Spoiler alert: Se ainda não viu a mais recente temporada da série criada por Álex Pina passe para o parágrafo seguinte.

Num dos episódios desta quarta temporada, Sérgio Marquina, o famoso “Professor” de “La Casa de Papel” utiliza uma KTM 790 Adventure, qual Don Quixote para escapar à polícia, percorrendo estradas e caminhos que passam por paisagens dignas do imaginário de Cervantes, com moinhos de vento e tudo. Contrariando a calma do “Professor”, a 790 Adventure é uma moto nervosa, característica que percebemos mal a colocamos a trabalhar graças ao compacto, mas ruidoso motor LC8c. Deixando a vertente de aventura mais radical para a «irmã» 790 Adventure R, verificamos que a S é, naturalmente, uma aventureira mais estradista, apesar de partilharem a maioria dos componentes. A exceção é o banco (dividido em dois e mais baixo) e as suspensões (com 200mm de curso, em vez de 240mm). Por isso, será mais apelativa para aqueles que gostariam da versão R, mas que ficam intimidados pelos 880mm de altura do banco ao chão.

Efetivamente, ao rolar com a 790 Adventure temos a sensação de estarmos a andar numa 790 Duke, um pouco mais alta e com mais alguma proteção aerodinâmica. A sua agilidade revela-se inesperada para uma moto com estas características, tanto em manobras a baixa velocidade, como em andamento rápido em estradas sinuosas. Aí, a roda da frente com 21” seguiu sempre o trajeto por nós indicado sem hesitar e as passagens de caixa mesmo sem o quickshifter opcional (permite engrenar mudanças sem embraiagem) são suaves e rápidas, graças à embraiagem que é de cabo, mas deslizante e assistida.

Isto demonstra o sucesso da equipa que projetou a 790 Adventure ao ousar colocar dois depósitos: um de cada lado do motor para a manter o centro de gravidade o mais baixo possível, mas conferindo-lhe um aspeto, no mínimo, estranho e polarizador, quanto à opinião acerca da estética. Gostos à parte, não há dúvida de que estamos perante uma moto que não assusta, mas pode ser exigente na sua condução porque nos desafia, constantemente, a andar em ritmos elevados: os 95 cv disponíveis às 8000 rpm e os 88 Nm de binário às 6000 rpm do bicilindrico paralelo assim o determinam.

O motor tem uma resposta linear a partir das 2500 rpm, mas é pelas 4000 rpm que se sente confortável para rolar com disponibilidade, sempre com muita força e fôlego para dar. Com a experiência de um construtor de motos como a KTM, não seria de esperar outra coisa que não fosse uma ciclistica com um comportamento dinâmico irrepreensível, transmitindo muita confiança, mas outro fator que contribui ativamente para isso é a eletrónica integrada na 790 Adventure. É uma verdadeira montra tecnológica com o ABS, controlo de tração (MTC) e os modos de condução a trabalharem em conjunto para proporcionarem uma condução segura em qualquer situação. Todas as definições estão à distância do polegar esquerdo, bastando premir os botões dispostos em formato de cursor multi-direcional e toda a informação é mostrada de forma clara no ecrã TFT de 5”.

Assim, de série na 790 Adventure temos disponíveis os modos Street com uma resposta do acelerador mais direta, intervenção moderada do MTC (controlo de tração) e do sensor do ABS em curva; no Off-Road o acelerador assume uma resposta mais suave, o MTC desliga o anti-levantamento da roda da frente e a informação do ângulo de inclinação é ignorada para assim permitir a roda traseira derrapar; já o modo Rain é aquele em que o MTC, juntamente com o sensor de inclinação do ABS, assumem a máxima intervenção, reduzindo a resposta do acelerador bem como a potência disponível. Infelizmente, o modo Rally é opcional, só vem instalado de série na versão R, e permite uma configuração personalizada do nível de controlo de tração entre 0 (mínimo) e um máximo de 9 de forma imediata, assim como também afinar a gosto a resposta do acelerador, alternando entre os modos disponibilizados. Na versão testada estava instalado o visor frontal que vem de origem na R (mais curto), melhora o desempenho fora de estrada, mas não é adequado para quem precise de proteção aerodinâmica acima dos 100 km/h. Rolar com a 790 Adventure, diariamente, é uma tarefa que se revela fácil, uma vez que a sua ergonomia permite um encaixe perfeito: o banco é largo e firme, o guiador está à distância certa para uma condução sentada ou em pé e toda a instrumentação facilmente acessível para alguém com 1,70m. As suspensões, que não permitem afinações, filtram bem as irregularidades das ruas da cidade, embora, por vezes, com alguma dureza que se torna uma vantagem em estrada com a sua firmeza a manter uma excelente compostura em andamentos rápidos. Fora de estrada o seu comportamento é exemplar, desde que o caminho escolhido não exija mais do que as suspensões podem dar, que ainda é bastante. Percebemos porque é que o “Professor” escolheu a 790 Adventure para a sua fuga. Pragmático como é só poderia optar por uma «ferramenta» que sabia que iria cumprir a sua parte do plano sem falhar.

Preço: a partir de 13.990,60 €

Ficha técnica

Motor: 2-cilindros, 4-tempos, parallel twin 799,0 cc

Potência: 93,9 cv / 70,0 kw

Sistema de arranque: Elétrico

Sistema de refrigeração: Arrefecimento a líquido

Quadro: Chromium-Molybdenum-Steel frame using the engine as stressed element, powder coated

Caixa de velocidades: 6 velocidades

Embraiagem: deslizante PASC™, acionada mecanicamente

Suspensão dianteira: WP upside-down Ø 43 mm

Suspensão traseira: WP monoshock

Travão dianteiro: 2x radially mounted 4 piston caliper

Travão traseiro: 2 piston floating caliper