com a nossa patente, planeamos instalar isto nas cidades sem obras e sem mais constrangimentos”, afirma o responsável máximo pela entidade da Stellantis, adiantando que “estamos a discutir com varias administrações locais e em breve poderão ver as primeiras soluções nas estradas”.