Quanto mais conectados estamos, em casa, no telemóvel ou no carro, mais expostos estamos a ataques levados a cabo por “crackers”, piratas informáticos que invadem os sistemas de segurança dos veículos.

Os avanços tecnológicos na área da segurança automóvel são inquestionáveis, mas a digitalização e a conectividade abriram portas a novas formas de criminalidade. Utilizando nos veículos sistemas que se podem “hackear”, a tecnologia torna possível que lhe entrem no carro parado à porta de casa, através da simples codificação do sinal da chave, por exemplo.

O problema não é novo. Os órgãos de segurança cibernética vêm alertando os construtores de automóveis para este fenómeno desde 2010, quando surgiram os primeiros veículos conectados. E, nos últimos tempos, têm sido mais frequentes os ciberataques no mundo automóvel, não apenas relacionados com a possibilidade de se assumir o controlo total de um veículo de forma remota, mas também com casos de ataques às bases de dados das marcas ou outros que levaram mesmo à parar a produção em fábricas, com muitos milhões de prejuízo.

Um relatório recente do Consumer Watchdog confirma que «o problema das tecnologias da indústria é que os sistemas críticos para a segurança destes veículos estão a ser conectados à Internet, sem a segurança adequada e sem a opção de desconectá-los em caso de ataque informático». O perigo existe.

E o mesmo estudo, que contou com a participação de alguns ‘piratas’ informáticos, atualmente ao serviço do setor, conclui que um ataque em larga escala, numa das grandes capitais do mundo, poderia causar a morte a milhares de pessoas, entre automobilistas, peões e todos os outros utilizadores da via pública, incluindo vítimas que se veriam privados de assistência numa cidade totalmente paralisada.

Defesa contra piratas

Com a cada vez maior preponderância da tecnologia e sistemas do género nos veículos, a possibilidade de se assistir a um cenário de pirataria automóvel ganha alguma força, conforme explica Asaf Atzmon, diretor de negócio e maketing para a área automóvel da Harman, empresa que já desenvolveu um sistema em que a tecnologia integrada no veículo pode ativar um modo ‘hacker’ e defender-se da tentativa de ataque por parte de uma entidade externa que queira controlar remotamente o veículo. “Há alguns anos, o conceito de cibersegurança automóvel estava largamente confinado aos peritos da indústria. Agora é um tópico pelo qual os consumidores fazem perguntas”, explica o especialista.

Para garantir a máxima segurança do setor, os fabricantes de automóveis e as empresas na cadeia de fornecimento investem agora na criação de softwares de proteção de dados e em equipas de especialistas na deteção e antecipação de eventuais falhas e vulnerabilidades nos sistemas.

Crackers, quem são?

Convencionou-se que há uma diferença entre um hacker e cracker, na medida em que o objetivo deste último é danificar sistemas e computadores. Com acesso à tecnologia do seu carro, o cracker poderá aceder a todos os seus dados. Através da ligação à Internet, pode descobrir o número de telefone do proprietário do veículo, nome, endereço de e-mail e morada; seguir todos os seus itinerários e viagens habituais, controlar várias funções do carro, desde o ar condicionado à eletrónica do sistema de travagem; abrir e fechar portas, ligar ou parar o motor e manipular o funcionamento do sistema de navegação.

Para travar a sua atividade criminosa, existem diferentes certificados que auditam os sistemas de segurança de um veículo, como o ISO/SAE 21434 ou o Regulamento UNECE/R155. Esta norma, que entrou em vigor em janeiro de 2021, determina que todos os veículos homologados a partir de julho de 2022 e todos os que forem vendidos a partir de julho de 2024 tenham certificado de veículo cibersegurança. Certifique-se que o seu carro novo cumpre.

Defenda-se de um ciberataque?

Tomar consciência de que nenhum automóvel moderno é inviolável é importante. Dependendo do nível de digitalização, o modelo que conduz todos os dias será mais ou menos vulnerável. A única forma de reduzir o risco de ser surpreendido em caso de ataque informático é manter-se informado e alerta. Há, no entanto, algumas recomendações por parte dos fabricantes:

-Software atualizado: Na maioria das vezes, as atualizações são criadas para cobrir as lacunas de segurança cibernética. Mantenha o software do seu carro atualizado com as versões fornecidas pelo fabricante.

-Verificar antes de conectar: ​​os dispositivos USB podem ser o “cavalo de Tróia” mais comum quando se trata de instalar software malicioso. É essencial usar com frequência o antivírus em qualquer dispositivo USB antes de o conectar ao seu carro.

-Shutdown: Todas as conexões são portas de entrada e saída. Desligue o Wi-Fi e o Bluetooth quando não estiver em uso. Não se esqueça de controlar a quem faculta as senhas de acesso aos serviços disponíveis no seu veículo.

-Cuidado com os downloads: O smartphone está a assumir cada vez mais funções. Controle com mais atenção todos os programas e as aplicações que descarrega, qualquer uma pode ser usada como “cavalo de Tróia” para obter o controlo do seu carro.

-Proteja as chaves: A frequência das chaves utilizadas nos denominados sistemas ‘keyless’ está a ser replicada pelos assaltantes, que conseguem copiar o código em proximidade da chave e depois, aceder ou utilizar o veículo como se fossem eles mesmo detentores da chave original. Já existem em comercialização carteiras para guardar as chaves “mãos-livres” próprias para anular o envio do sinal quando este não está a ser necessário.

-Descubra o OBD2: É uma porta de comunicação que permite diagnosticar, programar ou codificar vários dispositivos eletrónicos. É muito importante saber onde está e o que tem associado – algumas seguradoras oferecem dispositivos que se conectam ao OBD2 para estudar hábitos de condução e assim adaptar o preço do seu seguro. É uma porta muito tentadora para os piratas.