Esta é a história de como um dos primeiros Lamborghini de sempre foi ressuscitado às mãos dos artesãos da marca. Em Sant’Agata Bolognese existe uma equipa muito especial que se dedica a este delicado trabalho de restauro dos clássicos. Com peças originais e saber único.

O cenário é o Autódromo de Modena, numa numa tarde solarenga de outono típica da região de Emiglia Romana. A pista foi reservada para um único carro e para uma ocasião muito especial: mais de meio século depois de ter saído da fábrica, um 350 GT, o primeiro modelo a nascer do sonho de Ferruccio Lamborghini, volta a acelerar como se fosse na estreia. A sua condição imaculada explica-se pelo facto de a sua carroçaria ter sido acabada de pintar com 22 camadas de um delicado branco da época, escondendo mais de 2.000 horas de trabalho. Trata-se, de acordo com a própria companhia italiana, de um dos restauros mais complexos feitos até hoje pela Lamborghini.

E foi precisamente esta divisão da marca que se envolveu durante mais de um ano num trabalho de restauro inédito e de enorme complexidade: um modelo 350 GT, chassis #0121, precisamente um dos primeiros 15 a sair da linha de produção, em 1964. Ou seja, um carro de valor incalculável para história da Lamborghini. Foram quase 1.200 horas de trabalho especializado na carroçaria e no interior, a par de cerca de 800 só para a parte mecânica e elétrica, utilizando apenas peças originais Lamborghini.

Reprodução fiel

A missão começou bem antes de os artesãos da Lamborghini Polo Storico colocarem mãos à obra: o chassis #0121, sendo um dos primeiros de sempre, continha ainda alguns elementos do protótipo original que foram evoluindo ao longo da produção, pelo que foi necessário desenvolver pesquisa para que esses elementos fossem respeitados no restauro.

O chassis original e os painéis de carroçaria foram devolvidos à sua geometria inicial, a que se juntou um extenso trabalho no motor e nos sistemas de arrefecimento, travagem e combustível. O interior, em couro preto, foi totalmente reconstruído utilizando técnicas da época, ao mesmo tempo que o volante em madeira os pedais mereceram um restauro específico, mantendo alguns sinais de desgaste. O autorádio original foi mantido, tanto mais que funcionava como no primeiro dia…

Uma das partes mais delicadas de todo o trabalho centrou-se na carroçaria. Os painéis foram pintados de branco usando as técnicas da época e a fórmula original de tinta nitroacrílica. No total, foram aplicadas 22 camadas, com polimento de areia entre cada uma delas. As jantes foram restauradas e autenticadas pelo fornecedor original, a Route Borrani, de Milão, tendo sido equipadas com uns Pirelli Cinturato 205/15, tal como nas unidades de 1964.

513

Quer para a Lamborghini, quer para o proprietário do carro, o respeito pelas especificações originais determinou toda a estratégia de restauro. Não é, por isso, de estranhar que no dia da estreia deste 350 GT renascido, tivessem sido vividos momentos de grande carga emocional. Naquela sessão de primeiro teste, 80 quilómetros na pista sem uma única falha, esteve presente o primeiro proprietário deste Lamborghini.

A estreia de um sonho

O Lamborghini 350 GT foi o primeiro modelo a ser lançado pela marca. Surgiu de um sonho – ou de um inconformismo – de Ferruccio Lamborghini e começou por denominar-se 350 GTV, um protótipo sem filtros, desenvolvido por Giotto Bizzarinni. Uma brutalidade de 400 CV e chassis mais próprio para corridas do que para andar na estrada. Ferruccio queria precisamente o oposto, ou seja, carros que mantivessem a garra da competição, mas que pudessem ser conduzidos em estrada como um desportivo puro.

O italiano apaixonado por carros chamou então Gian Paolo Dallara, o qual, juntamente com Paolo Stanzani, trataram de domesticar o 350. Para estes dois engenheiros, era o início de uma relação mágica com a Lamborghini e da qual resultaria, pouco tempo depois, o eterno Miura.

Dallara e Stanzani finalizaram o 350 GT, num trabalho do qual resultou que o V12 de 3.464 cc debitasse agora uns mais domáveis 270 cv, suficientes para atingir os 250 km/h de velocidade máxima. A carroçaria em alumínio recebeu este grupo motopropulsor, acompanhado de uma caixa ZF de cinco velocidades, diferencial Salisbury e suspensão independente às quatro rodas. O desenho coube à prestigiada Carrozzeria Touring, que reformulou o protótipo original, preservando o carácter das linhas do GTV, cujo design era assinado por Franco Scaglione.

O restauro deste 350 GT foi o quarto trabalho completo da Lamborghini Polo Storico, depois da intervenção num Miura, um LM002 e um Countach. Este departamento especializado foca-se em quatro áreas fundamentais: restauro, gestão arquivística, certificação e o fornecimento de peças originais através da rede de pós-venda e concessionários, uma forma de preservar o valor dos veículos. A Lamborghini tem disponíveis mais de 70% das peças do parque de carros históricos da marca, podendo fabricar outras sempre que necessário.

a carregar vídeo

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.