Automóveis e Autorrádios: A simbiose perfeita

05/05/2023

Todos nós, que apreciamos a cultura automóvel, sabemos o quão especial é rodar a chave do nosso clássico e sair sem destino definido, num passeio sem pressas, por estradas secundárias. Para além do automóvel propriamente dito, existe todo um lifestyle associado a esta práctica, bem como os mais variados acessórios, tanto para o condutor como para o veículo. No que diz respeito a acessórios para o automóvel, possivelmente o autorrádio afigura-se como o mais importante de todos eles, sendo a companhia perfeita para as viagens.

Actualmente, qualquer automóvel recente dispõe de verdadeiros sistemas multimédia, com uma parafernália de funções, sincronização com a maioria dos aparelhos tecnológicos, internet, entre outras “modernices”. Mas nem sempre foi assim. Se recuarmos até aos anos 30 do século XX, altura em que foram lançados os primeiros autorrádios, estes vieram transformar a experiência a bordo do automóvel, antes animada apenas pelo som dos ruidosos motores da época.

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Nos primórdios do autorrádio, a banda de frequência AM era e foi a norma durante muito tempo, até que a Blaupunkt, no ano de 1952, lançou o primeiro autorrádio FM, embora esta banda só viesse a substituir verdadeiramente a antiga AM durante os anos 60, o que juntamente com a passagem das válvulas para os transístores, foram a primeira de muitas evoluções nesta área.

Apesar das evoluções do autorrádio, durante muito tempo o condutor esteve restricto às músicas e conteúdos que as estações de rádio decidiam emitir. Exceptuando experiências pontuais, tais como o autorrádio com leitor de vinil nos anos 50, foi com o aparecimento dos autorrádios com leitor de cartuchos (stereo8) que o condutor passou a ter controlo sobre a música que queria ouvir naquele momento, naquela viagem, naquele estado de espírito, embora a qualidade de som fosse algo duvidosa. As cassetes compactas, lançadas pela Philips em 1964, revelavam uma qualidade áudio bastante superior e um tamanho reduzido face aos cartuchos, mas devido principalmente ao elevado preço dos leitores, a norma continuou a ser o cartucho até aos anos 70.

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Os primeiros anos da década de 70 foram a época onde o autorrádio passou de mero “ruído de companhia” a um equipamento com alguma qualidade audiófila. O aparecimento dos autorrádios stereo, de colunas com qualidade de som aceitável ao invés da típica coluna única colocada ao centro do tablier e dos equalizadores, fizeram as delícias dos automobilistas e respetivas famílias, que nesta época já davam importância à qualidade e funções destes aparelhos.

Já nos anos 80, uma vasta oferta de autorrádios invadiu o mercado, através de marcas bem conhecidas à época, como por exemplo a Blaupunkt, a Becker, a Pioneer ou a Kenwood, as quais trouxeram para o mundo automóvel tecnologia até então restrita a aparelhagens hi-fi domésticas. Com o preço crescente de muitos destes autorrádios, adquiridos por valores consideráveis, foi também por esta altura que apareceram os primeiros sistemas de segurança, tais como os autorrádios de face destacável e com código de segurança.

A década de 90 trouxe-nos novamente uma revolução, desta vez por culpa da massificação do compact disc ou CD. A diferença de qualidade de som destes para as cassetes era considerável, para além da comodidade acrescida, uma vez que não era necessário rebobinar a fita para ouvir novamente a nossa música favorita. Enquanto o CD não foi a norma nos autorrádios, era bastante comum vermos a unidade de cassetes no tablier, complementada por uma caixa de CD’s no porta-luvas, debaixo do banco do passageiro ou na bagageira. Devido à superior qualidade de som vimos a oferta de amplificadores, subwoofers e colunas aumentar consideravelmente em quantidade e qualidade, de forma a tirar o máximo proveito das potencialidades do CD.

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Desde o início do milénio até aos dias de hoje muita coisa mudou. Actualmente, a conectividade é imperativa para a maioria das pessoas e as marcas de automóveis desenvolvem soluções integradas de áudio, onde o CD deu lugar ao MP3, inserido através de portas USB, Bluetooth ou Internet. Uma vez que os sistemas de som auto atuais não possuem medidas standard e estão dissimulados no próprio tablier do automóvel, tal facto impossibilita ou dificulta bastante a troca do sistema de áudio por outro aftermarket.

É verdade que os leitores MP3 permitem armazenar milhares de músicas e criar playlists muito facilmente, mas tal como os automóveis modernos, considero que também os autorrádios perderam a sua essência e carácter. Tanto num caso como noutro, podem até estar melhores do que nunca, mas tirar o automóvel clássico da garagem, arrancar e ligar o autorrádio, rodando o botão redondo em busca do posto de rádio perfeito para a ocasião, ou tirar a cassete do porta-luvas, rebobiná-la e voltar a ouvir o hit que adoramos, é toda uma experiência que a modernidade nos tirou, e são estes episódios que nos fazem recordar e valorizar o mundo dos clássicos.

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