A pandemia de Covid-19 marcou de forma indelével o ano de 2020, com as restrições que se impuseram logo no primeiro semestre a estabelecerem o ‘tom’ para o que viria a ser o resto do ano: um mercado a tentar recuperar, mas sempre com valores de vendas abaixo dos do ano anterior, um reflexo também de que a pandemia se manteve sempre entre os portugueses, apesar de uma fase de relativa acalmia pelo verão.
De acordo com os dados da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), que apresentou ontem o balanço de 2020 em termos de vendas no território nacional (176.992 unidades matriculadas), foi esmagadora a quantidade de marcas automóveis com vendas abaixo do registado em 2019. A quebra afetou grandemente as comummente apelidadas marcas generalistas, que tiveram valores muito abaixo do que era esperado no início do ano passado.
A Renault manteve a liderança do mercado nacional de ligeiros de passageiros, dando assim continuidade ao seu percurso de sucesso em solo luso, com o 23o ano consecutivo de domínio. Porém, tal como sucedeu nos anos de crise profunda entre 2012 (que representa o pico mais baixo com 95.309 unidades vendidas) e 2014, verificou-se uma quebra acentuada que apenas o ritmo de novos lançamentos conseguiu contrariar de certa forma. Com novos modelos como o Clio e Captur, a marca gaulesa terminou o ano com 18.613 unidades vendidas, menos 35,8% do que em 2019, quando havia vendido 29.014 unidades. Essa perda reflete-se ainda na diluição ligeira do valor de quota de mercado, com 12,80% de 2020, contra os 12,96% de 2019.
Tal sucede em contraponto também ligeiro com a Peugeot, que voltou a ser a segunda marca mais vendida em Portugal, com esta a crescer a sua quota de mercado de 10,58% em 2019 para 10,90% em 2020. A marca de Sochaux não escapou, porém, à quebra nas vendas e caiu 33% em termos comparativos, matriculando 15.851 ligeiros de passageiros, valendo-se também de novos produtos, como os 208 e 2008, oferecendo uma réplica forte à Renault.
Mais expressivo o crescimento em quota de mercado da Mercedes-Benz, que volta a ser a marca premium líder, crescendo de 7,40% em 2019 para os 9,46% de 2020, num resultado que não deixará de agradar à companhia germânica, sendo ainda aquela, entre os dez primeiros, que menos perdeu em termos de volume de vendas. Em 2020 matriculou 13.752 unidades, contra as 16.561 de 2019, ou seja, menos 17%. Atrás de si ficou a rival BMW, que apresenta uma prestação semelhante à da Mercedes-Benz: ou seja, uma perda nas vendas de 24,5% (de 13.938 em 2019 para 10.519 em 2020), mas crescimento na quota de mercado, de 6,23% para 7,23%.
No caso da Citroën, que se situa na quinta posição no cômputo geral de 2020, houve uma quebra de vendas de 41,1%, com um total de 8244 unidades matriculadas no ano passado, equivalendo ainda a uma quebra de quota de mercado de 6,26% para 5,67%.
Completando o top 10 das marcas mais vendidas em 2020, Nissan, Fiat, SEAT, Volkswagen e Toyota exibem quebras em termos de volume de carros matriculados, sendo destas a Fiat aquela que maior diferença exibe entre os dois anos em apreço (decréscimo de 53,1%). Entre as marcas ditas generalistas, também quebra de mais de 50% para a Opel, que desceu 54,2% face a 2019, e para a Mitsubishi, que apresenta um valor 50,1% inferior. A Mazda cai 64,2% e a smart é aquela que, de registo positivo em 2019, cai o maior valor, com apenas 518 exemplares vendidos, uma descida de 87,3%, uma consequência da adoção de motorizações exclusivamente elétricas num mercado cada vez mais concorrencial e melhor adaptado na relação custo-benefício.
Marcas de luxo ‘salvam-se’
A mais bem-sucedida neste aspeto foi a Porsche, que manteve uma interessante toada de crescimento (mais 10,9% em 2020, com 831 matrículas) a reboque de uma das gamas mais ‘frescas’, com diversos novos modelos, mas com natural destaque para os Macan e Taycan. O primeiro elétrico acaba por representar uma boa maquia dos números de vendas da Porsche, mesmo que muitos dos modelos matriculados em 2020 se refiram a intenções de compra feitas ao longo de 2019 desde o momento de apresentação do Taycan (ou seja, acaba por não ter grande reflexo da pandemia).
Depois, destaque para o crescimento de 15,4% nas vendas da Ferrari, com 30 unidades em 2020 contra as 26 de 2019, num dado que não deixa de ser interessante. A Bentley vendeu exatamente os mesmos 21 exemplares em 2020 que em 2019, ao passo que a MAN vendeu mais dois do que no ano precedente (nove contra sete), num crescimento de 28,6%. Por fim, a Aston Martin vendeu sete unidades em 2020, mais uma do que em 2019, significando um aumento percentual de 16,7%.
Janeiro – Dezembro | |||||
Unidades | % | % no Mercado | |||
2020 | 2019 | Var. | 2020 | 2019 | |
Renault | 18 613 | 29 014 | -35,8 | 12,80 | 12,96 |
Peugeot | 15 851 | 23 668 | -33,0 | 10,90 | 10,58 |
Mercedes-Benz | 13 752 | 16 561 | -17,0 | 9,46 | 7,40 |
BMW | 10 519 | 13 938 | -24,5 | 7,23 | 6,23 |
Citroën | 8 244 | 14 007 | -41,1 | 5,67 | 6,26 |
Nissan | 7 313 | 10 233 | -28,5 | 5,03 | 4,57 |
Fiat | 7 066 | 15 069 | -53,1 | 4,86 | 6,73 |
Seat | 7 056 | 11 302 | -37,6 | 4,85 | 5,05 |
Volkswagen | 6 972 | 10 371 | -32,8 | 4,79 | 4,63 |
Ford | 6 550 | 9 015 | -27,3 | 4,50 | 4,03 |
Toyota | 6 223 | 9 645 | -35,5 | 4,28 | 4,31 |
Hyundai | 5 097 | 6 144 | -17,0 | 3,51 | 2,75 |
Opel | 4 674 | 10 206 | -54,2 | 3,21 | 4,56 |
Dacia | 4 636 | 6 548 | -29,2 | 3,19 | 2,93 |
Volvo | 4 074 | 5 320 | -23,4 | 2,80 | 2,38 |
Kia | 3 296 | 5 266 | -37,4 | 2,27 | 2,35 |
Audi | 3 020 | 3 696 | -18,3 | 2,08 | 1,65 |
MINI | 1 794 | 2 573 | -30,3 | 1,23 | 1,15 |
Tesla | 1 413 | 1 979 | -28,6 | 0,97 | 0,88 |
Mitsubishi | 1 403 | 2 810 | -50,1 | 0,96 | 1,26 |
Skoda | 1 298 | 1 644 | -21,0 | 0,89 | 0,73 |
Mazda | 1 100 | 3 072 | -64,2 | 0,76 | 1,37 |
Honda | 1 024 | 1 388 | -26,2 | 0,70 | 0,62 |
Porsche | 831 | 749 | 10,9 | 0,57 | 0,33 |
Jeep | 815 | 1 801 | -54,7 | 0,56 | 0,80 |
Land Rover | 567 | 582 | -2,6 | 0,39 | 0,26 |
Smart | 518 | 4 071 | -87,3 | 0,36 | 1,82 |
DS | 481 | 607 | -20,8 | 0,33 | 0,27 |
Jaguar | 427 | 850 | -49,8 | 0,29 | 0,38 |
Lexus | 314 | 509 | -38,3 | 0,22 | 0,23 |
Suzuki | 193 | 465 | -58,5 | 0,13 | 0,21 |
Alfa Romeo | 165 | 552 | -70,1 | 0,11 | 0,25 |
Ferrari | 30 | 26 | 15,4 | 0,02 | 0,01 |
Iveco | 22 | 25 | -12,0 | 0,02 | 0,01 |
Bentley | 21 | 21 | 0,0 | 0,01 | 0,01 |
Lamborghini | 15 | 19 | -21,1 | 0,01 | 0,01 |
Man | 9 | 7 | 28,6 | 0,01 | 0,00 |
Maserati | 7 | 16 | -56,3 | 0,00 | 0,01 |
Aston Martin | 7 | 6 | 16,7 | 0,00 | 0,00 |
Alpine | 6 | 24 | -75,0 | 0,00 | 0,01 |
Cupra | 1 | 0 | — | 0,00 | 0,00 |
Total | 145 417 | 223 799 | -35,0 | 100,00 | 100,00 |
Origem: AT | |||||
Fonte: ACAP |