Biocombustíveis são oportunidade de negócio e de descarbonização para o país. E já existem

22/05/2023

Emanuel Proença, presidente da Associação de Bioenergia Avançada, diz que não há descarbonização dos transportes sem descarbonização do Diesel. E para a descarbonização do Diesel, os biocombustíveis são uma ferramenta já ao dispo

 

No âmbito da 1st European B+ Summit, conferência europeia dedicada aos biocombustíveis, cuja primeira edição aconteceu no Centro de Congressos do Estoril, Emanuel Proença, Presidente da Prio e da ABA – Associação de Bioenergia Avançada, mostrou, de modo simples, mas elucidativo, como é que os combustíveis de nova geração podem contribuir para a descarbonização da economia.

Descarbonizar transportes = descarbonizar economia

A 1st European B+ Summit foi uma organização da ABA – Associação de Bioenergia Avançada, EBB – European Biofuels Board e EWABA – European Waste and Advanced Biofuels Association.

Para quem considera que é uma hipérbole fazer relacionar de modo tão direto a descarbonização da economia com os transportes, Emanuel Proença apresentou aos mais de 400 decisores e players de relevo na indústria dos transportes e combustíveis presentes nesta conferência, alguns números bastante ilustrativos.

Assim, por tipo de combustível e considerando todas as categorias de viaturas, os veículos a gasóleo permanecem largamente maioritários no total do parque automóvel português circulante, à conta de décadas em que foram a opção preferida dos portugueses.

Apesar de, nos últimos anos, nas vendas de ligeiros de passageiros ter havido já uma alteração do “status quo”, com as viaturas a gasolina e de novas energias a superarem a quota dos Diesel, a realidade, é que 80% da mobilidade rodoviária em Portugal é gasóleo. E 60% corresponde a transportes pesados, de mercadorias ou de passageiros, aponta Emanuel Proença.

Emanuel Proença (Fotografia: Telmo Miller)

Por isso, para o responsável da ABA, a conclusão é de que “não há descarbonização [dos transportes e da economia] sem que haja descarbonização do Diesel”.

A questão é, portanto, como fazê-la no imediato.

Atendendo a que o caminho da mobilidade 100% elétrica não é realisticamente possível de alcançar no imediato por todos os proprietários de veículos, particulares ou empresas, aquilo que está mais ao alcance a curto prazo, indica a ABA, é a utilização de combustíveis verdes.

E por combustíveis verdes entendem-se combustíveis produzidos a partir de lixo e outros resíduos, como óleos alimentares usados, manteigas, margarinas e molhos rejeitados, não conforme ou fora de validade, lamas resultantes do tratamento primário das águas residuais, industriais e urbanas, palhas, glicerina bruta e até de borras de café em biocombustíveis.

São combustíveis que têm um impacto ambiental menor e não têm consequências no preço dos alimentos uma vez que não substituem outras colheitas.

“Os biocombustíveis avançados são altamente complementares à mobilidade elétrica#, defende Emanuel Proença.

“COMBUSTÍVEIS VERDES PODEM SER OPORTUNIDADE ECONÓMICA PARA PORTUGAL”

Segundo Emanuel Proença, para além de contribuem para a promoção da economia circular, os combustíveis verdes podem, inclusive, ser uma oportunidade económica enorme para Portugal, cruzando, a esse propósito, duas estatísticas: por um lado, o facto de se gerarem em Portugal perto de 6 mil milhões de quilos de resíduos por ano; por outro lado, para alimentar os veículos que circulam nas estradas portuguesas são necessários cerca de 6 mil milhões de litros de combustível.

Emanuel Proença (Fotografia: Telmo Miller)

E a correlação de “1 kg de resíduos ser quase igual a 1 litro de combustível” permitiria descarbonizar o setor dos transportes, ao mesmo tempo que se criava “uma oportunidade de negócio, se produzíssemos mais combustíveis verdes”, salienta Emanuel Proença.

O responsável da ABA diz que é um potencial que ainda está subaproveitado, dado que, atualmente, no que diz respeito aos óleos alimentares usados, por exemplo, apenas 25 a 30% destes resíduos orgânicos são aproveitados.

Para evidenciar a dimensão do negócio que poderia aqui estar em cima da mesa, Emanuel Proença afirma que o valor económico associado à circulação de todos os veículos em Portugal representa na ordem de 100 mil milhões de euros, o que é cerca de 50% do PIB nacional. “É muito dinheiro e valor acrescentado”.

“Devia eliminar-se a norma de 7%. Incorporação de biocombustível devia ser no mínimo de 10%”, refere especialista da Prio
Também presente na 1st European B+ Summit, Anabela Antunes, diretora de Operações da Prio Biocombustíveis, sublinha que os biocombustíveis conseguem reduzir em 80% os Gases de Efeito de Estufa quando comparados com o gasóleo tradicional. E atendendo a que os motores dos veículos estão habilitados a receber sem quaisquer problemas um combustível com uma incorporação “verde” de 10%, em vez dos 7% fixados pela legislação, esta especialista defende que faria sentido “eliminar da lei a norma de 7%. Seria uma forma de rapidamente incrementar os biocombustíveis, com tofos os benefícios ambientais decorrentes disso”.
Anabela Antunes (Fotografia: Telmo Miller)
“Não devemos fechar a porta a diferentes tecnologias. Devemos manter a pluralidade de soluções. Acredito na viabilidade de um mix energético para dar resposta à descarbonização de toda a economia e não apenas dos transportes”, afirma Anabela Antunes que refere que “vamos continuar a ter uma frota automóvel que precisa de ser alimentada com combustíveis líquidos. E os combustíveis líquidos renováveis já estão cá, já existem”.

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