Os impactos económicos da guerra na Ucrânia, resultante da invasão por parte da Rússia, serão bastante sentidos em todos os setores, com o automóvel a não escapar aos efeitos desse conflito, não só em termos energéticos, mas também em termos de produção e de vendas para os fabricantes automóveis.

Ainda sem um desfecho à vista neste conflito que teve o seu início a 24 de fevereiro e com as diversas sanções impostas à Rússia por parte de muitos países e organizações comerciais globais, diversos setores adaptam-se ao novo figurino comercial, sendo evidente que uma grande parte das indústrias sentirá efeitos nefastos decorrentes da guerra.

De acordo com a GlobalData, analista de mercado, há ainda bastante incerteza quanto aos efeitos da crise nos mais diversos setores, sabendo-se desde já que haverá dificuldades na área da energia, nomeadamente na do gás natural e na do petróleo. Kadempally Abhinay Goud, analista de mercado da GlobalData, explica que “os negócios não devem esperar um regresso rápido ao normal”.

No setor automóvel, o impacto em cada marca é bastante distinto, já que existem companhias com presença na Rússia e outras que estão ausentes ou que apenas sofrem impactos na cadeia de componentes.

Marcas como a Volvo, Ford, Jaguar Land Rover, General Motors (GM), BMW, Daimler Trucks, Mercedes-Benz, Volvo Trucks ou a Ford (por intermédio da joint-venture Ford-Sollers) anunciaram a interrupção das exportações para a Rússia, havendo também fábricas paradas por falta de componentes ou devido à cessação das atividades dos construtores, levantando-se o risco da nacionalização das fábricas por parte do Governo de Vladimir Putin.

Um dos casos mais relevantes é o do Grupo Renault, que detém uma participação elevada na AvtoVAZ, empresa que produz a Lada, líder de mercado na Rússia e com um peso histórico muito relevante. Após a suspensão inicial da produção logo no final de fevereiro, a marca anunciou o regresso ao ativo na Rússia em meados de março, apenas para se vir obrigada, pouco depois, a efetivar a suspensão das suas operações muito por efeito da pressão mediática e das sanções económicas. Atualmente, encontra-se a avaliar as suas opções.

De acordo com Bakar Sadik Agwan, analista do setor automóvel na GlobalData, “os atores do palco automóvel responderam à agressão russa com condenação e ações que vão isolar ainda mais o país. A Renault mantém-se como uma das construtoras mais expostas ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, com cinco unidades de produção locais e uma capacidade de produção total de 1.5 milhões de unidades paradas”.

De acordo com os dados daquele analista, o impacto nas vendas da Renault será de cerca de 81.100 unidades.

Agwan argumenta ainda que o facto de o Grupo Renault deter cerca de 68% da AvtoVAZ poderá “colocar o parceiro russo em grandes dificuldades se o associado francês se retirar” desta parceria.