Ao criarem um serviço de partilha de automóveis como solução de mobilidade, os engenheiros digitais da Volvo compreenderam que a única forma de serem bem-sucedidos era abordar a questão do carsharing de uma forma diferente face às demais propostas do mercado. Foi sob este desígnio que a Volvo on Demand nasceu em 2019, então apenas com duas pessoas. Hoje, são mais de 200 funcionários totalmente dedicados à plataforma digital, a qual foi completamente desenvolvida pela equipa da Volvo e que prevê, no futuro, chegar a outros países.

Numa das cidades mais cosmopolitas da Europa e onde a mobilidade é abordada com uma elevada racionalidade, é difícil não reparar na grande quantidade de automóveis da Volvo a circular. Mas, nem todos são de condutores particulares. Alguns dos modelos são da plataforma de carsharing Volvo on Demand, estando logo aqui uma das diferenças deste serviço – os veículos (todos eletrificados) não estão identificados ostensivamente como um modelo afeto a um serviço de partilha. Na verdade, é preciso olhar atentamente para a placa de suporte da matrícula para se ver o nome do serviço.

Estocolmo é uma das cidades suecas onde a Volvo on Demand está presente, dispondo já de mais de 250 mil clientes no total. De forma descontraída, Erik Jivmark, CEO da Volvo Car Mobility, divisão de soluções de mobilidade da marca sueca, explica que um dos pontos importantes da Volvo on Demand é não ostracizar o automóvel, mas colocá-lo ao serviço dos seus clientes, “porque tudo começa com uma tarefa, seja ir às compras, seja ir numa viagem de fim de semana. O carro está lá para permitir que isso aconteça. O objetivo é chegar a novos segmentos de pessoas, aquelas que não pretendem ter um carro, seja pelo local onde vivem, seja pela situação de vida, como por exemplo, pessoas que deixaram de ter os filhos em casa e já não precisam de um carro para viagens”.

Subsidiária totalmente detida pela Volvo, tudo o que existe nesta plataforma de mobilidade foi criado pela equipa de engenheiros da companhia sueca, tendo sido descartada a opção de comprar uma operação já existente e renomeá-la, bastando colocar, a posteriori, os Volvo (e Polestar) nas estradas. “Esse não é o modo de operar da Volvo”, refere. Assim, ganhou ideia e corpo este serviço que foi evoluindo ao longo dos anos com a adição de funcionalidades, como a de assinatura mensal, uma novidade ainda recente, mas bastante bem recebida pelos clientes.

“Os clientes gostam de usar um carro quando precisam. Mas é preciso dar soluções que vão ao encontro das suas necessidades. Na Europa, os carros passam 90 a 95% do seu tempo parados, daí a necessidade de serviços como estes de partilha de mobilidade, já que a posse deixa de ser rentável. Direciona-se a segmentos de pessoas que nunca consideraram comprar um carro ou que não tinham a posse de um carro como uma alternativa. Assim, damos a oportunidade de usarem um automóvel e damos-lhes a conhecer os nossos carros”.

Simultaneamente, a Volvo on Demand responde a algumas das mudanças de paradigma da vida urbana e da mobilidade moderna, cortando nas emissões, no trânsito (de acordo com um estudo, cada carro da plataforma pode retirar nove automóveis particulares da cidade) e permitindo recuperar espaço nas cidades para zonas pedestres ou áreas de lazer.

O poder dos dados

A recolha e interpretação dos dados é um ponto cada vez mais importante na indústria da mobilidade e é na afinação de serviços como o Volvo on Demand que ganham ainda maior preponderância. Aos clientes, a partir do smartphone, é perguntado que tipo de carro querem – um XC40 ou um XC60, por exemplo –, quando necessitam da reserva do carro e em que local é que o podem apanhar. A análise de dados procura responder a necessidades de mobilidade de forma antecipada, por exemplo, na procura de veículos num determinado local ou até nas ordens de limpeza do veículo. Como? O segredo está no cruzamento de dados.

“Podemos ver dados como a quantidade de pessoas através da colocação dos cintos e associar esse ponto às condições da meteorologia do momento em que foi utilizado, pelo que podemos dar indicações às nossas equipas de que devem dar prioridade a um carro para limpeza do que outro atendendo aos dados disponíveis”, explica Erik Jivmark, que indica desta forma um método simples e racional para atender a questões tão simples – mas ainda preocupantes no rescaldo de uma pandemia –, da limpeza. Além disso, um cliente satisfeito não se queixa, não recorre ao apoio ao cliente e tende a usar o serviço novamente, concede.

A verificação dos dados é também essencial para saber onde posicionar os cerca de 1300 veículos em estações nas quais os clientes devem levantar e devolver os veículos – sempre no mesmo ponto, pelo que aqui não há um método ‘free floating’. Sem apontar um valor específico, Jivmark indica, porém, que, “em média, para se ter sucesso num serviço de carsharing tem de se ter uma taxa de utilização de 20%. Nós temos um valor bem acima disso”. Outro dos pontos diferenciadores deste serviço é o de permitir também tirar carros de parques de estacionamento em edifícios. Uma alteração recente à legislação sueca permite que as garagens de prédios ou condomínios possam subtrair lugares de residentes substituindo-os por lugares dedicados a um menor número de veículos de carsharing. Também aqui, Erik Jivmark vê uma vantagem, sobretudo em cidades mais densas onde o veículo particular tende a não uma prioridade, mas a mobilidade permanece como fundamental.

Com humor, refere também que olha com alguma naturalidade para a possibilidade de, em qualquer momento, poder vir a perder um cliente que se possa decidir por comprar um automóvel. “O que isso pode dizer é que a pessoa entretanto mudou a sua vida e passou a precisar de um veículo particular. Por exemplo, pode ter deixado a cidade ou estar relacionado com o nascimento de um filho. Além disso, desde que seja um Volvo…”, graceja.

“Não investimos tanto e numa equipa tão grande para estarmos só num país”

E, contrariando muitas ideias pré-concebidas, o utilizador-tipo do Volvo on Demand não usa apenas este serviço para deslocações curtas. Com efeito, refere, o tempo médio de viagem é entre quatro a cinco horas, com um preço médio de 7€ por hora.

O processo de reserva em si é simples e implica o acesso a um smartphone, podendo o cliente com um registo premium na conta dispor de alguns benefícios estatutários, como a prioridade nos pedidos de reserva ou a possibilidade de cancelamento gratuito. Por outro lado, pensando também noutros tipos de necessidade, há a possibilidade de alugar o veículo, mas enviar a chave de forma digital para outro cliente – amigo ou familiar – que poderá utilizá-lo de seguida pelo tempo prescrito. Os custos de portagens e seguros estão incluídos no serviço.

Volvo XC40 Recharge P8 AWD in Sage Green

Quanto à ambição de chegar a novos mercados, o mercado europeu é um ‘alvo’ claro, com Jivmark a advertir que cada país é específico, pelo que é preciso abordá-los de forma mais cuidada, não havendo ainda nada para anunciar de muito concreto. Mas também deixa o ‘isco’: “Não investimos tanto e numa equipa tão grande para estarmos só num país”.

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