Road trip nos Alpes com a BMW GS

06/11/2017

A BMW quis comemorar mais uma vez o sucesso comercial da GS1200 no nosso país e este ano decidiu fazê-lo com uma road trip nos Alpes. Uma viagem que atravessou Alemanha, Áustria, Itália e Eslovénia ao longo de mais de 1000 km. Um sonho para um mototurista

Há muitas maneiras de fechar o Verão em beleza, uma delas é fazer uma viagem de moto aos Alpes. Há 20 anos, a única coisa que me interessava era a velocidade e boas curvas, agora como sou um respeitável pai quarentinha, um dos maiores prazeres da vida é viajar de moto, ou como se diz no meio, o mototurismo.

É a segunda vez que a BMW faz um evento para mostrar os argumentos do seu modelo mais bem sucedido de sempre: a R1200 GS. Sozinha, esta moto é responsável por mais de 50% das vendas da BMW Motorrad. A ideia é proporcionar aos jornalistas uma experiência de road trip para comprovar a versatilidade da GS em todo o tipo de terreno. No ano passado, o palco foi São Miguel, nos Açores, este ano o décor mudou para os Alpes.

Quando parti de Lisboa no voo das 6h00 em direção a Munique, só pensava em recuperar horas de sono para conseguir aguentar a primeira viagem que nos ia levar até ao “acampamento base” desta aventura de 3 dias. Depois de levantar a “minha” GS nos arredores de Munique, tenho 250 km pela frente até St. Margarethen, em Lungau, na Áustria, a sul de Salzburgo. Mas com paragem para almoçar no maior lago da Baviera, Chiemsee, onde pude confirmar que existe uma espécie de abelhas viciadas em coca-cola.

A comitiva era composta por nove motocilistas – seis jornalistas, dois elementos da BMW e um fotógrafo. Um engano no caminho levou parte dos meus camaradas a fazer mais uma hora de estrada, o que me permitiu fazer a primeira sesta na relva de uma bomba de gasolina. O generoso almoço e uma hora solitária de sono profundo no avião lembra-me que o cansaço consegue levar a melhor sobre o entusiasmo de andar de moto, e se há coisa que levo muito a sério são os pedidos de descanso do corpinho.

A chegada ao hotel Grizzly apresenta logo a envolvência dos próximos dias: montanhas e vales com várias intensidades de verde, nesta zona de Lungau, que faz parte da Rede Mundial de Reservas da Biosfera da Unesco.

Em 2010, programa de Reservas da Biosfera, mudou o seu enfoque da simples proteção da natureza para o relacionamento entre o desenvolvimento sócio-económico e a conservação da biodiversidade centrando-se na demonstração das boas práticas em matéria de relacionamento entre as populações humanas e o ambiente.

Esquiar ou passear de moto?

O Hotel Grizzly está totalmente orientado para dois tipos de turistas: os que vêm esquiar e os que só querem passear de moto. Como o outono ainda não ofereceu neve à estância local (colada ao hotel), todos os hóspedes são motociclistas. O aluguer de motos é possível, com preços a rondar os 85 euros por dia, assim como guias experientes com percursos previamente preparados para quase todos os gostos.

Às 8h30 da manhã já os nossos dois guias esperavam por nós para o arranque desta aventura, obviamente montados em duas BMW. Logo nos primeiros quilómetros é impossível conter a euforia de estar a desfrutar estradas alpinas com ótimo asfalto, curvas para todos os gostos e paisagens que pedem para abrir a viseira do capacete e inspirar profundamente o ar puro dos Alpes austríacos.

Um dos guias pergunta-nos sobre o nível de experiência dos presentes em off road, eu ia dizer que tinha pouca, mas como ninguém abriu a boca, abracei o silêncio com um ar comprometido. Pouco tempo depois desta conversa, já rolava por caminhos de terra, que atravessam zonas densas de carvalhos, sempre a subir.

Na primeira paragem para um pequeno petisco, uma providencial tábua de queijos e presuntos e pão, o guia diz-me que ainda estamos na Áustria, mas que na próxima paragem para almoçar já vamos estar a pisar solo italiano. Claro que não me apercebi do momento que entrei em Itália pela “porta do cavalo”, mas dei-me conta assim que ouvi o primeiro “prego!” da simpática senhora deste restaurante alpino, semelhante à casa do avô da Heidi. Carbonara e spaghetti à bolonhesa devolveram as forças a um grupo que se mantinha ansioso por continuar a descobrir os Alpes, numa das melhores motos para o efeito. Mais um pouco de fora de estrada, mas com grau de dificuldade reduzido, o que é sempre bom quando o estômago está mais pesado. O conforto e a agilidade da mais famosa das BMW continuam a marcar pontos neste percurso de sonho.

Entrei em Itália pela N110, ainda na zona do Tirol oriental, que se transforma na SS52 a caminho de Timau, província de Udine, e terra de idioma próprio: o cimbra, de origem germânica e difundido nas regiões de Veneto e de Trentino, no norte de Itália.

Atravessamos os Alpes Cárnicos (Carniche, em italiano) – que ganharam este nome graças à província romana de Carnia – sempre em bom ritmo, coisa que o guia percebeu desde cedo ser do agrado deste grupo lusitano. Gozar a paisagem sim, mas sem deixar de explorar a GS em algumas das melhores curvas da Europa. O regresso a estradas austríacas acontece pelas estreitas estradas da do Passo Stalle, uma montanha com 2052 metros, o que obriga a atenção redobrada, porque o ritmo continua muito dinâmico…

Não deixo e pensar na quantidade de gente que atravessou os Alpes, a pé, há milhares de anos. Há provas que os seres humanos atravessaram os Alpes há 5.000 anos. O comércio, a busca de ouro, minerais e novos caminhos de norte a sul atraíram pessoas através dos passeios de montanha. Lendas e mitos cercaram as alturas de fantasmas e bruxas povoadas.

O comércio, a busca de ouro, minerais e novos caminhos de norte a sul atraíram pessoas através dos passeios de montanha. Lendas e mitos cercaram as alturas de fantasmas e bruxas povoadas

No entanto, o início do iluminismo no século XVIII substituiu o medo pela curiosidade. Pesquisadores e cientistas queriam descobrir, medir e entender esse mundo desconhecido. Como não existiam mapas, rotas de cordas marcadas, cabanas de proteção, equipamentos adequados ou mesmo guias de montanha experientes, homens e mulheres corajosos atacaram as montanhas. Eles foram eventualmente seguidos por alpinistas. Não deixa de ser notável, apesar da minha admiração incondicional pelo presente e por um motor de combustão acoplado a um quadro com duas rodas. E nem assim consigo perceber onde estou, com estas trocas de países sem fronteira visível. E tenho um GPS…

Um paraíso chamado Nockalm Road

Com o sol já próximo do grito final, passamos por uma das mais fabulosas e cénicas estradas da Áustria: a Nockalm. São 35 km que conseguem fazer mais em meia-hora do que um psicólogo em 6 meses. A altitude não ultrapassa os 2400 metros e os picos são arredondados, o que dá origem ao nome “Nock’n”. É um cenário indescritível, como todos os que surgem na categoria Holiday Routes desta página https://www.nockalmstrasse.at/na/en/index. Mais do que um caminho ou uma direcão, esta estrada feita em cima de uma moto é uma experiência de vida.

Uma das mais fabulosas e cénicas estradas da Áustria: a Nockalm. São 35 km que conseguem fazer mais em meia-hora do que um psicólogo em 6 meses

As condições da estrada são excelentes, a inclinação moderada e existem parques de estacionamento que convidam a parar, fazer uma breve caminhada ou visitar uma exposição. Além disso, os conta com duas estações de serviço que são também pontos do motociclista. Conduzir na estrada de Nockalm é puro prazer, rolar para cima e para baixo a sentir o ar puro da alta montanha, bem diferente do IC-19 ou da 2ª circular. Há cabanas alpinas e estâncias de montanha ao longo da estrada com possibilidade de se experimentar especialidades da cozinha original da Caríntia, como o Kasnudl, uma massa fresca com queijo.


O regresso ao nosso acampamento base acontece quase de noite e a GS é guardada numa garagem onde estão mais turistas com todo o tipo de motos: naked, desportivas, choppers ou side cars. Há de tudo, mas com um objetivo comum: desbravar as estradas de uma pequena e sedutora secção alpina à volta de Sankt Margarethen im Lungau.

Estrada russa na Eslovénia

Foi fácil adormecer, mas também foi fácil acordar. A ansiedade de mais um dia inteiro em cima de uma GS 1200, sabendo que hoje o percurso incluía os Alpes Julianos, numa visita curta à Eslovénia pela passagem de Vršič, a mais alta deste país, a 1611 metros. Além disso, ia ser o último dia com guia, já que o regresso a Munique já não ia ter a companhia dos dois austríacos, os quais apenas um falava inglês. Como era o que ia à frente, nunca houve problema. E o ritmo mantinha-se intenso, a caravana continuava feliz.

No caminho, cruzamos uma concentração de Harley-Davidson, o que torna a subida para o monte Mangart, uma das mais movimentadas até ao momento. De Kranjska Gora até à passagem de Vršič contam-se cerca de 50 curvas em gancho, é conhecida pela estrada russa em alusão aos 10000 prisioneiros russos de guerra que trabalharam nas obras de melhoramento em 1915. É muito gancho, com o cheiro dos travões sobrepor-se ao perfume alpino, mas nem por isso o ritmo abrandou. O guia ditava a velocidade e a comitiva fazia por obedecer, com inegável prazer.

É muito gancho, com o cheiro dos travões sobrepOr-se ao perfume alpino, mas nem por isso o ritmo abrandou.

Foram cerca de 300 km entre Austria, Eslovènia, Itália e regresso novamente às estradas austríacas pela Strada Provinciale N110, em que as surpresas sucedem-se a cada curva. Quando pensava que já estava cansado de curvas e que já não via com maus olhos um descanso em posição horizontal, voltava a ser desafiado com estradas magnifícas com alcatrão imaculado, sem qualquer trânsito. O “romance”com a minha GS começava a subir de intensidade e já sentia alguma ângustia por saber que no dia seguinte teria que me despedir dela, em Munique. Na verdade, o dia seguinte foi só despedidas: dos nossos guias, do Grizzly, dos Alpes e da GS.

Glaciar Grossglockner

O último dia arrancou como o anterior, sol e temperatura fresca pela manhã, mas que chegaria facilmente aos 25° lá para o meio do dia. Não havia pressa para regressar a Alemanha e a hora do voo dava-nos liberdade para mais uma estrada especial: a rota de Grossglockner. Liga Bruck, no estado de Salzburg, a Heiligenblut na Carinthia e é outra das mais cénicas estradas da Europa com vistas panorâmicas ao longo de 48 km até ao coração do Parque Nacional de Hohe Tauern.

Esta estrada fecha no inverno e só volta a abrir em Maio de 2018, sendo necessário pagar portagem (25 euros, para motos) para se ter acesso. Nesta subida, em direção ao bikers point, a estrada é (mais uma vez) de eleição na forma como combina qualidade do piso, tipo de curvas e vistas deslumbrantes. No entanto, um surpresa espreitava: à medida que nos aproximamos dos 2505 metros de altitude – é a passagem montanhosa de estrada pavimentada mais alta da Áustria -, o nevoeiro surge e a temperatura chega a 1° Celsius, o que não é agradável com luvas de verão. Felizmente, nestas situações, comprova-se que o melhor amigo do homem são os punhos aquecidos e não o cão. Mal via a moto que seguia à minha frente e sempre com piso molhado. Alerta máximo e modo de condução RAIN ativado, o que torna o acelerador mais progressivo e suave na entrega de potência à roda traseira. Uma aventura que não demorou mais do que meia-hora, pois assim que iniciámos a descida, o sol voltou e a temperatura rondava os 24°.

A temperatura chega a 1° Celsius, o que não é agradável com luvas de verão. Felizmente, nestas situações, comprova-se que o melhor amigo do homem são os punhos aquecidos e não o cão

A GS continua a desenhar curvas como se tivesse nascido nos Alpes, é impressionante o equilíbrio desta moto, é tão ágil que disfarça o peso mesmo quando se conduz ao ataque. Isto para não falar do conforto que torna tiradas de 300 km uma brincadeira para crianças adultas. O mais difícil de tudo é regressar a Munique e ter de lidar com trânsito intenso em auto-estrada, o que depois de fazer estradas desertas de sonho, acaba até por ser perigoso. É necessário ligar o alerta máximo e voltar ao modo motocilcista urbano, o que mesmo para quem vive em Lisboa não é fácil. Viajar pelos Alpes de moto é terapêutico, mas numa moto como a BMW GS 1200 é um sonho concretizado. Foram mais de 1000 km, 4 países, 4 depósitos de gasolina, 12 cafés, 4 imperiais e um whisky com gelo.

FICHA TÉCNICA

BMW R1200 GS

Motor: 2 cilindros opostos, 1170 cm3

Potência: 125 cv

Peso: 244 kg

Capacidade do depósito: 20 l

Altura do banco: 850/870 mm (800/820mm com suspensão rebaixada)

Preço: 16 719 €

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