A recente modalidade gravel a par com a eletrificação das bicicletas, sobretudo as de montanha, são as grandes responsáveis pela animação que se sente no mercado, apesar do momento complicado que atravessamos por causa da pandemia de Covid-19. Na verdade, o gravel não é mais do que um regresso às origens do ciclismo de montanha, que começou por usar o que havia disponível para enfrentar terrenos mais agressivos: bicicletas de estrada com algumas modificações. A Specialized fez parte dessa transformação, percebendo desde logo que os requisitos de uma bicicleta para andar nos trilhos eram bem diferentes dos necessários para andar na estrada. O seu portefólio tem bicicletas de gravel extremamente competentes, mas uma vez mais a inovação inscrita no seu ADN fez com que criassem um produto diferente.

Os mais distraídos vão julgar que a Turbo Creo SL Comp Carbon EVO, abreviada para Creo SL EVO, é uma bicicleta perfeitamente normal. O seu aspeto quase não denuncia a sua vertente eletrificada, isto porque está equipada com um motor proprietário SL 1.1, mais compacto e leve (a marca diz que pesa apenas 1,950 kg). Disponibiliza 240 watts de assistência, 35Nm de torque e é “alimentado” por uma bateria de 320Wh perfeitamente integrada no tubo inferior do quadro. Se, em teoria parece tudo muito bem, na prática é, no mínimo, surpreendente quando pegamos nela e nos deparamos com os seus cerca de 13kg de peso para uma bicicleta elétrica.

“És tu, mas mais rápido.” É o lema da Specialized, com efeito, o nível de assistência proporcionado duplica o input gerado pelo ciclista

Foto: Marco Matias

“És tu, mas mais rápido.” É o lema da Specialized, com efeito, o nível de assistência proporcionado duplica o input gerado pelo ciclista, só que a diferença está na forma como a ajuda extra é entregue. Enquanto que na maioria dos motores da concorrência cada pedalada é acompanhada por uma resposta (por vezes brusca), este SL 1.1 fá-lo de uma forma tão suave e natural que nem parece que está lá. Se quisermos, a Creo SL EVO está pronta a andar tal como vem de fábrica com três níveis de assistência pré-configurados. No topo do tubo superior do quadro existem dois botões: um que serve para ligar, outro que permite alternar entre os três modos de assistência e há ainda uma escala com dez traços que indica o estado da carga da bateria, equivalendo cada um a 10% e a única coisa que os denuncia é o facto de se iluminarem quando ligamos o sistema. No entanto, só temos vantagens se optarmos por instalar a aplicação “Mission Control” no smartphone, é possível, por exemplo, desligar as luzes para pedalar sem distrações, mas não se fica por aí, a app além de poder registar todas as voltas, permite ainda uma impressionante personalização do sistema. Podemos ajustar a potência disponibilizada em cada um dos níveis de assistência, ou ainda a distância da volta e a percentagem de carga de bateria que queremos ter no final. O sistema fará a gestão para que nunca falte bateria nas voltas épicas. A marca diz ser possível uma autonomia de 130km, ou mais 65 km, perfazendo 195km com o “Range Extender” opcional com o formato de garrafa de hidratação colocada no respetivo suporte.

O que se nota muito rapidamente é a facilidade com que se chega aos 25 km/h, legalmente permitidos neste tipo de bicicletas

Com uma geometria que se situa algures entre a Roubaix e a Diverge, a Creo SL EVO está à vontade tanto na estrada como fora dela. A escolha dos componentes ajuda para que o seu desempenho não seja prejudicado em qualquer dos cenários em que se role com ela. A começar pelos pneus Pathfinder Pro, com uns generosos 38mm de largura, têm um centro do piso liso, o que não oferece resistência ao rolar na estrada ou em piso mais compacto, mas têm uma aderência inesperada em terreno mais solto ou até molhado graças ao discreto, mas eficaz desenho do resto do piso que ladeia a estreita faixa central.

Para quem está habituado ao conforto de uma bicicleta de all-mountain ou de enduro com suspensão total, a perspetiva de nos aventurarmos em estradões ou até mesmo em alguns trilhos numa bicicleta totalmente rígida pode ser um choque. É verdade que o quadro em carbono e os pneus largos proporcionam algum grau de conforto, mas não há milagres. Ou assim julgávamos, até conhecermos o Future Shock 2.0. Desenvolvido em conjunto com a McLaren (sim, a marca dos automóveis superdesportivos), trata-se de um pequeno amortecedor de mola com 20mm de curso colocado acima da caixa de direção. O seu funcionamento é controlado por meio de um botão rotativo, que permite trancar completamente ou abrir progressivamente até à totalidade, e assim minimizar as vibrações que chegam às mãos e aos braços. Claro que não se trata de uma suspensão tradicional na frente de uma bicicleta, mas é espantosamente eficaz tanto nos estradões, como nos trilhos, ao ponto de a deixarmos sempre aberta inclusive no alcatrão. O conforto é ainda assegurado por um guiador de estrada com um ângulo mais aberto nos “drops” e um espigão de selim telescópico, que se revelou muito útil quando os trilhos por onde andámos eram mais inclinados e exigentes. Ao permitir baixar o selim até 50mm, eleva o controlo para um nível próximo do que se consegue numa bicicleta de montanha.

O sistema está tão bem afinado que praticamente não se nota arrasto quando a assistência é cortada

Para quem pensa que numa bicicleta destas não faz sentido ser elétrica, realçamos que o sistema é eficiente entre as 60 e as 100 rpm, por isso tem mesmo de pedalar para andar. O que se nota muito rapidamente é a facilidade com que se chega aos 25 km/h, legalmente permitidos neste tipo de bicicletas, a partir dos quais a assistência é cortada e passamos a ser só nós os responsáveis pela locomoção. O sistema está tão bem afinado que praticamente não se nota arrasto, noutros motores é notória a sensação de parecer que estamos a puxar uma âncora sempre que ultrapassamos os 25 km/h. Experimentámos desligar o sistema por diversas vezes nessas situações e era como se estivéssemos a andar numa bicicleta normal, e percebemos que o seu baixo peso era um fator determinante. Mesmo desligada o prato 44T na frente e 11 velocidades atrás chegam para a maioria das situações. A transmissão e travagem está a cargo da gama Shimano GRX, garantindo que as mudanças são trocadas com suavidade e os travões são progressivos, mas suficientemente potentes para parar sem sobressaltos. Pretende ir andar com amigos que têm uma condição física melhor do que a sua? Não há problema, a Creo SL EVO dá-lhe o empurrão extra para não se sentir deslocado no grupo, no limite pode até desligar o sistema para um treino mais exigente. E, porque não considerar uma utilização mais abrangente como meio de transporte no dia-a-dia?

Ficha técnica
QUADRO: FACT 11r carbon, Open Road Geometry, front/rear thru-axles, fully integrated down tube battery, internal cable routing, fender/rack mounts, Boost™ 12x148mm FORQUETA: Future Shock 2.0 w/ Smooth Boot, Boost™ 12x110mm thru-axle, flat-mount disc APERTO ESPIGÃO: Alloy, 30.8mm AVANÇO: Future Stem, Pro GUIADOR: Specialized Adventure Gear Hover, 103mm drop x 70mm reach x 12º flare SELIM: Body Geometry Power Sport, steel rails ESPIGÃO: X-Fusion Manic Dropper, 50mm travel TRAVÃO DIANTEIRO: Shimano GRX 810 hydraulic disc TRAVÃO TRASEIRO: Shimano GRX 810 hydraulic disc DESVIADOR TRASEIRO: Shimano RX812 GX, Shadow Plus, 11-speed MANÍPULOS MUDANÇAS: Shimano GRX 810 hydraulic brake levers, mechanical shifting CORRENTE: Shimano HG601, 11spd PEDALEIRO: Praxis, Forged alloy M30, custom offset PRATOS: Praxis, 44T, 110BCD RODA DIANTEIRA: DT R470 Boost, 12x110mm RODA TRASEIRA: DT R470 Boost, 12x148mm PNEU DIANTEIRO: Pathfinder Pro 2Bliss Ready, Transparent Sidewall, 700x38c PNEU TRASEIRO: Pathfinder Pro 2Bliss Ready, Transparent Sidewall, 700 x 38c CÂMARAS DE AR: Presta valve, 48mm BATERIA: Specialized SL1-320, fully integrated, 320Wh CARREGADOR: Custom charger, 48V System w/ SL system charger plug CONTROLO: Specialized TCU, 10-LED State of charge, 3-LED Ride Mode display, ANT+/Bluetooth® PREÇO: 5,999 Euros