Texto: Eduardo Rodrigues
Além da pintura “Preto Ónix” há detalhes exteriores “escurecidos”, incluindo os logos da marca, à frente e atrás, jantes de 20” em preto lacado, e um interior também nesta cor – embora tenham aqui sido deixados alguns elementos cromados, talvez para quebrar o que poderia ser considerado um excesso monocromático.
A ironia de tudo isto é que nada desta transformação tornou o carro mais, digamos… discreto. Pelo contrário: eram muitos os pescoços a virarem-se à nossa passagem. Com este tratamento, o EC40 (a versão com um look mais desportivo do EX40, também ele disponível em Black Edition) passou a ser mais agressivo. Mas assenta-lhe bem, claramente.
As limitações da plataformaEsta versão do Volvo EC40 pode querer ser muitas coisas, exceto uma: passar despercebido
Há muito para gostar neste carro. E, para quem não quiser ler até ao fim, até deixamos já aqui as duas coisas mais negativas: o preço de quase 60 mil euros (o que só é negativo para quem queira comprar o EC40 e esperasse poder adquiri-lo por menos dinheiro, claro) e o espaço para os passageiros no banco traseiro.
Ainda aqui há pouco escrevemos sobre o KGM Torres EVX, um SUV bem diferente e que, apesar de não ser produzido a partir de uma plataforma 100% pensada para criar um carro elétrico de raiz, disfarça bem o facto, sem que tal crie problemas aos ocupantes do veículo.
Infelizmente, tal não acontece aqui. Esta é uma máquina concebida a partir de um veículo a combustão de tração traseira e, apesar de não ser necessário qualquer veio de transmissão para levar o movimento do motor ao eixo de trás, o túnel de transmissão mantém-se. O resultado é um banco de trás onde apenas podem viajar confortavelmente duas pessoas.
Contudo, se isso não é um problema para si, há muito aqui para agradar ao feliz proprietário desta máquina. Até porque encontramos aqui algo que mesmo muitos carros elétricos produzidos de raiz numa plataforma EV muitas vezes esquecem: um prático “frunk” (bagageira frontal) de dimensões generosas e bem protegida por uma tampa de plástico sob o capot.
O software usado pelo EC40 é semelhante ao que encontramos noutros modelos Volvo da mesma geração, incluindo os seus irmãos a combustão, e totalmente diferente do sistema de nova geração que equipa, por exemplo, o novo EX30. Enquanto o deste é baseado no novo Andoid Automotive, o do EC40, apesar das apps e serviços Google incluídos, oferece bastante menos funções. No entanto, a sua funcionalidade é perfeitamente adequada e, nalguns aspetos, é até melhor do que a do EX30, nomeadamente no facto de que temos direito a um ecrã atrás do volante, a par de imensos controlos físicos para as funcionalidades mais utilizadas.
A este nível, existem vários aspetos que positivos que são muitas vezes esquecidos em sistemas mais atuais – num veículo em movimento, a simplicidade é algo preferível a termos de navegar em sub-menus para aceder a algo que, ainda por cima, volta frequentemente para os “defaults” sempre que ligamos o veículo.
Na prática, o que temos aqui neste sistema é o que 99% dos condutores procuram; controlos simples para acesso às funcionalidades multimédia e… Google Maps integrado, para a navegação.
Outro ponto positivo: os sistemas ADAS são, neste modelo, pouco intrusivos e facilmente desligáveis.
Começámos por dizer que este não é um EV criado de raiz, mas isso é algo que esquecemos rapidamente quando nos sentamos ao volante e carregamos no acelerador. Em termos de condução, o EC40 oferece tudo o que pedimos de um EV e até muitas coisas que outros construtores, noutros modelos, esquecem.
É o caso da condução com um só pedal. O sistema implementado neste Volvo é muito simples, sem graus de regeneração para escolher – apenas ligado, desligado ou automático, com manutenção do modo escolhido mesmo após desligarmos o carro – e é muito bom.
A entrega de potência é extremamente suave e o algoritmo que controla a regeneração em travagem é excelente, com uma curva de aplicação da força de travagem regenerativa que oferece uma maior agressividade abaixo dos 50 km/h, sem recorrer ao pedal do travão. Além disso, e ao contrário de muitos modelos atualmente no mercado, bem mais recentes que o EC40, conseguimos mesmo parar totalmente – mesmo em descidas! – apenas levantando o pedal do acelerador.
E, por falar em acelerar, essa é efetivamente a vontade que temos sempre que nos sentamos ao volante do EC 40 Black Edition: este é um SUV relativamente pequeno (menos de 4,5m) e, apesar da sua altura (cerca de 1,60m), as baterias ajudam a manter o centro de gravidade baixo, o que favorece o comportamento dinâmico.
Na prática, este é um daqueles carros que sentimos que “andam sobre carris”, qualquer que seja a velocidade a que estejamos a andar. E que no EC40 está limitada eletronicamente a 180 km/h. Valor que, diga-se de passagem, se atinge sem esforço e num piscar de olhos.
O carro vem equipado com uma bateria de 82 kW/h (79 utilizáveis) que, em termos de autonomia, oferece 573 km em modo misto (cidade/estrada) e mais de 740 Km em cidade (números de referência WLTP). O sistema elétrico oferece até 11kW em corrente AC trifásica e 175kW em DC (CCS2), o que permite recarregar o carro de 10% a 80% em menos de meia hora.
Veredito
Sentimos saudades do EC40 Black Edition quando o fomos devolver à Volvo. É daqueles carros que oferecem tudo – espaço, prazer de condução, estética – praticamente sem compromissos. Disponível a partir de 59.298 euros.