Teste Audi Q4 e-tron 40: Espaço e equilíbrio

16/05/2023

Esta é, muito provavelmente, a versão mais equilibrada do Q4, um degrau acima da versão de entrada, a 35 (170cv) e distante no preço, das mais potentes, inacessíveis, mas também mais gastadoras 50 e 55.

O SUV médio elétrico da Audi recorre à plataforma MEB, a primeira do grupo VW concebida de raiz para modelos elétricos. Isso quer dizer que o Q4 partilha boa parte das entranhas com os primos VW ID.4 e Skoda Enyaq. As semelhanças param aí, no que está escondido da vista e do toque.

Este é mesmo um Audi, sem qualquer concessão de design ou de qualidade só porque é movido a eletricidade. Já sabíamos, pelos primos, que esta plataforma permite interiores espaçosos. A Audi aproveita muito bem cada milímetro dos 4590 de comprimento total e oferece espaço de sobra, quer em comprimento, quer em largura, para todos os passageiros. Para o quinto, o do meio lá atrás, não está reservado um assento particularmente confortável, mas há a compensação de um fundo completamente plano, sem túnel para a transmissão. A bagageira, apesar de ficar uns litros abaixo do resto da família, permite arrumar até 520 l de volume, um valor perto do irmão mais velho (e maior), o Q5.

 

A qualidade dos materiais e o rigor na montagem soletram Audi, sem margem para grandes dúvidas, tal como o design interior. A posição de condução ideal encontra-se com grande facilidade – os bancos dianteiros são envolventes, tipicamente Audi, e o volante, achatado em cima e em baixo, pode ser regulado com grande amplitude. Sentamo-nos altos o quanto baste para ter uma ótima visibilidade sobre o que se passa em frente e à volta do Q4, e isso é um dos ingredientes para uma condução descontraída e sem sobressaltos.

Comparando o interior com ID.4 e Enyaq, há uma escolha da Audi que merece elogio. Num tempo em que quase todos os construtores caminham para postos de condução cada vez mais “digitalizados”, com comandos espalhados por ecrãs cada vez maiores, menos práticos e mais indutores de distração, a Audi deixou o essencial, como a climatização ou os comandos do sistema áudio, entregue a botões físicos e desenhou o interface digital recorrendo a grandes “botões” virtuais. É mais intuitivo, mais prático e há menos potencial para distrações.

Focando-nos na condução, este Q4 e-tron 40 move-se recorrendo a um motor elétrico que debita 204cv e, mais importante, 310 Nm. Com o motor elétrico instalado no eixo traseiro, o conjunto é sempre suave nas reações, com acelerações bastante aceitáveis para um SUV com mais de 2100 kg (8,5’’ dos 0 aos 100 km/h). Com um baixo centro de gravidade – as baterias compõem a base da plataforma MED -, este Q4 tem um comportamento em curva muito interessante e bastante neutro, nunca perdendo a compostura ou revelando vícios de tração traseira.

Seja qual for o percurso, a nota é de grande conforto, quase sem barulhos parasitas e com o interior bastante bem isolado do mundo exterior. Os consumos são uma das boas surpresas deste Q40, sobretudo em cidade – o habitat natural de qualquer elétrico. Recorrendo a uma bateria de 82 kWh, esta é a versão com maior autonomia da gama Q4. A Audi anuncia até 516 km de autonomia (ciclo WLTP) e um consumo médio de 16,9 kWh/100km, sendo que em ambiente urbano é possível baixar este valor de forma considerável. No final de mais de 300 km com o Q4, num percurso com muita estrada, alguma autoestrada e muito pouca cidade, o computador de bordo anunciava uma média de 18,5 kWh/100km. Não é bom, mas devo confessar que não andei propriamente a pensar em consumos e que o percurso não era o ideal para recordes de gastos com um elétrico.

Por fim, as surpresas menos boas. O preço base do Q40 e-tron 40 está nos 58300 euros, mas a versão que conduzi só parava nos mais de 71 mil devido a uma lista de opcionais relativamente longa. Não é propriamente barato, mas acaba por ser um valor relativamente competitivo quando olhamos para valores de concorrentes diretos.

Texto: Paulo Tavares