Em 2013, cerca de um ano depois de a Tesla ter lançado o Model S nos EUA, a BMW apresenta ao mundo um automóvel elétrico mais adequado ao mercado europeu. Infelizmente, o i3, apesar de ser revolucionário em muitos aspetos, nunca ganhou a tração necessária para a marca cumprir a promessa de mais modelos, com base na mesma plataforma, e diferentes carroçarias. Só recentemente, e sobretudo no mercado de usados o i3 parece ter vindo a receber a atenção há muito merecida.

Com a descontinuação do i3 no passado mês de julho, a BMW parece ter dado um passo atrás na sua estratégia para a eletrificação, apostada agora mais numa linha de continuidade da sua oferta, do que insistir em modelos disruptivos como o também já descontinuado coupé híbrido i8.

O i4 é construído sobre a mesma base utilizada nas versões equipadas com motores de combustão, e ainda partilha muitos componentes com eles. Isto permite reduzir consideravelmente os custos de produção, para além de não ser necessária uma linha de montagem dedicada.

A versão M50, embora não seja um “M” genuíno, tem a “mão” da divisão desportiva Motorsport

A versão M50, aqui testada, embora não seja um “M” genuíno, tem a “mão” da divisão desportiva Motorsport. O resultado é a integração de um motor elétrico em cada eixo (258 cv+313 cv), para uma potência combinada de 544 cv, tração integral, e uns massivos 795 Nm de binário. Tudo isto permite uma performance digna de um verdadeiro “M” ao demorar 3,9 segundos dos 0 a 100 km/h (é mais rápido do que o M3 Competition), e atingir 225 km/h de velocidade de ponta, limitada eletronicamente.

A pintura Frozen Portimão, (uma homenagem ao autódromo na cidade Algarvia), é um extra que custa 2 800 euros, e não é a melhor opção para quem queira passar despercebido no trânsito, (fomos abordados várias vezes enquanto fazíamos a sessão fotográfica). Mas há outras alternativas para quem queira ser discreto.

A vida a bordo não é nada difícil, e qualquer pessoa que já tenha conduzido um BMW recente vai sentir-se perfeitamente à vontade dentro do i4 M50. Os comandos estão onde se espera. O novo iDrive está mais intuitivo de operar, e toda a informação é mostrada num painel curvo com dois ecrãs: um para o quadrante de instrumentos, e outro para o infoentretenimento. Perderam-se os botões físicos para a climatização, mas o controlo da temperatura está sempre presente na base do ecrã.

A qualidade da montagem e dos materiais é irrepreensível, os bancos dos lugares da frente são extremamente confortáveis e fornecem o apoio necessário nas mudanças de direção. No banco de trás, apesar de ter três lugares, apenas dois adultos farão uma viagem longa confortavelmente. O lugar do meio é penalizado pelo túnel de transmissão que deixa o ocupante sem um lugar natural onde colocar os pés.

Temos à disposição três modos de condução: Eco, Comfort e Sport, mais um modo Individual que é ajustável ao gosto de cada um. Já a regeneração permite optar entre os modos: adaptativo, elevado, médio e baixo, que permite a condução com apenas um pedal no modo mais agressivo.

Numa utilização diária, o i4 M50 é confortável e silencioso

Numa utilização diária, o i4 M50 é extremamente confortável, graças à suspensão adaptativa, e silencioso por causa do nível de insonorização. A ausência de ruído, é preenchida por uma “banda sonora” reproduzida através do sistema de som, que foi criada pelo compositor Hans Zimmer.

Tem a aceleração típica de um carro elétrico que nos “cola” ao banco quando pisamos o acelerador. Especialmente no modo Sport Boost, que é pena só durar 10 segundos de cada vez. Se a aceleração impressiona, a travagem não desilude, e mesmo não sendo carbocerâmicos, como no M3 Competition, os travões também são capazes de nos “colar” ao banco quando são “chamados” a intervir. A quantidade de aderência proporcionada pelos pneus Pirelli P-Zero, montados nas jantes opcionais de 19 polegadas garantem um ritmo verdadeiramente impressionante sempre que optamos por estradas secundárias.

Os engenheiros da Motorsport conseguiram manter a frente do i4 M50 com a mesma precisão do M3, apesar de acusar mais 520 kg na balança. A verdade é que não sentimos o peso adicional, mesmo curvando muito rápido. A equilibrada repartição de peso entre eixos 48% à frente, e 52% atrás, juntamente com a calibração da suspensão com barras estabilizadoras, tornam muito fácil a inserção em curva. É também previsível o deslizar do eixo posterior que a tração integral, mas predominantemente traseira vai permitindo. As coisas só ficam complicadas se desligarmos as ajudas eletrónicas, passando a exigir um doseamento milimétrico do acelerador à saída das curvas.

A bateria de iões de lítio tem uma capacidade efetiva de 80,7 kWh, e pode ser carregada a 200 kW, demorando 31 minutos, num posto ultrarrápido dos 10 aos 80%. Já numa wallbox doméstica de 7,4 kW são precisas cerca de 11h. Segundo a marca permite até 510 km de autonomia em modo (WLTP).

Já se sabe que a autoestrada é a “kryptonite” dos carros elétricos, pois é onde se circula a uma velocidade mais elevada, e onde, por norma existem menos oportunidades para aproveitar o efeito de regeneração.

Em vez do teste típico em ambiente urbano que normalmente é onde se conseguem os melhores valores de autonomia, decidimos testar o i4 M50 num ambiente menos favorável, e fizemos uma viagem que nesta altura do ano muitos portugueses fazem em autoestrada.

Saímos de Oeiras com a bateria carregada, e, cumprindo o limite legal de velocidade com a climatização ligada durante a viagem, passados 287 km chegámos ao destino, em Almancil, no Algarve, com 10% de carga, e um consumo de 24,3 kWh. Procuramos um carregador rápido, e fomos almoçar. Uma hora e vinte seis minutos, foi quanto demorou a repor os 70 kWh gastos, que teve um custo de 42,62 euros com a aplicação Miio. Poderia ter custado um pouco menos através de um contrato mais vantajoso com outro fornecedor, mas ainda assim foi bem mais barato que seria atestar o depósito de gasolina do congénere M3.

O i4 M50 é uma proposta mais conservadora do que o i3 e o i8, e segue a receita clássica da marca: é imediatamente reconhecido como um BMW e a versão elétrica complementa a oferta de motorizações para o modelo.

Ficha técnica:

BMW I4 M50
Motor: dois motores, corrente continua e sem escovas (258 cv+313 cv)
Potência: 544 cv
Binário máximo: 795 Nm
Bateria: iões de lítio, 83,9 kWh (80,7 kWh efetivos)
Transmissão: integral, velocidade única
Aceleração 0-100 km/h: 3,9 segundos
Velocidade máxima: 225 km/h (limitada)
Consumos: combinado – 19/24 kWh/100 km
Carregamento: 200 kW -10/80%, 31 minutos; wallbox 11 kW, oito horas e meia
Dimensões: c/l/a – 4,783/1,852/1,448 metros
Bagageira: 470/1 290 litros
Peso: 2 290 kg
Preço: 91 461 euros

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AVALIAÇÃO
Qualidade geral
9,5
Prestações
9,5
Espaço
8
Segurança
9,5
Condução
9,5
Consumos
7,5
Preço/Equipamento
8,5