Raros são os modelos que alimentam tantas e tão fundadas expectativas como o Renault Megane E-Tech 100% Elétrico – uma longa designação para uma aposta de cauda longa, apesar de chegar já em setembro e de reclamar, de alguma forma, resultados a curto prazo.
Não se trata (apenas) de ser o primogénito de uma era de veículos totalmente elétricos do construtor francês – que tem já uma consolidada experiência na matéria – nem de ser ele o espelho que refletirá todos os produtos que venham a sair das linhas de produção da Renault nos próximos anos, com particular ênfase de 2030 em diante.
Trata-se, acima de tudo, de um modelo que compete não só com o tão dinâmico mercado dos veículos elétricos – com VW ID.3, Kia E-Niro e Tesla Model 3 e Nissan Leaf a chegarem-se à frente – mas também com outras propostas, eletrificadas… ou nem por isso.
Em última instância, o Megane E-Tech 100% Elétrico compete até consigo próprio. Ou não tenha o mesmo apelido do que a sua Alma Mater a combustão interna, cuja esperança de vida, de resto, não se prevê duradoura.
Reino tecnológico
Já aqui o escrevemos, mas de tudo isso é capaz um modelo que faz esquecer a sua essência “ambiental” e quase parece um GTI silencioso na forma como se comporta na estrada. Mas vamos por partes. Vimos o Renault Megane E-Tech 100% Elétrico, pela primeira vez, no Salão de Munique, o ano passado. Já este ano, fizemos os primeiros quilómetros ao volante dele, na apresentação internacional, em redor da Andaluzia, Espanha. E a segunda impressão? Será tão entusiasmante como a primeira? Partimos com essa questão em aberto para a apresentação nacional, realizada nas margens do Douro.
Sentados já para um percurso que combinaria vários tipos de estrada, recordamos os dados oficiais da marca, com destaque para 220 cv de potência, da aceleração 0-100 km/h em 7,4 segundos e, não menos importante, da autonomia de 470 quilómetros (WLTP), matéria sempre sensível quando se trata de um veículo 100% elétrico.
“Apenas o ruído dos pneus se ouviam nas estradas mais sinuosas, lembrando-nos, então, de que se trata de um modelo totalmente elétrico”
Ainda antes de arrancar, um breve olhar para o habitáculo, onde reina a tecnologia, com destaque para aplicações da Google e do OpenR, um conceito que combina o painel de instrumentos com o ecrã multimédia – que domina por completo o interior. O espelho virtual, que projeta a imagem traseira virtualmente – a visibilidade não é muita, admitamos – continua ao serviço, mas ainda não foi desta conseguimos adaptar-nos a esta solução, preferindo dar um pequeno toque e voltar a ter um espelho comum.
Sem emissões, nem complexos
Para ajudar a lidar com a potência temos quatro níveis de travagem regenerativa, que podemos controlar através de duas patilhas situadas no volante. Sempre que levantamos o pé do pedal do acelerador, recuperamos energia cinética para alimentar a bateria e poupamos os travões.
Para esta segunda experiência, calhou-nos a versão mais potente, cujo binário de 300 Nm fala por si. Os valores oficiais apontam para um consumo (WLTP) na ordem dos 16,1 kW/100 km. Mas, mais uma vez, ultrapassámos esse registo, ficando mais próximos dos 18,1 kW/100 km). Mas, verdade seja dita, porque aproveitámos o comportamento empolgante do Mégane E-Tech 100% Elétrico, optando, quase sempre por manter ativo o modo Sport.
Neste registo, surpreende a energia que exibe nas acelerações, mantendo-se firme, estável e… silencioso. Apenas o ruído dos pneus se ouviam nas estradas mais sinuosas, lembrando-nos, então, de que se trata de um modelo totalmente elétrico. A direção é rigorosa e muito leve (mesmo no modo Sport), o que o torna também muito ágil e confortável numa condução em cidade.
A Renault está orgulhosa do Megane E-Tech 100% Elétrico. E confiante. Pelo que comprovámos, tem motivos para tal. De linhas empáticas e futuristas, conta com um recheio tecnológico invulgar (e com 26 sistemas avançados de apoio à condução), goza de uma autonomia “despreocupada” e é muito divertido de conduzir.
O preço começa nos 35.200 euros, mas o melhor será apontar para os 47.000 euros, reclamados para a variante mais potente e equipada. O esforço financeiro justifica-se.