Autobianchi A112 Abarth, o último escorpião de Carlo

05/05/2023

A história da Abarth e a sua influência nas mais variadas disciplinas do desporto automóvel, desde os Turismos aos Protótipos, não representará surpresa ou aquisição de conhecimento para qualquer interessado em história automobilística do pós-guerra: do começo na relação com a Cisitalia e na modificação de veículos na década de 50, à construção de veículos desportivos e de competição na década seguinte, o A112 representaria o primeiro modelo a sofrer a picada do Escorpião após a aquisição da marca por parte do Grupo Fiat, sendo também icónico por representar o último modelo no qual Carlo Abarth teve influência directa, responsável pela ponte entre a antiga fórmula de “tudo atrás” para a moderna de “tudo à frente”.

Na década de 60 do século passada, o pequeno Mini logrou a superação superlativa das barreiras aduaneiras, comercializando-se largamente como um veículo atractivo, de bons acabamentos e qualidade, algo que não passou despercebido aos responsáveis de um certo grupo automóvel sediado em Turim. O seu rival directo, o fantástico Fiat 850, ainda com o conceito de “tudo atrás”, não conseguia manter o ritmo de vendas, superado pelo auge do modelo inglês. Foi sobre este preceito que Dante Giacosa, responsável pelo Fiat 500, entre outros êxitos, assumiu a tarefa de desenhar um rival à altura do veículo britânico.

O automóvel veria a luz sob o emblema da Autobianchi, a marca de laboratório que a Fiat utilizava para inovações técnicas específicas, dirigidas a um grande público, como por exemplo, a tracção dianteira e o motor em posição dianteira.

A Fiat apresentaria o Autobianchi A112 no Salão Automóvel de Turim de 1969, pela mão de Dante Giacosa, representando a resposta ideal aos novos Mini. De dimensões superiores, mais sofisticado e mais luxuoso do que o seu concorrente britânico, o A112 tornou-se de imediato num êxito, com uma panóplia de encomendas e longos períodos de espera por entrega a demonstrarem isto mesmo. Práctico, económico, moderno, elegante e ágil, foi companheiro de aventuras de muitos jovens durante o seu fabrico nas décadas de 60 a 80 e um dos incontornáveis ao falar de veículos que permanecem no imaginário da maioria dos conductores europeus, particularmente os italianos.

Numa fase inicial, o A112 surgia equipado com um motor de 900cc, desenvolvendo 44cv de potência dirigidos às rodas dianteiras sob uma caixa manual de quatro velocidades. Seriam disponibilizados diferentes níveis de acabamento, diferindo entre si pela qualidade dos interiores e por alguns detalhes exteriores. O êxito seria imediato, muito em parte pelo preço acessível e pelos baixos consumos, o que chegou a apanhar de surpresa a própria Fiat, que se viu obrigada a aplicar na sua plenitude a fábrica de Desio para responder à demanda, que chegava a provocar períodos de espera de um ano.

Apesar da captura de parte do mercado dos compactos de entrada de gama, a Fiat estava interessada na incorporação de um modelo topo de gama, fazendo total uso da sua mais recente aquisição: nascia assim o A112 Abarth, rival do eterno Mini Cooper, e o último “escorpião”, cuja concepção foi supervisionada pessoalmente por Carlo Abarth.

Usando técnicas que lhe eram tão queridas, a Abarth trabalhou maioritariamente na melhora da performance do motor de quatro cilindros em posição transversal, aumentando a capacidade de 903 para 982cc e modificando diversos componentes-chave. Por forma a maximizar os proveitos do aumento de cilindrada, a conversão mecânica seria completa pela adopção de um carburador de corpo duplo e nova linha de escape. O motor passava a exibir binários mais elevados a baixas rotações, ao invés de máxima potência, desenvolvendo 58cv de potência às 6600 rotações por minuto. Apesar da limitada potência, um peso de apenas 690 kg representava um potencial considerável, representado pela velocidade máxima superior a 150 km/h e 13 segundos a cumprir o sprint aos 100 km/h.

Ao nível de manobrabilidade, o resultado era o esperado: expressão a toda a prova possibilitada pelas dimensões, chassis e suspensões adoptadas.

Mudanças consideráveis foram também concretizadas no interior, com particular destaque para os mostradores, melhorados pela incorporação de um conta-rotações, medidor de corrente e indicador de pressão e temperatura do óleo. Assentos com melhor apoio e um volante em alumínio e pele completavam o upgrade desportivo.

Inicialmente, o A112 Abarth estava apenas disponível em vermelho com capô e listas negras na secção lateral inferior e o nome Autobianchi Abarth destacado na grelha do radiador.

Provou de imediato ser um ágil e soberbo concorrente no segmento, sendo inclusivamente mais eficiente ao nível de consumos comparativamente ao A112 Normale em algumas situações. A derradeira desvantagem surgia sob a forma do sobreaquecimento do óleo, algo melhorado na segunda série, lançada no Salão Automóvel de Genebra de 1973, complementada também com novas cores de carroçaria e assentos reclináveis com descansos de cabeça ajustáveis. A dianteira sofreria também uma actualização notável através da substituição do para-choques e contorno dos faróis cromados por plástico negro. Novas jantes de liga e vidro traseiro aquecido correspondiam a extras bem-vindos.

Já na terceira série, iniciada em 1975, a maior inovação seria a implementação de um novo motor de 1059cc a produzir 70cv de potência, variante esta comercializada junto com a de 58cv, mas que já alcançava os 160 km/h.

Nas séries subsequentes, apenas a variante 70 HP estaria disponível, com a incorporação assinalável de aumento de comprimento para integrar cinco lugares e alteração de caixa de velocidades que passaria de quatro para cinco marchas na quarta e quinta séries, respectivamente.

A produção terminaria em 1985 após a venda de mais de 121 mil unidades ao longo do período de quase 15 anos. A variante Abarth representou um sucesso dentro do sucesso, com cerca de 10% da totalidade dos A112 fabricados a sofrerem a picada do escorpião. No total seriam fabricadas 1.311.322 unidades, sendo o testemunho passado ao Lancia Y10.

Pela natureza do emblema que envergava, a competição automóvel não se desassociou do A112, especialmente nos ralis, com o Grupo Fiat a decidir criar um troféu monomarca para jovens pilotos. A conversão dos A112 para variante do troféu incluiria rollbar, sistema de extinção de incêndios, luzes adicionais e proteção do cárter de óleo, o que representava um acréscimo monetário reduzido pela oportunidade de competir num troféu promissor.

O Troféu A112, que tomava lugar em provas nacionais italianas e internacionais, demonstrou ser a forma perfeita para promover o A112 Abarth e desenvolver jovens talentos como Attilio Bettega, Gianfranco Cunico, Fabrizio Tabaton, Vittoria Caneva, Michele Cinotto e Michelle Mouton.