O piloto português Miguel Oliveira confessa-se ansioso pelo regresso à competição no Campeonato do Mundo de Motociclismo (MotoGP), também afetado pela pandemia de Covid-19. Oliveira, que compete na categoria principal com uma KTM da equipa Red Bull KTM Tech3, concedeu uma entrevista à Eleven Sports na qual deu a conhecer os seus objetivos para a sua segunda temporada no MotoGP.

O piloto português Miguel Oliveira, de 25 anos, natural de Almada, é o expoente máximo do motociclismo português: foi o primeiro a vencer uma corrida no Mundial de Motociclismo de velocidade no GP de Itália de Moto3, foi vice-campeão mundial de Moto2 e foi o primeiro a subir à categoria de Moto GP. Em 2020, vai cumprir a sua segunda temporada, com o objetivo de melhorar o 17º lugar da classificação de pilotos do ano passado (com 33 pontos).

Sobre o regresso ao trabalho depois da pandemia, Oliveira explicou que “poder voltar à pista é sempre fantástico, porque temos a oportunidade de fazer aquilo que nos apaixona – que no meu caso é andar de mota. Ir ao autódromo do Estoril e de Portimão foi uma oportunidade fantástica – o campeonato nacional foi a primeira prova de desportos motorizados a ser realizada na Europa”. Em Portimão, também pôde ‘treinar’ mais a ‘sério’, mesmo reconhecendo que “a mota não é igual, obviamente, mas é sempre melhor do que o sofá ou de que os jogos”.

Miguel Oliveira, nos testes do Qatar, em fevereiro.

“Nós temos alguma certeza que o campeonato vai começar agora em julho, nos dias 19 e 26, por isso temos essa data mais ou menos definida como objetivo. Para mim, psicologicamente, é ótimo depois de tantos meses sem saber o que é que ia acontecer e se ia acontecer ou não. Ficar com a certeza e não apenas com a esperança. A organização tem feito um excelente trabalho, e temos uma carga enorme de medidas que temos de cumprir para segurança dos pilotos e de quem está a operar dentro das boxes”, referiu Oliveira, que tem como objetivo uma presença mais constante o top 10.

“Para mim, o objetivo no início desta pré-temporada passou sempre por começar a estar mais frequentemente dentro do top 10, o que é um objetivo concretizável – na minha opinião – por dois motivos: por me achar um melhor piloto que no ano passado, com mais experiência e a 100% fisicamente, e a razão número dois é de facto porque a nossa mota tem evoluído bastante a nível técnico. Temos tido uma evolução tremenda em todos os campos técnicos da mota, desde o motor ao chassis e eletrónica. Portanto, eu acho que os ingredientes para terminar no top 10 estão reunidos. Estou confiante que este ano a nossa mota nos vai permitir lutar por posições muito melhores”, afirmou.

Sobre o sonho do título mundial, Miguel Oliveira referiu que “sonhar pode-se sonhar sempre, mas eu gosto de primeiro colocar os objetivos nas coisas e obviamente as coisas fazem-se passo a passo. Eu tenho de começar a frequentar o pódio e ter vitórias com uma frequência maior, e aí sim, tudo somado dá um título. Estar entre aqueles três ou quatro pilotos que lutam todos os anos pelo título não é fácil. Não é fácil de lá chegar, é preciso muita coisa e é muita experiência que se ganha em corrida – boa experiência de vitórias, de lutar por pódios. E essa experiência ainda não a tenho. É um sonho quase a tornar-se objetivo – é para ser cumprido daqui a três ou quatro anos”.

Miguel Oliveira referiu ainda que nem sempre é fácil delinear publicamente objetivos, já que os resultados não dependem apenas do piloto: “A nossa história é essa. No desporto motorizado às vezes fica difícil de transparecer para o público a dificuldade que nós temos às vezes em não dizermos as coisas ou não pormos as coisas de forma clara cá para fora ao nível de objetivos. Porque temos uma máquina debaixo de nós, que não é só acelerando mais que andamos mais rápido. É preciso muita coisa a acontecer por trás também”.

Relativamente à importância da telemetria, em termos técnicos da mota, mas também de condução, o jovem piloto referiu que “a telemetria nas motos é tão desenvolvida como nos carros. Simplesmente existem coisas que nós não podemos ter – comunicação rádio, telemetria em tempo real, essas informações não se podem passar em tempo real para a box. É ditado pelo regulamento. A nós ajuda-nos a nível da precisão, porque temos mais tendência em perceber aquilo que está a acontecer vendo na telemetria, através de um gráfico – a precisão da nossa condução aumenta muito bem. Quando chegamos ao nível tão alto, como estamos, ajuda muito ter a telemetria como uma ajuda secundária para poder poupar um pouco mais o pneu. Garantir que através dos cálculos que temos na telemetria nós possamos chegar ao final da corrida ainda com alguma coisa para dar”.

“Através da telemetria conseguimos construir três variantes de mapas de motor. Temos três mapas para aceleração, três mapas diferentes para o travão motor e três mapas para o controlo de tração. E nós vamos ajustando estes parâmetros à medida que o nível de aderência baixa, o peso baixa. Para dar um exemplo: quando tenho pneus novos começo com muita mais potência porque a moto está muito mais pesada e tenho o controlo de tração no máximo por o pneu estar novo. À medida que a aderência baixa vamos libertando o controlo de tração, passando-o cada vez mais para o acelerador, e vamos reduzindo um pouco mais a potência porque a moto está leve, a aderência baixou e não queremos aquela potência toda ligada à roda”.

Trocar o número 88? “Só se fosse pelo 1”

Com a subida ao Mundial de MotoGP, Miguel Oliveira teve de trocar o seu número de piloto e o 44 ‘dobrou’ para o 88 atual: “O número 44 surgiu muito cedo na carreira. Acho que talvez nas motas seja mais identificativo, mais importante para o piloto, do que nos carros. Se calhar estou errado, mas acho que é o número que identifica bem o piloto nas motos. Surgiu o número 88 por forças maiores, porque quando me estreei no MotoGP já lá havia o Pol Espargaró com esse número. Ainda tentei arranjar um grupo amigo que o pudesse intimidar e obrigá-lo a ceder o número, mas não foi possível – ia parecer um pouco suspeito. Mas a opção estava em cima da mesa, ainda falei com ele, mas não havia nada a fazer”.

Neste momento, Oliveira só se vê a trocar o número 88 por um outro: “Surgiu o número 88 de forma natural, também é um número natural, é o dobro de 44 e acho que ficava muito bem. Só trocaria o 88 pelo número 1 na carenagem”.