Como conseguirá Europa eliminar a sua dependência externa para produzir baterias?

29/05/2023

No Fórum Nissan da Mobilidade Inteligente também estiveram em análise a “guerra” global pelos minerais, as energias renováveis e a integração da informação
No Fórum Nissan da Mobilidade, James W. Mills, consultor especialista em minérios críticos para a produção de baterias, alerta para o défice de matérias-primas que deixará a europa numa situação mais frágil.

 

Um dos painéis da 7ª edição do Fórum Nissan da Mobilidade Inteligente foi intitulado “Energia, Armazenamento, Infraestruturas e Conectividade” e um dos oradores convidados – James W. Mills, Consultor Principal da Benchmark Minerals Intelligence, abordou a questão de saber se vamos ter capacidade para produzir as baterias que vão ser precisas, quem as vai produzir e a que custos.

Especialista no estudo da disponibilidade das matérias-primas necessárias à produção de baterias e nas implicações geoestratégicas das atuais capacidades de mineração e de produção em todo o mundo, James Mills começou por relembrar que a procura para baterias deverá crescer 90% até ao final da corrente década.

James Mills

Embora esta quase duplicação da procura não se irá dever apenas ao setor automóvel (estão incluídas na estatística as baterias para armazenamento estacionário de energia ou para a produção de dispositivos eletrónicos portáteis como, por exemplo, computadores ou telefones), é o setor automóvel que sustentará a maior fatia do crescimento.

James Mills considera que o rápido desenvolvimento tecnológico vai fazer evoluir a procura de minerais críticos, porque aqueles que serão necessários para as futuras gerações de baterias não serão os mesmos que atualmente.

E que, por essa via, todos os atores incluindo os fabricantes de automóveis devem fazer uma monitorização permanente de forma a antecipar as futuras necessidades, quer em termos de disponibilidade das matérias-primas, quer no fabrico das baterias.

James Mills refere que “a Europa, através do Critical Raw Materials Act, e os EUA, através do Inflation Reduction Act, provam que têm consciência do atual défice de ambas as regiões na cadeia de valor das baterias. Há uma verdadeira situação de concorrência entre as regiões, mas o plano dos EUA, por ser mais concreto, parece estar a levar a melhor face à Europa”.

Nas suas previsões, James Mills mostra que, até ao final da década, os EUA devem eliminar o atual défice de capacidade de produção de baterias e de recurso aos minerais críticos, enquanto a Europa deverá manter um significativo défice de praticamente 50% das suas necessidades, o que provoca uma situação de grande dependência de mercados externos, nomeadamente, da China.

James Mills defende que os fabricantes europeus de automóveis devem, rapidamente, criar parcerias com produtores de matérias-primas de forma a garantir as cadeias de abastecimento no futuro e diversificar as fontes de abastecimento, orientando-se para a América do Sul, sul de África e Sudoeste Asiático onde comprovadamente existem depósitos dos minerais raros (como níquel, cobre, cobalto) que são necessários.

James Mills

O aumento das capacidades de mineração localizadas no continente europeu não constitui, segundo James Mills, uma solução viável de curto prazo porque “os estudos geológicos e de viabilização económica e a criação da capacidade de exploração de uma nova mina, demoram entre 5 a 15 anos, o que é incompatível com a evolução tecnológica e com a necessidade da Europa de eliminar a sua dependência externa”.

Para além da questão do acesso às matérias-primas, James Mills aponta ainda “a absoluta necessidade de os construtores europeus de automóveis alargarem este tipo de parcerias à atividade de fabrico de baterias de modo a não deixar a responsabilidade e a cadeia de valor nas mãos dos seus parceiros de outros continentes, minimizando os riscos sobre o futuro da sua atividade”.

A manterem-se estas previsões, James Mills estima que, o mais natural é que a Europa consiga produzir em 2035 apenas metade dos automóveis totalmente elétricos que a regulamentação europeia estabelece, comprometendo assim os objetivos de descarbonização.