Lexus com arrojo máximo: “Queremos ser diferentes pelo design e pela tecnologia”

20/03/2017

Enquanto marca Premium de ‘corpo inteiro’, a Lexus tem no seu plano estratégico uma tónica de diferenciação que se pode considerar arrojada, não deixando ninguém indiferente. O objetivo é precisamente esse: diferenciar esta marca, hoje cada vez mais independente da sua ‘progenitora’, a Toyota, das suas principais rivais no segmento, com as companhias alemãs à cabeça.

Esse é apenas um dos aspetos por que a Lexus quer ganhar um espaço cada vez maior, procurando também apostar numa lógica de tecnologia inovadora, como é o caso do sistema Multi Stage introduzido agora também no novo LS 500h, uma tecnologia que procura tornar a condução dos híbridos ainda mais entusiasmante. Tanto quanto o design, que é de acordo com dois dos principais responsáveis da marca, um dos traços chave da Lexus.

Em Genebra, de forma exclusiva, o Motor24 aproveitou a disponibilidade (e a simpatia) de dois elementos japoneses da Lexus para falar sobre o presente e sobre o futuro, numa conversa em que a tradutora foi um terceiro elemento essencial para a compreensão mútua entre todas as partes. Na nossa conversa tivemos a oportunidade de falar com Toshio Asahi, engenheiro-chefe do Lexus LS, e com Koichi Suga, responsável pelo design do LS, ambos pertencentes à Lexus International.

Motor24: Começando pela visual do novo Lexus LS. Com um design tão marcante, o objetivo é assumir uma diferenciação vincada em relação a outras marcas Premium, em especial face às alemãs?

Koichi Suga: Um objetivo foi esse: expressar que a marca Lexus é diferente das três marcas alemãs.

M24: Que características é que destacam no estilo do carro?

KS: Usualmente, quando falamos de carros topo de gama – e o anterior LS também estava nessa categoria -, do ponto de vista do design falamos sempre de um sedan formal. Pode ser muito quadrado ou mais tradicional, mas o formato é mesmo muito tradicional e essa é a visão usual que se tem duma berlina deste género.

Koichi Suga, responsável pelo design do Lexus LS.
Koichi Suga, responsável pelo design do Lexus LS.

Mas, quando dizemos que queremos ser diferentes dos três alemães, queremos colocar o foco na parte do espanto e não tanto no da agilidade. É também uma mensagem do presidente da Toyota, do Senhor Akio Toyoda, para expressarmos isso no nosso design. Assim, tentamos combinar um lado de espaço, (criando um sentimento de interior luxuoso e espaçoso) associado a linhas fluídas e suaves que se assemelham às de um coupé.

M24: Por outro lado, o LS 500h integra a nova tecnologia multi-stage, que pretende aliar eficiência e performances. Quais os objetivos com o desenvolvimento deste novo sistema?

Toshio Asahi: É um pouco como a parte do design. Queremos ser diferentes dos três principais construtores alemães e, para tal, desenvolvemos tecnologias características da Lexus. Não queremos ser tradicionais, mas contar com tecnologias originais da Lexus. Por exemplo, quando falamos de motorizações dos nossos competidores, todos eles têm motores V8 com grandes turbos e grandes escapes. Nós escolhemos a via do ‘smartsizing’ dos motores, por isso escolhemos o V6 e o nosso objetivo era ter um conjunto inteligente e compacto e, pelo menos, a mesma potência que os nossos rivais.

Toshio Asahi, engenheiro-chefe do Lexus LS.

O mesmo se aplica à versão híbrida, na qual combinámos o V6 de 3.5 litros com uma unidade elétrica e obtivemos a mesma potência ou até mais do que os nosso rivais com os seus motores V8 turbo. A potência é a mesma mas os consumos desceram.

M24: Atendendo a todas as especificidades, é um desafio para os dois trabalharem em conjunto para definirem o design sem comprometerem o lado técnico e vice-versa?

TA: Para ser sincero, a relação entre o lado da engenharia e do design, entre nós os dois, foi muito boa e comunicámos bastante, pelo que se o senhor Suga quisesse fazer algo em design, eu apoiava e vice-versa. Foi muito bom. Mas o grande desafio foi levar tudo ao limite – como as expectativas dos clientes são muito altas, tivemos de levar tudo ao limite para corresponder.

M24: O estilo da Lexus será aplicável agora a todos os restantes modelos da gama, com a grande grelha dianteira?

KS: Sim, mas tem de se compreender que o design da Lexus está em permanente processo de evolução. Começámos com o LC, mas quando passámos para o LS introduzimos algumas mudanças na linguagem estética. Posso dar um exemplo concreto. Quando pensamos no RX ou NX, era um design muito angular, porque quisemos melhorar a sua perceção. Quisemos que chamassem a atenção. Mas para o LC e LS preferimos apelar à sofisticação da elegância e suavizamos essa parte do design. Penso que esse design elegante e sofisticado será espalhado aos próximos modelos da marca.

M24: Tendo em conta a possibilidade de lançamento do UX, esse estilo será também aplicável ao design do próximo NX e da versão de produção do UX?

KS: Não posso ainda dar uma resposta clara… Mas, por um lado, temos a natureza Premium da marca e as expectativas que aumentam cada vez mais por parte dos clientes; Por outro, o NX é também dotado de um carácter diferente e no processo de desenvolvimento, tem de ser considerado o sentimento Premium da marca e também o carácter próprio do modelo. O mesmo se aplicará ao UX, do qual não posso falar muito também… Mas isto mostra que as expectativas são já muito elevadas.

M24: Quanto à tecnologia Multi Stage, poderá chegar a outros modelos?

TA: Penso que esta tecnologia se adequa melhor aos modelos de topo, devendo estender-se a outros modelos cimeiros da marca.

M24: Qual será o próximo passo em termos de tecnologia sustentável por parte da Lexus: será a aposta no hidrogénio, carros puramente elétricos ou híbridos?

TA: Essa é exatamente a questão que estamos a decidir agora e ainda nada foi decidido nesse aspeto. Estamos a debater.

M24: Com a proximidade da condução autónoma, é um desafio integrar essa tecnologia quer na vertente técnica quer no lado do design?

TA: Quando falamos de tecnologia e de design, no Lexus LS já teremos alguns exemplos de tecnologia de ponta. Mas, quanto mais tecnologia e sistemas avançados se quiserem colocar num carro, mais sensores e câmaras têm de ser incluídas no veículo e têm de ser conectadas de alguma forma e pode nem sempre adaptar-se ao design. É um ponto que temos sempre de discutir, como ir ao encontro da parte tecnológica sem estragar o design e no que diz respeito à condução autónoma esse é um ponto onde também temos um grande desafio.

lexus-ls-500h-12

M24: Vemos muito a ideia do carro do futuro com um interior sem volante? É assim que se imagina da parte da Lexus o veículo futurista?

KS: Penso que nos filmes isso já pode ser visto, mas no que toca a conduzir um carro, o prazer de condução também é muito importante para os nossos clientes, porque está diretamente ligado à sensação de guiar com o volante. Mas, ao mesmo tempo, temos de desenvolver a tecnologia para a elevar ao patamar máximo e será um desafio equilibrar a tecnologia com a sensação de prazer de condução.

M24: A Lexus teve há não muito tempo um superdesportivo na forma do LFA. Um carro como esse, com um motor de grande capacidade, está fora de questão neste momento?

TA: Depende do que os clientes querem ter. O ‘smartsizing’ era muito para o LS, pelo que ainda não posso dizer o que vai acontecer noutros casos, mas serão os clientes a decidir. Na minha opinião pessoal e apenas essa, muitos carros desportivos têm hoje motores de grande capacidade e isso tem que ver com o lado da performance. A próxima geração de desportivos poderá ter a mesma performance, mas com outras ferramentas como por exemplo o apoio de sistemas elétricos. Assim, penso que, quando toca à tendência geral de desportivos com motor de combustão, não diria que irão desaparecer, mas serão difíceis de colocar no mercado. Para ter a mesma performance, penso que existirão outros sistemas alternativos para obter o mesmo tipo de capacidade. Pelo menos é a minha opinião.

M24: O peso é hoje um dos grandes entraves à eficiência. Como é que se consegue obter um equilíbrio entre o peso, a tecnologia e o design do carro para aumentar a eficiência, sobretudo no que toca à colocação das baterias, que são um elemento muito pesado?

KS: É uma pergunta difícil, porque quando queremos desenvolver um carro, temos de pensar no consumo, agilidade, estabilidade e segurança. Para cada ponto temos alguns padrões ou objetivos e quando os conhecemos podemos considerar a performance ou que tipo de motor se adequa mais, pelo que é um procedimento muito complexo.

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