Porsche 911: Lenda de paixão

22/12/2018

Ao longo de sete gerações – há quem conte oito, dividindo a primeira em dois –, o legado do 911 foi vincado e perdurado por uma constante evolução tecnológica, tendo como pilares o caráter temperamental e a engenharia de precisão.

Nem sempre isento de crítica, o 911 mostrou-se, ao longo dos seus 55 anos de vida, fiel aos ideais e princípios do seu criador, Ferry Porsche.

1ª geração – 901/911

O Porsche 911 nasce em 1963 como sucessor do 356, o modelo que marcara os primeiros passos da Porsche como construtor independente. O design do 911 é delineado por Ferdinand Alexander Porsche, filho de Ferry Porsche, conhecido como ‘Butzi’, e que mais tarde viria a fundar a Porsche Design. O 911 tem a sua estreia pública no Salão de Frankfurt de 1963, embora com a nomenclatura inicial de 901 – mais tarde adaptado devido a protesto da Peugeot.

No seu formato original, possui um motor de 6 cilindros boxer, com capacidade de 2 litros (1991 cm3) para uma potência de 130 CV. Aliado a uma caixa de 5 velocidades, o 911 atinge uma velocidade de ponta de 210 km/h.

É lançada uma variante mais acessível, denominada 912, animada pelo 1.6 boxer do descontinuado 356 (90 CV). Adicionalmente, é apresentada uma alternativa ao coupé, o Targa, uma forma diferente de cabriolet para assegurar que o 911 estivesse em conformidade com as normas americanas. Equipado um arco de segurança central, o Targa é inicialmente oferecido com óculo traseiro em vinil, para no ano seguinte passar a estar equipado com óculo em vidro.

Sucessivas evoluções levam à criação de versões diferentes, nomeadamente do 911 S (1966), que, além de debitar 160 CV, estreia as célebres jantes Fuchs.

Com a introdução do motor 2.2, em 1969, chega também uma distância entre eixos majorada em 58 mm, e começa a definir-se uma hierarquia dentro da gama, com o T (125 CV), o E (155 CV) e o S (180 CV), sendo estes últimos alimentados por injeção e o primeiro por carburadores. Novos desenvolvimentos dão lugar a aumento de cilindrada – 2,4 litros, MY ‘72 e ’73 – e com isso a potência cresce para 130 CV (T), 165 CV (E) e 190 CV (S). Estreia-se igualmente com este motor a famosa caixa 915, que ao contrário da anterior 901 já não engrena a primeira para trás (chamado de dog leg).

Na fase final desta série, a Porsche lança o mais desportivo 911 até à data: o 911 2.7 Carrera RS. Debita 210 CV e monta a famosa asa traseira ducktail, sendo ainda hoje um dos mais valorizados modelos da marca alemã.

a carregar vídeo

No final de 1973 (MY ’74), a Porsche introduz a mais significativa alteração estética ao 911, ao passar a montar para-choques mais volumosos (com elementos de borracha), em conformidade com normas americanas de proteção de impactos a baixa velocidade. Conhecido como Série G, passa a ter um motor boxer 2.7, tendo a versão base 150 CV (e mais tarde 165 CV), enquanto o ‘S’ permaneceu nos 175 CV.

São lançadas igualmente versões mais desportivas, como o Carrera 2.7 MFI (210 CV), mais tarde substituído pelo Carrera 3.0 (200 CV), que montava o propulsor do novo 911 Turbo, mas sem sobrealimentação.

Recorrendo a todo o know-how adquirido na competição com a tecnologia turbo, nomeadamente nas 24 Horas de Le Mans, a Porsche lança o primeiro e icónico 911 Turbo.

Este faz a sua estreia em 1975 – com nome de código 930 – com uma potência de 260 CV, demarcando-se pela largura da zona posterior pela bem dimensionada asa traseira. Mais tarde, a cubicagem do motor cresce para 3,3 litros para, em conjunto com intercooler, incrementar a potência para uns magníficos 300 CV.

Em 1978, a marca germânica substitui o 2.7 pelo SC (diminutivo de Super Carrera), que se distingue pela maior largura dos arcos das rodas traseiras, mas sobretudo pelo motor 3 litros – todo em alumínio por troca do bloco em magnésio das anteriores séries. A potência inicial é de 180 CV, passando depois para 188 e acabando em 204 CV. Foi com o SC que o 911 conheceu finalmente uma variante cabriolet, lançado em finais de 1982 (MY ’83), juntando-se ao coupé e ao Targa.

A última evolução da primeira geração chegou com o Carrera 3.2. São diversos os melhoramentos mecânicos, nomeadamente na travagem, mas é o novo e muito evoluído boxer de 3164 cm3 que marca a diferença, com a potência a chegar aos 231 CV.

2ª geração – 964

Em finais de 1988 é lançada a geração 964, com o qual o 911 entra numa era moderna, adaptando-se a novas soluções técnicas que o tornam mais eficaz, confortável, user friendly e seguro. Além de direção assistida, travões com ABS, duplo airbag frontal e arquiteturas de suspensão com molas helicoidais – em vez de barras de torção –, a estreia mais marcante é a transmissão integral, que equipa de série todos os modelos (Carrera 4). Só um ano depois é que o 911 passa a ter versões de tração traseira.

Visualmente, retém as linhas originais e típicas do 911, mas a asa traseira eleva-se e retrai-se automaticamente em função da velocidade, exibindo um Cx de 0,32, mérito também do total revestimento da zona inferior da carroçaria.

Mantendo as carroçarias coupé, cabrio e Targa, o 964 recorre a um novo e mais sofisticado boxer 3.6 de 250 CV. A caixa de velocidades é igualmente manual de 5 relações, mas em pouco tempo é introduzida uma novidade: a caixa semiautomática Tiptronic, de 4 velocidades.

Nesta geração regressa também o 911 Turbo, inicialmente com um 3,3 litros melhorado da anterior geração (320 CV), para depois ser movido por um 3.6 turbo de 360 CV, mas sempre com tração apenas atrás.

O 964 tem ainda uma edição limitada denominada RS ou RS America (para EUA), aliviado no peso o mais focado na performance.

3ª geração – 993

O 993, de 1994, é talvez a mais amada de todas as encarnações do 911, sobretudo por ser a última arrefecida a ar. Mantém o motor 3.6, mais elaborado, que debita inicialmente 272 CV. Mais tarde, é evoluído para 286 CV com a introdução de admissão variável Varioram, sendo o primeiro 911 a possuir de série dupla saída de escape. Outra estreia é a caixa de 6 velocidades manual, ainda baseada na mítica Getrag G50.

O desenho do 993 surge mais arredondado e inspirado no avançado 959, fazendo uso de uma mecânica totalmente redesenhada, onde desponta a suspensão traseira multibraços para tornar o comportamento dinâmico mais previsível e eficaz.

As variantes coupé e cabrio mantêm-se, mas o Targa perde o arco de segurança com teto removível por troca com um teto panorâmico em vidro.

A versão Turbo, lançada em 1995, recorre a um 3.6 de dupla sobrealimentação que alcança os 408 CV, transmitidos às rodas via um sistema de tração integral.

4ª geração – 996

Esta geração do 911 foi a mais controversa, não só por marcar a estreia dos motores arrefecidos a água como pela estética, que rompe com o passado. Totalmente repensado e redesenhado, é movido por um 3.4 boxer, com distribuição variável VarioCam, inicialmente de 300 CV.

Com o restyling de 2002, os faróis dianteiros ganham um aspeto mais arredondado e o motor é evoluído para 320 CV com a subida de cilindrada para 3,6 litros e VarioCam Plus.

A versão Turbo, de 2001, distinto visualmente do Carrera, tem um motor 3.6 biturbo de 420 CV e tração 4WD, podendo ter caixa manual de 6 velocidades ou Tiptronic de 5 relações.

Além do Carrera 2 e Carrera 4, passa a haver o Carrera 4S – uma estreia desta nomenclatura –, que ostenta o look e chassis da versão Turbo, a que falta somente a bem dimensionada asa traseira.

Uma variante importante é o novo GT3, uma versão mais purista, lightweight e focada na performance, que serve de base às versões de competição (GT3 Cup) e que ao longo do tempo vai tendo várias evoluções. O especial enfoque é dado ao motor, que em vez de ser baseado no do Carrera é derivado do 911 GT1 de Le Mans, com 3600 cm3 para maior rotação. Lançado com 360 CV, chega depois aos 381 CV.

5ª geração – 997

O 997 (lançado em 2004) é uma evolução em todos os campos do 996, desde a aerodinâmica à mecânica. Regressam os faróis dianteiros redondos, para gáudio dos puristas, e começa a ser tradição haver duas versões: Carrera e Carrera S. O primeiro dispõe de um boxer 3.6, de 325 CV, ao passo que o segundo é animado por um 3.8 de 355 CV.

Mais tarde surgem as variantes Carrera 4, que se distinguem pela tração integral e maior largura da zona posterior com pneus ainda mais largos atrás.

A meio do ciclo de vida desta encarnação é lançado um restyling, o que começa a ser tradição no 911, com a denominação comum de 997.2 (ou 997 mark II). As alterações são de monta, pois além da estética retocada com luzes de circulação diurna e óticas traseiras em LED, são introduzidos os novos motores DFI, de injeção direta, e a caixa PDK. Os primeiros elevam a potência para 345 CV (Carrera e Targa 4) e 385 CV (Carrera S e Targa 4S), respetivamente de motores de 3,6 e 3,8 litros. O segundo é um marco na estreia das caixas de dupla embraiagem no construtor alemão. Com 7 velocidades e desempenho muito rápido, contribui para consumos e emissões baixos, sendo uma alternativa à caixa manual de 6 velocidades.

O 997 Turbo monta o mesmo 3.6 biturbo do antecessor, mas com rendimento melhorado para os 480 CV, graças, entre outros, à aplicação de turbo de geometria variável. Com o restyling de 2009, o Turbo passa a ser locomovido por um boxer 3.8, subindo a potência para os 500 CV.

Entre as versões especiais desta geração contam-se o GTS, o SportClassic e o Speedster (todos com motor 3.8 de 408 CV), o Turbo S (530 CV) e o GT2 (620 CV), além do já icónico GT3 (435 CV) e das suas variantes GT3 RS (450 CV) e GT3 RS 4.0 (500 CV), todos eles atmosféricos.

6ª geração – 991

Com o 991, o 911 entra num patamar de grande maturidade, adaptando-se às novas tecnologias de conetividade e conforto de outras gamas, e incrementando o enfoque numa performance inteligente, já que os novos tempos exigem patamares de eficiência cada vez mais elevados.

Daí que, à parte do incremento de potência dos propulsores para 350 e 400 CV, respetivamente para Carrera e Carrera S, junta-se a nova caixa de velocidades manual de 7 relações, em alternativa ao cada vez mais implementado PDK.

O design é refinado e mais atlético, evidenciando maior diferenciação na traseira, que ostenta novas óticas LED que vão ‘contagiar’ outras gamas da Porsche. Introduz a utilização de alumínio e colas estruturais na construção, por questões de rigidez, peso e eficiência motriz, além de otimizar a dinâmica, aspeto em que, a par de 100 mm extra de distância entre eixos, conta com o contributo de dispositivos como o Torque Vectoring e o Porsche Dynamic Chassis Control.

Uma estreia é a direção eletromecânica, mais compatível com assistentes eletrónicos à condução.

Uma novidade da gama 991 é o regresso da carroçaria Targa com arco de segurança e teto removível, como era no seu formato original. A particularidade é a recolha elétrica do teto sob o óculo traseiro, que se eleva no processo.

As versões Turbo e Turbo S são lançadas simultaneamente, com o primeiro a debitar 520 CV e o segundo 560 CV, podendo ser equipados com direção no eixo traseiro para melhorar a estabilidade a alta velocidade e a agilidade em percursos mais sinuosos.

O habitual restyling (991.2, de finais de 2015) marca o fim dos motores atmosféricos, exceto nas versões especiais, passando a montar um boxer sobrealimentado de 2931 cm3, tanto para os Carrera e Targa (370 CV) como para os Carrera S e Targa S (420 CV). Também os Turbo e Turbo S sofrem aumentos de rendimento, passando agora a desenvolver, respetivamente, 540 e 580 CV.

Versões especiais do 991 contemplam o GT3 (500 CV), o GT3 R (550 CV), o GT3 RS (520 CV), o Turbo S Exclusive (607 CV) e o GT2 RS (700 CV).

O 991 dá agora lugar à 7ª geração, denominada 992, que depois de ser publicamente revelada no Salão de Los Angeles (novembro), terá o seu lançamento marcado para fevereiro de 2019.

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.