No cardápio de veículos de estrada de características excêntricas produzidos pela Renault há um que se destaca. O Renault Spider foi um dos modelos mais especiais produzidos pela marca francesa na sua história, demarcando-se pela obrigatoriedade de usar capacete para conduzi-lo, mesmo que a viagem fosse de casa ao supermercado. Um dos 1800 exemplares produzidos está agora em leilão.

Na década de 1990, a Renault procurava criar uma imagem desportiva muito forte, pelo que o Spider surgiu como um devaneio da divisão desportiva para reforçar essa sua imagem, embora temporalmente tivesse ‘vivido’ após a saída da marca do Mundial de Fórmula 1, ainda ‘fresquinha’ de uma série de títulos de pilotos e de construtores (fornecendo motores à Williams).

A autoria do projeto desde Spider – inicialmente conhecido por Project W94 – ficou a cargo de Claude Fior, um projetista bastante conhecido naquela época, que teve como objetivo conceber um desportivo de linhas fluidas e simples, mas com espaço para um motor de dois litros e quatro cilindros em posição traseira. O chassis recorria a alumínio para a sua construção, mais dispendioso, mas leve e rígido, destacando-se ainda pelo pequeníssimo para-brisas.

Em 1994 aparecia o primeiro protótipo do W94, sendo preciso esperar até ao Salão de Genebra de 1995 para se ver a versão de produção, desenvolvido pela Renault Sport (foi o primeiro da gama Renault Sport), com uma atitude excêntrica que se verificava em diversos pontos, como nas portas de abertura em ‘tesoura’. Mas aquilo que mais surpreendeu foi mesmo a disposição simples do interior, numa ambição de poupança de peso que se traduzia em dois lugares e pouquíssimas comodidades. Tanto que a lista de opções era preenchida por ‘luxos’ como o auto-rádio ou uma cobertura para o habitáculo. Isto porque não tinha tejadilho, nem sequer amovível (hard-top).

A venda ao público iniciou-se em 1996, com os modelos produzidos na fábrica da Alpine em Dieppe, inicialmente com um pequeno defletor a que seria excessivo chamar para-brisas – o que obrigava condutor e passageiro a usarem capacete nas suas deslocações. Os pedais eram ajustáveis, tal como o banco do condutor, que podia assim encontrar a posição ideal de condução em comunhão com os seus gostos.

Atrás dos dois passageiros estava um motor 2.0 de quatro cilindros que derivava do Clio Williams, ou seja, com 150 CV de potência, o que não sendo um valor muito elevado, era compensado pelo baixo peso do chassis em alumínio, com o Spider a não passar dos 930 kg. Conseguia acelerar dos zero aos 100 km/h em 6,9 segundos e atingia uma velocidade máxima de 215 km/h. A caixa era manual de cinco velocidades.

Mas, observando que o extremismo poderia afastar alguns dos potenciais clientes, a Renault passou a disponibilizar a partir de 1997 uma versão com para-brisas que adicionava um pouco mais de 30 kg ao peso total, podendo receber também aibag para o condutor e tejadilho em lona.

Além das unidades de produção para estrada, a Renault Sport também pretendia lançar uma versão para competição, com 80 unidades denominadas Trophy concebidas para o efeito, com um ligeiro aumento na potência, para os 180 CV.

O Renault Spider cessou a sua produção em 1999 e a marca não mais lançou um modelo deste género, embora seja de referir que a tónica Renault Sport por si estreada se mantenha viva até hoje.

Uma das unidades de 1996, portanto sem para-brisas vai ser proposta a leilão pela RM Sotheby’s até ao dia 10 de junho, na coleção Petitjean, que se demarca pelo facto de ser uma coleção estática, ou seja, o comprador terá de proceder a uma revisão mecânica para assegurar que todos os modelos estarão em condições de circulação – um custo adicional ao esperado que este Spider venha a arrebatar, entre os 20.000 e os 30.000 euros.

Fotos cortesia de Tom Wood/RM Sotheby’s

Mais modelos excêntricos da Renault? Siga para o link abaixo:

Renault Clio Williams: Um pouco de Fórmula 1 ao alcance de todos

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.