Com a população do Japão a demonstrar-se cada vez mais envelhecida, a quantidade de condutores de idades mais avançadas nas estradas parece estar a preocupar algumas autoridades locais, preocupadas com a segurança rodoviária não só desses condutores, mas também com a dos outros ocupantes das vias.

Neste sentido, uma agência funerária de Aichi decidiu levar a cabo uma campanha curiosa para os condutores mais velhos: descontos nas cerimónias fúnebres no caso de renúncia à carta de condução caso sintam que estão a perder qualidades atrás do volante.

De acordo com o site do jornal japonês Mainichi, a ideia partiu da Heiankaku Company, uma agência que pretende assim apelar aos condutores com idades mais avançadas a abdicarem da prática da condução em prol de descontos de 15% na sua própria cerimónia fúnebre.

O desconto é válido para os cidadãos locais que tenham abdicado do seu título legal de condução desde 1 de março, podendo ser aplicado em qualquer uma das 89 agências espalhadas pela prefeitura de Aichi, com as famílias a poderem beneficiar do desconto no momento de pagamento da cerimónia do falecido. Para poderem beneficiar do desconto, os condutores têm de apresentar uma prova, emitida pela polícia, da entrega da carta de condução.

Ainda que pareça uma proposta de contornos mórbidos, esta oferta da Heiankaku Co. vem vem na senda de uma importante situação relacionada com a questão do envelhecimento da população no Japão, já que dada a atual taxa de fertilidade e a esperança de vida cada vez mais longa, os cidadãos com mais de 65 anos deverão compor cerca de 40% da população total do Japão em 2060, segundo as estimativas das autoridades locais. Com isso, colocar-se-á ainda mais esforço nos sistemas de segurança social, tanto mais que o número de pessoas em idade ativa também irá decair significativamente. Em 2060, estima-se, ainda, que a população seja ‘cortada’ num terço, dos 128 milhões de habitantes em 2010 para os 87 milhões previstos para aquela década no futuro.

Assim, esta prática tem por objetivo colocar um travão nos acidentes rodoviários em que condutores idosos estejam envolvidos, com a polícia local de Aichi, com que a agência formou uma parceria, a apontar um total de 13,2% de acidentes fatais com condutores de mais de 75 anos envolvidos no ano passado, mais 5% do que em 2007.

Alguns dos acidentes, reporta o Manichi, resultaram de condutores que confundiram o pedal do travão com o do acelerador ou que colocaram a marcha-atrás de forma inadvertida.

Esquemas semelhantes foram montados noutras prefeituras do Japão, como no caso da de Osaka, em que, em troca da carta de condução recebiam descontos em bens e serviços nas lojas locais, o que parece ter reunido muita adesão: Osaka tornou-se no estado do Japão com a maior taxa de renúncias às cartas de condução, com 5,41% em 2015.

Em Portugal, onde a taxa de envelhecimento da população está ainda muito longe da que se regista no Japão, começam também a ser traçadas algumas formas de lidar com esta questão, como foi recentemente revelado pelo plano PENSE 2020 (Plano Estratégico Nacional de Segurança Rodoviária) e que pretende implementar uma prova de avaliação de conhecimentos para condutores com 65 anos ou mais que queiram renovar a sua carta de condução.