Grupo Renault cortará dois mil milhões de euros nos próximos três anos

29/05/2020

REFILE - CORRECTING CITY Renault Chairman Jean-Dominique Senard attends a joint news conference in Yokohama, Japan, March 12, 2019. REUTERS/Kim Kyung-Hoon
Depois de seis meses particularmente adversos, agravados pela pandemia, o Grupo Renault anunciou, hoje, pela voz de Jean-Dominique Senard, CEO da empresa, um plano de redução de custos fixos, com vista a assegurar a competitividade da empresa a longo prazo.

Dois mil milhões de euros. Este é o valor do corte previsto pelo Grupo Renault para os próximos três anos. O plano de redução de custos fixos foi apresentado, esta manhã, em conferência de imprensa online, e pretende assegurar a “competitividade” da empresa num contexto particularmente complicado para a indústria automóvel, empenhada na necessária e obrigatória transição ecológica e a enfrentar uma forte crise provocada pelo novo coronavírus. Jean-Dominique Senard, Presidente do Conselho de Administração da Renault, assumiu que a pandemia veio “agravar problemas já existentes” e que todas as “decisões foram difíceis, mas muito bem pensadas e tendo sempre em conta as pessoas envolvidas”.

Segundo revelou o CEO, “o projeto de plano permitirá reforçar a resiliência da empresa, privilegiando a geração de cash flow e apoiando-se numa nova abordagem, mais eficaz, das atividades operacionais e numa rigorosa gestão dos recursos. Este projeto de plano pretende lançar as bases para o desenvolvimento perene do Grupo Renault”.

Redefinir estratégia

Em França, a estratégia articula-se em torno de áreas cruciais e relacionadas com o futuro da indústria: “veículos elétricos, veículos comerciais ligeiros, economia circular e inovação de grande valor acrescentado”. Serão estes os principais pilares do plano da Grupo Renault, que reorganizará ainda as atividades da fábrica de Flins e do Tecnocentro de Guyancourt.

O plano prevê um ajustamento dos efetivos, através de medidas de reconversão, de mobilidade interna e de saídas voluntárias com uma duração de três anos. Em França, serão abrangidos cerca de 4.600 postos de trabalho, aos quais se adicionará a redução de mais outros 10 000 no resto do mundo. “Sempre através de um diálogo com os parceiros sociais e com as autoridades locais”.

Para Jean-Dominique Senard, o plano de restruturação é uma prova de vida. “Tenho toda a confiança nas nossas capacidades e pontos fortes, nos nossos valores e na direção da empresa para levar a cabo esta necessária transformação e para elevar, através deste plano, o valor do nosso Grupo. As evoluções projetadas são fundamentais para assegurar a perenidade da empresa e o seu desenvolvimento a longo prazo. Será coletivamente, e com o apoio dos nossos parceiros da Aliança, que seremos capazes de atingir os nossos objetivos e de fazer do Grupo Renault um ator principal na indústria automóvel, nos próximos anos. Temos plena consciência da nossa responsabilidade, e a transformação apenas poderá ser atingida respeitando todas as entidades do Grupo e no quadro de um diálogo social exemplar”, afirmou.

Clotilde Delbos, Diretora-Geral interina da Renault, por sua vez, focou-se no grande cenário da indústria. “Num contexto incerto e complexo, este projeto é vital para garantir um desempenho sólido e sustentado, tendo como prioridade a satisfação dos nossos clientes. Ao tirarmos partido dos nossos vários pontos fortes e dos recursos tecnológicos do Grupo Renault e da Aliança, reduzindo a complexidade de desenvolvimento e de produção dos nossos automóveis, vamos gerar economias de escala para restabelecer a nossa rentabilidade e assegurar o desenvolvimento em França e no resto do mundo. Este projeto deverá permitir que encaremos o futuro com confiança”, disse.

Fazer as contas

Conforme anunciado, hoje, pelo Grupo Renault, o projeto de restruturação passará pela “melhoria da eficácia” e pela “redução dos custos de engenharia, beneficiando das competências da Aliança, em cerca de 800 milhões de euros”. Trata-se, neste contexto, de reduzir a “diversidade dos componentes, aumento da standardização e programas Leader – Follower da Aliança. Passa ainda pela

otimização dos recursos: “concentração do desenvolvimento das tecnologias estratégicas e de forte valor acrescentado nas unidades de engenharia de Ile-de-France (Paris); otimização dos centros de Investigação & Desenvolvimento no estrangeiro e da subcontratação; otimização dos meios de validação de processos, com uma utilização crescente dos meios digitais”.
A otimização do aparelho industrial implicará uma economia de 650 milhões de euros. As medidas, nesta área, passam pelo seguinte plano: “Aceleração da transformação das fábricas, através da generalização dos ‘utensílios’ da indústria 4.0, melhoria dos processos nos novos projetos de engenharia: acelerar a digitalização e o ‘design to process’, redimensionar as capacidades industriais; capacidade mundial de produção passa de 4 milhões de veículos, em 2019, para 3,3 milhões até 2024 (referência Harbour); ajustamento dos efetivos de produção, suspensão dos projetos de aumento de capacidade previstos para Marrocos e Roménia, estudo para adaptação da capacidade de produção do Grupo na Rússia, estudo para a racionalização da produção de caixas de velocidades a nível mundial. Mas não só. “A Renault vai estudar a criação de um polo para a produção de veículos elétricos e comerciais ligeiros no norte de França, que envolve as fábricas de Douai e de Maubeuge”. E existe ainda uma “reflexão aberta” sobre a “reconversão da fábrica de Dieppe aquando do término da produção do Alpine A110”. Para a fábrica de Flins, prevê-se “a criação de um ecossistema de economia circular que inclua a transferência das atividades da unidade de Choisy-le-Roi”.

A maior eficiência das funções de suporte poupará cerca de 700 milhões de euros. “Otimização dos custos gerais e de marketing: reduzir os custos de marketing através da digitalização, racionalização da organização e redução dos custos relacionados com as funções de suporte”.

Por fim, o grupo recentrará as atividades de modo a otimizar os seus recursos. “A recentragem do grupo sobre as suas atividades primordiais conduzirá a uma alteração do seu perímetro de atuação e em particular: em parte da rede de distribuição do RRG (Renault Retail Group) na Europa; na transferência da participação do Grupo Renault na Dongfeng Renault Automotive Company Ltd (DRAC) na China para a Dongfeng Motor Corporation e término das atividades ligadas aos veículos térmicos, sob a marca, Renault no mercado Chinês”. Segundo o Grupo Renault, o custo estimado de implementação deste plano rondará os 1,2 mil milhões de euros.