As marcas automóveis já começaram, há vários anos, a transição energética para atingir emissões zero na próxima década. Investiram em tecnologia, em novas unidades industriais, em recursos humanos e preparam-se para deixar de comercializar gamas de combustão. Com um parque automóvel com uma idade média de cerca de 13 anos, Portugal precisa todavia de mais incentivos para que os particulares acedam a veículos menos poluentes.

Os representantes da Renault (Ricardo Lopes), Ford (João Ferro), Hyundai (Ricardo F. Lopes), Alfa Romeo, Fiat, Jeep, Abarth (marcas da Stellantis, Pablo Puey), Volkswagen, Audi, Seat, Škoda, Bentley, Lamborghini, Volkswagen, Cupra (da SIVA, Rodolfo Schimd) e Volvo (Paulo Pragana) debateram, esta quinta-feira de manhã, a “Mobilidade Elétrica: Ciclo de Produto e Inovação”. Todos concordaram que não é por falta de oferta que os portugueses mantêm carros com idades superiores a 10 anos (43% tem entre 10 e 20 anos e só 8% têm menos de dois anos).

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“Na Ford, a partir de 2026, toda a gama de passageiros será 100% plug-in ou elétrica, passando a 100% elétrica (2/3 no caso dos veículos comerciais) em 2030”, anunciou João Ferro.

A Volvo aponta também para 2030 como o ano em que passará a vender apenas veículos elétricos, a Renault compromete-se a tal em 2035 e as restantes marcas estão também a aumentar investimentos nesse sentido, com a Hyundai a explorar ainda as soluções a hidrogénio verde.

Desafios a contrarrelógio

O problema, explicaram, está no custo da tecnologia em tão pouco tempo.

“A tecnologia é mais cara quanto mais depressa tem de ser colocada no mercado. E investir e produzir para um mercado [como o português] que não tem capacidade para pagar a tecnologia precisa de incentivos”, apontou Ricardo Lopes, diretor geral da Renault em Portugal. A renovação de um parque automóvel como o nacional, em que apenas 5% são elétricos, pelo agravamento fiscal sobre as restantes tecnologias “seria um erro e tiraria oportunidade ao mercado de aceder a emissões mais baixas”, por isso “a Renault vai continuar a ter oferta” nos segmentos mais representativos para a procura existente.

O administrador da SIVA em Portugal, Rodolfo Schimd, notou que “temos dois desafios, um para agora e outro para o futuro: hoje, com um parque automóvel com quase 13 anos, qualquer medida de incentivo à renovação de frota é prioritário: não é preciso soluções novas e tem efeitos imediatos nas emissões de CO2 e na segurança rodoviária; no futuro, temos de saber para onde queremos ir, que carros queremos ter, que infraestrutura de carga temos de possuir e que energia vamos usar, que tem de ser competitiva”. Em resumo, “tem de haver incentivos suficientes para que o mercado ande para onde queremos que vá e para isso é preciso uma estratégia e medidas claras”.

Paulo Pragana, da Volvo, concordou com a necessidade de uma “abordagem holística, mais concertada e com todos os stakeholders”, referindo como entraves a “falta de metas, com datas, e a falta de dinheiro” para incentivos. Ao contrário de outros países europeus, lamentou, “Portugal não deu prioridade à descarbonização no Plano de Recuperação e Resiliência”. A Volvo, por sua vez, “já desde 2017 que não produz blocos diesel” e está comprometida a reduzir as emissões ao longo da cadeia de fabrico, desde os fornecedores, para atingir a neutralidade de emissões em 2040.

Comparando com os apoios espanhóis de 400 milhões de euros para a transição para veículos elétricos, “Portugal tem 4 milhões, dos quais só 2,1 milhões para automóveis, o que significa que falta muito dinheiro”, sublinhou Pablo Puey. O responsável da Stellantis lembrou que “este apoio pessoas e as empresas que têm um parque automóvel contaminado e não é correto aumentar impostos sobre os veículos mais velhos”. Os apoios ao abate e os benefícios fiscais para empresas são fundamentais para completar pacotes de incentivos.

Tornar a tecnologia acessível

“Em Portugal, a mudança para elétrico tem sido por consciência fiscal, mais do que ambiental”, acrescentou Paulo Pragana. Com a retirada de incentivos fiscais às empresas, no ano passado, e aos híbridos em geral, o governo português “foi no sentido contrário ao necessário”, denunciou Ricardo Lopes. “O Fit for 55″ também determina que o contexto fiscal deve favorecer a transição, algo que Portugal não tem e até os incentivos foram no sentido oposto”, acrescentou.

A indústria automóvel tem feito investimentos na última década e o produto tem vindo a tornar-se mais acessível ao consumidor final, mas ainda não está ao nível de preço de um veículo poluente. Será preciso mais tempo, defendem as marcas, para atingir esse patamar.

“Seria mais eficaz estender o prazo e potenciar outras tecnologias [potencialmente mais baratas] porque se não podemos criar um problema à mobilidade das pessoas”, alertou Ricardo F. Lopes, COO da Hyundai Portugal. Até 2025, a marca lançará 44 novos veículos totalmente elétricos.

Para que a tecnologia seja cada vez mais acessível, a Volkswagen tem estado a apostar na redução de custos, desde novas fábricas na Europa que permitirão ganhar economia de escala, até à reciclagem de baterias. A Hyundai está a produzir baterias na Europa para reduzir preços.