O retrato de um país pode ser feito de muitas maneiras, mas o do progresso está intimamente ligado à evolução da sua rede rodoviária e, neste aspeto, a malha nacional tem conhecido uma grande melhoria nos últimos anos. Essa é também a visão do Automóvel Club de Portugal (ACP), que inaugurou uma exposição sobre as 100 edições do Mapa das Estradas ACP, com um dos objetos em destaque a ser precisamente o mapa onde foram traçados os caminhos da revolução do 25 de Abril de 1974.

Numa história agora tornada pública, o mapa das estradas de 1973 acabou por ajudar a traçar os caminhos para a deposição do antigo regime, com o então Capitão Otelo Saraiva de Carvalho, comandante das operações do Movimento das Forças Armadas (MFA) a utilizar o seu mapa para planear as deslocações dos militares revoltosos de todo o país até Lisboa, onde a ação teve o seu ponto alto.

“O Mapa das Estradas do ACP era meu, porque sou sócio do clube desde 1958 e como o recebia todos os anos, levei-o juntamente com outros documentos para o Posto de Comando da Pontinha, no dia 24 de abril de 1974. Escolhi o mapa do ACP por ser fiável, por ter uma dimensão que facilitava a consulta e porque rapidamente ficava a saber as quilometragens percorridas e os tempos que demoravam as colunas militares. Assim, acompanhava melhor as deslocações, que ia assinalando com alfinetes para controlar o cumprimento dos objetivos”, recorda o ex-militar que, anos mais tarde, doou o mapa ao Centro 25 de Abril, da Universidade de Coimbra, onde ainda se encontra. A versão exposta na sede do ACP, em Lisboa, é uma réplica fiel.

Pelos caminhos de Portugal desde 1913

A primeira publicação do Mapa das Estradas ACP aconteceu em 1913 e foi distribuída gratuitamente aos 170 sócios de então. A segunda edição só foi publicada em 1929, sem que se conheça uma explicação para esse longo intervalo.

Desde aí, o Mapa das Estradas ACP tem acompanhado de forma rigorosa a evolução da rede rodoviária nacional que, em 1933, contava com cerca de 17 mil quilómetros. Mais de um século com muitas estórias de Portugal a cruzar a vida deste documento, pioneiro no retrato do estado das vias logo desde as primeiras décadas do século XX. As primeiras edições abordavam a rede viária de forma mais arcaica, estabelecendo pontos de ligação entre localidades do país, o que não era de estranhar atendendo até ao parco desenvolvimento da rede de estradas.

A década de 30 é fértil no desenvolvimento das estradas e em ações relacionadas com os agentes da autoridade e os automobilistas. Caso do “Natal do Sinaleiro”, iniciativa do ACP em que os automobilistas agradeciam o trabalho levado a cabo por estes agentes, oferecendo-lhes comidas e bebidas, roupa, tabaco e até dinheiro. Uma tradição que, entretanto, com o desaparecimento gradual destes agentes, também se perdeu.

Ainda em 1937, o ACP lançou o “Prémio dos Cantoneiros” para encorajar o trabalho dos profissionais que melhor desempenhassem a função nos seus distritos. O prémio foi atribuído anualmente até 1979.

A relevância do Mapa das Estradas ACP foi tal que, por exemplo, pela década de 1950, era considerada a carta mais fiável pela Administração Pública, que a usava como referência para contar os quilómetros percorridos pelos funcionários do Estado.

Até à década de 1970, o Automóvel Club de Portugal editava o mapa em duas versões – uma exclusivamente para sócios, e outra legendada em inglês e francês, que era distribuída aos turistas pela Direção-Geral de Turismo.

Nas décadas de 1980 e 1990, com o rápido desenvolvimento da rede de autoestradas, Itinerários Principais (IP) e Itinerários Complementares (IC), o mapa ganhou ainda mais importância de ano para ano, o que fez dele presença obrigatória no porta-luvas de qualquer viatura.

A partir de 2002, completada a rede de autoestradas que liga o país de Norte a Sul, o Mapa das Estradas ACP continua a ser distribuído gratuitamente aos sócios.

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