Alemanha e França divididas sobre fim de veículos com motor a combustão

20/03/2023

Bruxelas definiu 2035 como o último ano em que se poderão vender veículos novos térmicos. França aplaude, mas Alemanha quer exceções.

Alemanha e França, as duas principais potências económicas e industriais da União Europeia e os dois principais países fabricantes de veículos na Europa, estão num braço de ferro a respeito da meta definida por Bruxelas de proibição da venda de automóveis novos com motor de combustão interna a partir de 2035.

França é a favor, Alemanha está contra.

O ministro das Finanças da Alemanha, Christian Lindner, qualificou mesmo a posição do governo francês contra os veículos térmicos como “lamentável”.

Apoiada pela Itália e por alguns países do Leste (como República Checa, Polónia, Roménia, Hungria e Eslováquia), a Alemanha suspendeu a aprovação da nova norma até que a Comissão Europeia apresente uma proposta vinculativa que exclua dessa proibição os veículos que funcionam com combustíveis sintéticos.

Esta defesa dos combustíveis sintéticos por parte do governo alemão tem muito que ver com o facto de a Porsche e o Grupo VW terem investido muitos euros no desenvolvimento desta tecnologia.

Contudo, estes combustíveis são hidrolisados de água e dióxido de carbono num processo que pode usar apenas energia sustentável – mas em quantidades muito grandes que os críticos dizem que poderiam ser melhor empregues noutros lugares. Os e-fuel também são muito dispendiosos neste momento, embora os seus defensores refiram que o custo diminuirá com a produção em escala.

O CEO da Porsche, Oliver Blume, vê, por exemplo, os combustíveis sintéticos como uma forma de propulsão livre de carbono para automóveis com motor de combustão, como o icónico 911 no futuro.

“Objetivo não pode ser adiado”

Bruno Le Maire, ministro da Economia da França, foi muito contundente ao analisar a situação: “Não se pode dizer que existe uma emergência climática, que as nossas cidades estão muito poluídas e atrasar a transição para os veículos elétricos. Esse objetivo não pode ser adiado.”

No entanto, segundo o ministro alemão das Finanças, a França não está a levar em conta o facto de que os veículos 100% elétricos são mais caros que os térmicos, o que tornará essa forma de mobilidade menos acessível aos cidadãos.

Le Maire contrapõe, referindo que acredita que a Europa está 5 a 10 anos atrás da China no desenvolvimento de veículos elétricos, portanto mensagens inconsistentes para a indústria europeia devem ser evitadas. “Dizer que vamos eletrificar, mas também ficar um pouco com a combustão interna é economicamente incoerente e perigoso para a indústria. Não é do nosso interesse, não é do interesse dos fabricantes de automóveis e não é do interesse do planeta”.